Leitura de notícia
O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 23-03-2018 - 06:16 -   Notícia original Link para notícia
Brasil tem trégua no aço

Mas EUA reforçam ofensiva contra a China, impondo tarifas sobre US$ 60 bi em produtos do país



"Vamos retaliar. Se querem jogar duro, vamos jogar duro, e veremos quem vai durar mais tempo" Cui Riankai Embaixador da China nos EUA



O Brasil se livrou da sobretaxa do aço nos EUA enquanto negocia isenção permanente. Donald Trump anunciou ontem ofensiva contra a China, com tarifas sobre US$ 60 bilhões em importados, alimentando temor de guerra comercial. -BRASÍLIA, SÃO PAULO E WASHINGTON- O Brasil se livrou, ao menos por enquanto, da sobretaxa imposta pelos Estados Unidos ao aço e ao alumínio importados. A trégua foi oficializada ontem para países que ainda negociam com o governo americano uma isenção permanente da cobrança - Canadá, México, Austrália, Argentina, Coreia do Sul e União Europeia também foram beneficiados. A medida, no entanto, não representa mudança na estratégia protecionista do presidente Donald Trump. No mesmo dia em que concedeu esse alívio, o republicano anunciou uma ofensiva contra a China que prevê tarifas de 25% sobre US$ 60 bilhões em produtos importados do gigante asiático, principalmente tecnológicos. O movimento já era esperado, mas levou tensão aos mercados, que temem efeitos de uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.



ARQUIVOEstratégia protecionista. Siderúrgicas brasileiras temem surto de importações, pois haverá aumento de estoques excedentes



A folga temporária para as siderúrgicas brasileiras já havia sido considerada por Washington na quarta-feira, quando o presidente Michel Temer chegou a comemorar a decisão. A confirmação oficial, no entanto, só veio ontem. Em uma audiência no Senado americano, o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, explicou que se trata de uma "pausa" na cobrança das taxas.



- O presidente Donald Trump decidiu dar uma pausa na imposição das tarifas em relação a esses países - disse Lighthizer a parlamentares. GUERRA COMERCIAL DERRUBA BOLSAS O decreto de Trump prevê sobretaxa de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio importados pelos EUA. Para os países que não conseguiram isenção, as novas regras valem a partir de hoje.



No Brasil, a isenção foi recebida com cautela por governo e representantes dos dois setores. Há, pelo menos, duas razões para isso. Uma é que permanece a ameaça de surto de importações desses produtos, pois haverá um aumento dos estoques excedentes no mundo. O outro é que as negociações tendem a ser bastante duras nos próximos 30 dias, com expectativa de barganhas e concessões em várias áreas pelo governo brasileiro.



- Pedimos de novo ao presidente Temer que ele telefone para Trump para solicitar a exclusão definitiva do Brasil da sobretaxa - afirmou Marco Polo Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil.



Enquanto negocia essas isenções para os exportadores de aço, Trump se volta para o principal foco de sua política de comércio exterior, ao anunciar a esperada ofensiva contra a China. A ação é focada em dez segmentos, como robótica, veículos elétricos e equipamento aeroespacial. O montante de US$ 60 bilhões representa o total de produtos chineses desses setores importados pelos EUA em um ano. A lista completa de itens que devem sofrer a tarifa será divulgada pelo governo americano em até 15 dias. O plano também prevê restrições para transferências de tecnologia e aquisições feitas por empresas de capital chinês. A ideia é pressionar Pequim para interromper práticas de comércio consideradas injustas. RETALIAÇÃO CHINESA No anúncio, Trump disse que o decreto era "o primeiro de muitos". E explicou que se trata de uma resposta ao que a Casa Branca considera "agressão" à economia americana. A imposição de tarifas é fruto de investigação de sete meses tocada pelo Escritório de Comércio dos EUA (USTR) sobre violações de propriedade intelectual. Segundo o órgão, a China praticou uma série de condutas indevidas, como obrigar empresas americanas a transferirem tecnologia, além de acessar informações confidenciais por meio de ataques de hackers.



Como importam muito mais do que exportam para a China, os EUA têm um déficit comercial com o país asiático de US$ 375 bilhões.



- É o maior déficit entre países na História mundial. Está fora de controle - afirmou Trump, que descartou que se trate de uma provocação aos chineses. - Vejo eles como amigos. Tenho tremendo respeito pelo presidente Xi (Jin Ping, da China).



Provocação ou não, a China já anunciou que vai reagir. O país planeja impor tarifas a US$ 3 bilhões em importados dos EUA, do aço à carne de porco.



- Vamos retaliar. Se querem jogar duro, vamos jogar duro, e veremos quem vai durar mais tempo - disse o embaixador da China nos EUA, Cui Riankai, em vídeo na página da embaixada no Facebook.



O tom foi confirmado pelo comunicado oficial de Pequim. Segundo a agência estatal Xinhua, a China tomará "todas as medidas necessárias" contra a ação imposta por Trump.



A troca de acusações deixou os mercados nervosos. O Dow Jones, nos EUA, recuou 2,93%, maior queda em dois meses. Em pontos, o recuo foi de 724, o quinto maior já registrado. Na Europa, o dia também foi de perdas. O DAX, de Frankfurt, caiu 1,70%, e o CAC 40, de Paris, teve desvalorização de 1,38%. No Brasil, o Ibovespa fechou em queda de 0,25%. Já o dólar comercial avançou 1,25%, a R$ 3,31.



A ofensiva contra a China é vista com cautela por vários setores. Na terça-feira, uma associação de varejistas americanos chegou a enviar uma carta a Trump pedindo que o presidente reconsiderasse a medida, temendo alta de preços. Mesmo empresários que reconhecem as violações da China na área de propriedade intelectual alertam que a medida pode causar mais danos que benefícios.



- Empresas americanas querem ver soluções para esses problemas, não apenas sanções com tarifas unilaterais - disse John Frisbie, presidente do Conselho de Negócios EUA-China. *Correspondente em Washington




Nenhuma palavra chave encontrada.
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.