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O Tempo ( Economia ) - MG - Brasil - 22-03-2018 - 03:00 -   Notícia original Link para notícia
Após 26 anos, Soho vai fechar as portas em Belo Horizonte

Preferência pelo celular derruba a tradição dos jogos de tabuleiro do bar; cidade perde também o sebo Shazam, inaugurado em 1969
Chope liberado até que o primeiro cliente vá ao banheiro. A promoção, que durante anos lotou o Soho, no bairro Funcionários, vai deixar saudades. Após 26 anos de tradição, sendo 21 deles na rua Tomé de Souza, o bar onde as pessoas se divertiam com jogos de tabuleiro e "montanhas" de batata frita se prepara para fechar as portas.

Com pesar, o proprietário Fábio Ferreira Lima, 57, anuncia que as atividades ainda serão mantidas nos próximos dois meses, e explica que o motivo do fechamento vai muito além da crise. "É a mudança de hábitos nesses novos tempos. Hoje os jogos não chamam mais a atenção das pessoas, que chegam em um bar e já pegam o celular. As pessoas já não interagem mais", justifica.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 116 milhões de pessoas estão conectadas à internet, o que dá 64,7% da população com idade acima de 10 anos do Brasil. Nove em cada dez acessos vêm de um smartphone.

O avanço da tecnologia e a revolução dos hábitos também estão por trás do fechamento de outras tradicionais lojas de Belo Horizonte. O sebo Shazam, inaugurado em 1969 no edifício Maletta, no hipercentro de Belo Horizonte, fechou no mês passado.

O dono, Ronaldo Lima, 78, explica que passou o ponto porque pretende realizar projetos pessoais, mas afirma que o público mudou muito. "As vendas caíram demais com o aumento da compra de livros pela internet. E o perfil dos compradores também mudou. Se antes as pessoas liam obras inteiras para fazer uma tese, agora elas leem capítulos xerocados indicados pelos orientadores", comenta. A loja está sendo reformada para abrigar um novo sebo.

Outra loja fechada recentemente é a Copiadora Brasileira, que funcionou durante 40 anos na avenida Afonso Pena, no centro. O vice-presidente da de Belo Horizonte (-BH), , explica que algumas causas de fechamento não têm relação só com a crise. "Independentemente do momento econômico, os hábitos mudam e o negócio tem tempo de duração", afirma.

Segundo ele, a incentiva que o empresário esteja atento, busque inovação e não perca o timing para mudar. "Mas é uma decisão difícil para o proprietário que criou a família com aquele negócio e ajudou a criar as famílias dos funcionários", destaca.

História do bar

1992: Recém-chegado de Nova York, onde estudou dança, Fábio inaugura o bar na rua Santa Rita Durão. Os amigos levavam jogos e, assim, a ideia começou.

1997: O Soho é transferido para a rua Tomé de Souza, no Funcionários.

Carro-chefe: O bar ficou famoso pela promoção do sino. Quando ele tocava, o chope era liberado até o primeiro ir ao banheiro.

FOTO: Paulo Fonseca - 1.1.1999

Gerações de estudantes de BH passaram pelo Shazam no Maletta

Decisão foi difícil e demorou quatro anos

Desde a Copa do Mundo de 2014, o movimento no Soho já não era mais o mesmo. Nesse período, o empresário Fábio Ferreira Pinto vinha amadurecendo a ideia de fechar o bar. A decisão foi tão difícil que demorou o tempo de uma outra Copa. "Os costumes das pessoas foram mudando, as dívidas do negócio foram crescendo. Os gastos com pessoal e manutenção da casa são altos. Eu tive que demitir muita gente. É uma decisão muito difícil, né?", diz, quase chorando.

A casa, que comporta 250 pessoas, chegou a lotar em noites de pico. Fábio, que já trabalhou com 22 funcionários, hoje mantém apenas seis, todos já informados do encerramento. Ari Correia Gomes, que trabalha no local há 20 anos, é um deles. Ele recebeu a notícia com tristeza e emoção. "Comecei aqui com 22 anos e vou ficar até o último dia", diz. Fábio Pinto vai guardar os 86 jogos de tabuleiro da casa, e também não pretende vender os objetos que decoram o local.


Palavras Chave Encontradas: Câmara de Dirigentes Lojistas, CDL, Marcelo Souza e Silva
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