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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 18-03-2018 - 11:51 -   Notícia original Link para notícia
Brasileiro convive com juro alto na dívida e retorno baixo na aplicação

Mercado prevê que Selic caia a 6,5%, mas taxa do cartão ainda é de 300%



O gerente predial Edivaldo Grosso, de 63 anos, vive um drama financeiro. Com salário mensal de R$ 2.500, acabou recorrendo a dois cartões de crédito para fechar as contas. Só que, como os juros nessa modalidade estão atualmente em 320% ao ano, sua dívida saltou, em apenas seis meses, de pouco mais de R$ 2.500 para R$ 6 mil. Para não ter seu nome incluído em lista de inadimplentes, Edivaldo foi obrigado a renegociar e dividir o débito em 12 meses para não ter o nome incluído em listas de inadimplentes. Atualmente, ele paga parcelas mensais de R$ 630, ou seja, 25% de sua renda estão comprometidos por causa da dívida com os cartões de crédito.



EDILSON DANTAS Juros altos. Edivaldo Grosso se endividou no cartão: "Não vejo chegar ao bolso dos cidadãos essa queda das taxas"



- Nunca fiz cálculo de juros. Mas não vejo chegar ao bolso dos cidadãos essa queda das taxas que o governo vem promovendo - queixa-se Edivaldo.



Muitos brasileiros têm essa percepção. A taxa básica de juros (Selic, referência para o sistema bancário) passou de 14,25% ao ano, em outubro de 2016, para 6,75% hoje - e a expectativa é que, na próxima quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, reduza a Selic a 6,5%, um novo mínimo histórico.



Economistas e especialistas ouvidos pelo GLOBO avaliam que o país tem condições de manter esse nível de juros por um período prolongado - o que também é uma novidade -, mas, apesar disso, os brasileiros ainda têm de conviver, em seu dia a dia, com taxas de juros exorbitantes, em muitos casos superiores a 300% ao ano. O juro só caiu mesmo para quem investe: as aplicações de renda fixa estão cada vez menos atraentes.



Segundo especialistas, o cartão de crédito e o cheque especial, cujos juros também giram em torno de 300% ao ano, são considerados "pontos fora da curva" e devem se ajustar. Pressionados pelo governo, os bancos prometem adotar novas regras para o cheque especial, reduzindo juros para evitar que a dívida dos clientes se transforme em uma bola de neve. A ideia é que essa modalidade de crédito seja usada por um tempo limite, evitando os chamados "juros sobre juros". Com o mesmo objetivo, o governo também determinou mudanças nas regras do rotativo do cartão de crédito.



BRADESCO: RITMO DIFERENTE



O novo presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, disse ao GLOBO que os juros ainda estão altos em algumas modalidades de crédito porque os bancos reduzem suas taxas em uma velocidade diferente da queda da Selic. Ele argumenta que há um estoque de empréstimos que carregam taxas mais elevadas, de períodos em que a inadimplência e a Selic eram mais altas. Mas Lazari assegura que os bancos já começam a repassar a queda de juros aos consumidores:



- Os números do Banco Central mostram que os bancos já reduziram em cinco pontos percentuais a taxa de juros ao consumidor, na média. Eu não vou falar do cheque especial, porque ele é um ponto fora da curva. No Bradesco, por exemplo, nós temos R$ 500 bilhões em ativos de crédito e R$ 4 bilhões no cheque especial. Ou seja, é menos de 1% da carteira. Então, ele é uma exceção.



Para um país que já teve juros de 3.000% ao ano, conviver com taxas de um dígito significa uma forte mudança estrutural. Analistas lembram que isso só é possível em um cenário de estabilidade econômica, longe da inflação descontrolada que o Brasil viveu até a démais cada de 1990. A recessão dos últimos anos permitiu ao BC promover cortes seguidos na Taxa Selic, sem risco de alimentar a inflação. Para os brasileiros, dizem os especialistas, vem agora uma fase de adaptação - tanto do ponto de vista do investimento, quanto do planejamento financeiro, para a compra da casa própria, por exemplo.



- Este ciclo de juros baixos será o mais duradouro que o país teve, já que a inflação atualmente está se mantendo abaixo de 3% - avalia Tatiana Pinheiro, economista do banco Santander, que espera alta da Selic somente no segundo semestre de 2019, encerrando o ano que vem em 8,25%, com inflação em torno de 4%.



Quem pesquisa o mercado de crédito com cuidado já consegue encontrar juros mais baixos. No crédito imobiliário, por exemplo, alguns bancos já oferecem taxas entre 9% a 9,5% ao ano. Há dois anos, esses juros giravam em torno de 12%. Para quem contratou o financiamento com taxa de 12%, os especialistas recomendam recorrer à portabilidade, ou seja, migrar a dívida para um banco que tenha um juro menor, ou até mesmo negociar com a própria instituição uma redução da dívida.



- Esse tipo de renegociação vale para qualquer tipo de dívida, não só o crédito imobiliário - observa Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor de pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).



Já do ponto de vista do investimento, os especialistas são unânimes: quem quiser um retorno melhor terá de correr riscos. O casal Fabiana Han e Victor Hugo Alves guarda R$ 2 mil por mês para comprar a casa própria. Os dois já têm R$ 180 mil e esperam dar uma entrada de R$ 300 mil. Para isso, no entanto, será preciso sair do conforto das aplicações mais conservadoras.



ATENÇÃO COM A APOSENTADORIA



Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro e especialista de investimentos do banco Ourinvest, lembra que, hoje, um fundo DI - aplicação que é atrelada aos títulos públicos corrigidos pela Selic e a mais conservadora do mercado - rende muito pouco. No mês passado, o retorno foi de 0,38%, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), menos que a poupança, que rendeu 0,40%.



- Com juros baixos, será preciso correr um pouco mais de risco ao investir. Por exemplo, os fundos multimercados (que investem em vários ativos, como ações, câmbio e títulos públicos) ofereceram 12,7% nos últimos 12 meses - diz Calil.



Também muda a perspectiva de longo prazo para quem planejava se aposentar aplicando em planos que contêm apenas títulos públicos atrelados à Selic. Para Oliveira, da Anefac, quem mantiver os recursos nesses produtos mais conservadores terá de fazer aportes maiores a partir de agora para garantir a renda que projetou quando os juros estavam mais altos:



- Outra alternativa é aplicar uma parte dos recursos em ações, que podem ter um retorno melhor a longo prazo.


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