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Isto é Dinheiro online ( Entrevistas ) - SP - Brasil - 10-03-2018 - 10:42 -   Notícia original Link para notícia
Os dados são o novo petróleo 


Fábio Braga


Rodrigo Loureiro
Edição 09.03.2018 - nº 1060


A Intel já formou, ao lado da Microsoft, uma dupla quase imbatível. Tanto que, nos anos 1990, a parceria foi apelidada de Wintel por dominar a computação pessoal. A Intel fabricava os chips. A Microsoft desenvolvia o sistema operacional Windows. Os dois produtos eram o coração e a alma dos PCs. Mas a computação móvel e em nuvem, bem como de serviços de internet, fizeram com que novos competidores ganhassem os holofotes, como Amazon, Google e Facebook. "Não é que não estamos mais na vanguarda", afirma Maurício Ruiz, presidente da Intel no Brasil. "Hoje somos uma empresa de dados e com negócios diversificados que vão desde os componentes para os PCs até os data centers." Nesta entrevista, Ruiz, que está há 19 anos na Intel - e apenas dois à frente da subsidiária brasileira -, fala sobre internet das coisas, 5G e de como a tecnologia pode melhorar a gestão pública, ajudando na construção de cidades inteligentes. Acompanhe:


DINHEIRO - A Intel surgiu no fim dos anos 1960 como uma empresa de vanguarda e durante anos fez uma parceria de sucesso com a Microsoft, sendo a dupla mais inovadora do mundo nos anos 1990. Atualmente, a companhia não aparenta mais ter essa característica. O que aconteceu?


RUIZ - Não é que não estamos mais na vanguarda. A diferença é que o consumidor conhecia a nossa marca por causa dos computadores. Hoje somos uma empresa de dados e com negócios diversificados que vão desde os componentes para os PCs até os data centers. Trabalhamos de ponta a ponta.Existem muitos dispositivos gerando uma alta quantidade de dados que precisam ser capturados, armazenados e processados. Os dados são o novo petróleo e nós já temos a tecnologia para refiná-los.


DINHEIRO - Entre os mercados que a Intel trabalha, qual se destaca mais?


RUIZ - Nossa maior unidade ainda é a destinada aos componentes para computadores. Lá, movimentamos cerca de US$ 33 bilhões. Os data centers cresceram bastante e já representam US$ 19 bilhões. A produção de chips de memória se mostrou expoente em termos de crescimento e já nos rende US$ 3,5 bilhões. A internet das coisas, com US$ 3 bilhões, também já se tornou um mercado relevante nos últimos anos.


DINHEIRO - Como a Intel enxerga o Brasil?


RUIZ - Enxerga como uma das dez maiores economias do mundo. Temos um setor financeiro extremamente atraente para as empresas de tecnologia e um mercado de óleo e gás grande, que precisa de investimentos de computação. Há, ainda, muitas outras carências que podem ser minimizadas com o auxílio da tecnologia. O Brasil tem um potencial de crescimento imenso.


DINHEIRO - As empresas brasileiras de tecnologia não estão preparadas para lidar com essas carências?


RUIZ - Temos uma política no Brasil na qual você tem de manufaturar produtos e componentes aqui no País. Se a empresa não tem uma escala para produzir, tem de importar. Mas, se faz isso, o equipamento sai da Lei da Informática e, consequentemente, acaba sendo taxado com mais impostos. São percalços financeiros que atrapalham as empresas brasileiras.


DINHEIRO - Essas iniciativas para a produção local são os únicos fatores que atrasam o crescimento das empresas brasileiras?


RUIZ - O Brasil é um país bastante regulamentado. Toda vez que vamos lançar algo, temos de olhar toda a regulamentação para ver o que é ou não permitido. Para quem trabalha com a venda de produtos para o consumidor final é ainda mais complicado pela cascata de impostos.


DINHEIRO - Faltam profissionais de tecnologia no Brasil?


RUIZ - Sim. Falamos muito hoje sobre inteligência artificial. Mas se você perguntar em qualquer empresa se é fácil encontrar profissionais de inteligência artificial, elas te dirão que não. Precisamos de mais pessoas ligadas à ciência. Não é só difícil, por exemplo, achar cientistas de dados no mercado. É difícil também encontrar profissionais que dominem o idioma inglês.


DINHEIRO - Como lidar com o problema de oferta e demanda de profissionais?


RUIZ - Não existe uma fórmula mágica, mas investimento continuado. Nos Tigres Asiáticos (Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan), por exemplo, as decisões que hoje estão rendendo frutos em relação aos avanços tecnológicos foram tomadas a 30 anos, 40 anos atrás. É preciso que o País tenha um direcionamento estratégico.


DINHEIRO - E no curto prazo?


RUIZ - No curto prazo é complicado, porque não existem ações pontuais e miraculosas que vão resolver essa questão. A primeira coisa que precisa ser feita é colocar as pessoas na escola. Existem grandes faculdades de engenharia no Brasil e é preciso acelerar a aproximação dos estudantes com as empresas de tecnologia.


DINHEIRO - A crise econômica que o Brasil atravessou e que prejudicou os investimentos em ciência e tecnologia também atrapalhou?


RUIZ - Existe uma racionalização de gastos para algumas coisas. Não adianta tapar o sol com a peneira. Se você tem um problema de caixa, você tem de economizar. É preciso ser conservador. Falta, porém, enxergar a tecnologia como um elemento estratégico para o crescimento e não apenas como um acessório. O Brasil tem muitos problemas e tenta resolvê-los com soluções do século 20 em vez das do século 21.


Os dados são o novo petróleo 


Fábio Braga


Rodrigo Loureiro
Edição 09.03.2018 - nº 1060


A Intel já formou, ao lado da Microsoft, uma dupla quase imbatível. Tanto que, nos anos 1990, a parceria foi apelidada de Wintel por dominar a computação pessoal. A Intel fabricava os chips. A Microsoft desenvolvia o sistema operacional Windows. Os dois produtos eram o coração e a alma dos PCs. Mas a computação móvel e em nuvem, bem como de serviços de internet, fizeram com que novos competidores ganhassem os holofotes, como Amazon, Google e Facebook. "Não é que não estamos mais na vanguarda", afirma Maurício Ruiz, presidente da Intel no Brasil. "Hoje somos uma empresa de dados e com negócios diversificados que vão desde os componentes para os PCs até os data centers." Nesta entrevista, Ruiz, que está há 19 anos na Intel - e apenas dois à frente da subsidiária brasileira -, fala sobre internet das coisas, 5G e de como a tecnologia pode melhorar a gestão pública, ajudando na construção de cidades inteligentes. Acompanhe:


DINHEIRO - A Intel surgiu no fim dos anos 1960 como uma empresa de vanguarda e durante anos fez uma parceria de sucesso com a Microsoft, sendo a dupla mais inovadora do mundo nos anos 1990. Atualmente, a companhia não aparenta mais ter essa característica. O que aconteceu?


RUIZ - Não é que não estamos mais na vanguarda. A diferença é que o consumidor conhecia a nossa marca por causa dos computadores. Hoje somos uma empresa de dados e com negócios diversificados que vão desde os componentes para os PCs até os data centers. Trabalhamos de ponta a ponta.Existem muitos dispositivos gerando uma alta quantidade de dados que precisam ser capturados, armazenados e processados. Os dados são o novo petróleo e nós já temos a tecnologia para refiná-los.


DINHEIRO - Entre os mercados que a Intel trabalha, qual se destaca mais?


RUIZ - Nossa maior unidade ainda é a destinada aos componentes para computadores. Lá, movimentamos cerca de US$ 33 bilhões. Os data centers cresceram bastante e já representam US$ 19 bilhões. A produção de chips de memória se mostrou expoente em termos de crescimento e já nos rende US$ 3,5 bilhões. A internet das coisas, com US$ 3 bilhões, também já se tornou um mercado relevante nos últimos anos.


DINHEIRO - Como a Intel enxerga o Brasil?


RUIZ - Enxerga como uma das dez maiores economias do mundo. Temos um setor financeiro extremamente atraente para as empresas de tecnologia e um mercado de óleo e gás grande, que precisa de investimentos de computação. Há, ainda, muitas outras carências que podem ser minimizadas com o auxílio da tecnologia. O Brasil tem um potencial de crescimento imenso.


DINHEIRO - As empresas brasileiras de tecnologia não estão preparadas para lidar com essas carências?


RUIZ - Temos uma política no Brasil na qual você tem de manufaturar produtos e componentes aqui no País. Se a empresa não tem uma escala para produzir, tem de importar. Mas, se faz isso, o equipamento sai da Lei da Informática e, consequentemente, acaba sendo taxado com mais impostos. São percalços financeiros que atrapalham as empresas brasileiras.


DINHEIRO - Essas iniciativas para a produção local são os únicos fatores que atrasam o crescimento das empresas brasileiras?


RUIZ - O Brasil é um país bastante regulamentado. Toda vez que vamos lançar algo, temos de olhar toda a regulamentação para ver o que é ou não permitido. Para quem trabalha com a venda de produtos para o consumidor final é ainda mais complicado pela cascata de impostos.


DINHEIRO - Faltam profissionais de tecnologia no Brasil?


RUIZ - Sim. Falamos muito hoje sobre inteligência artificial. Mas se você perguntar em qualquer empresa se é fácil encontrar profissionais de inteligência artificial, elas te dirão que não. Precisamos de mais pessoas ligadas à ciência. Não é só difícil, por exemplo, achar cientistas de dados no mercado. É difícil também encontrar profissionais que dominem o idioma inglês.


DINHEIRO - Como lidar com o problema de oferta e demanda de profissionais?


RUIZ - Não existe uma fórmula mágica, mas investimento continuado. Nos Tigres Asiáticos (Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan), por exemplo, as decisões que hoje estão rendendo frutos em relação aos avanços tecnológicos foram tomadas a 30 anos, 40 anos atrás. É preciso que o País tenha um direcionamento estratégico.


DINHEIRO - E no curto prazo?


RUIZ - No curto prazo é complicado, porque não existem ações pontuais e miraculosas que vão resolver essa questão. A primeira coisa que precisa ser feita é colocar as pessoas na escola. Existem grandes faculdades de engenharia no Brasil e é preciso acelerar a aproximação dos estudantes com as empresas de tecnologia.


DINHEIRO - A crise econômica que o Brasil atravessou e que prejudicou os investimentos em ciência e tecnologia também atrapalhou?


RUIZ - Existe uma racionalização de gastos para algumas coisas. Não adianta tapar o sol com a peneira. Se você tem um problema de caixa, você tem de economizar. É preciso ser conservador. Falta, porém, enxergar a tecnologia como um elemento estratégico para o crescimento e não apenas como um acessório. O Brasil tem muitos problemas e tenta resolvê-los com soluções do século 20 em vez das do século 21.


DINHEIRO - O que falta, então, para que o Brasil se torne um berço de startups, como é Israel?


RUIZ - Precisamos ainda comer um pouco de feijão. Não basta só a iniciativa do jovem. É preciso que haja contribuição do ambiente ao redor. Entre ter uma ideia e construir uma empresa existe uma distância muito grande. Uma das grandes diferenças entre as jovens companhias de tecnologia brasileiras e estrangeiras é que as daqui nascem para serem efetivamente startups e não grandes empresas que operam mundialmente. É preciso investir para ter um desejo mais globalizado.


DINHEIRO - A Intel está bastante empenhada no desenvolvimento da tecnologia 5G, que terá taxas de transmissão que variam de 1 Gbps (gigabit por segundo) até 20 Gbps. Como está esse projeto?


RUIZ - Realizamos um ótimo teste do 5G durante a Olimpíada de Inverno, em PyeongChang, na Coreia do Sul. Lá tivemos as arenas totalmente conectadas com essa tecnologia. A Olimpíada de Tóquio, em 2020, será os Jogos do 5G. Veremos carros autônomos, sensores de conectividade espalhados pela cidade, transmissões em 8K e vídeos para dispositivos de realidade virtual. O 5G será para a internet das coisas o que o 4G está sendo para os smartphones.


DINHEIRO - Como o 5G vai mudar a vida das pessoas?


RUIZ - O 5G não será utilizado para melhor a forma como você recebe vídeos no seu smartphone. Essa tecnologia foi feita para transmitir dados em grande volume, rapidamente e com uma cobertura melhor. Ela serve para dar força a tecnologia de internet das coisas e para conectar cidades.


DINHEIRO - Quando essa tecnologia deve chegar no Brasil?


RUIZ - A partir de 2020. A conversa está bem ativa por aqui e está tudo sendo feito seguindo o que está acontecendo lá fora. Em termos de tecnológicos, vamos ter todo o alicerce para lançar o 5G no Brasil assim que estiver disponível no exterior. Porém, é uma questão de viabilidade econômica e de conversar com as operadoras de telefonia.


DINHEIRO - Quando o 5G chegar, teremos cidades inteligentes por aqui?


RUIZ - Não vejo por que não. Já existem iniciativas ocorrendo em São Paulo, Salvador e Belo Horizonte. Já há projetos de iluminação pública que são conectadas às redes, por exemplo. Mas as cidades inteligentes não vão aparecer de uma hora para a outra. É um processo que vai durar mais do que somente um mandato eleitoral.


DINHEIRO - O senhor está preocupado com as eleições deste ano?


RUIZ - Independentemente de quem será candidato e de quem for eleito, é preciso que o Brasil volte ao ciclo de crescimento. Não carregamos bandeiras políticas ou partidos. Aqui na Intel, eu brinco com os funcionários perguntando qual candidato terá uma plataforma de transformação digital.


DINHEIRO - Em entrevistas anteriores, o senhor costuma frisar que a corrupção se tornou um forte impedimento da inovação tecnológica no País. Por quê?


RUIZ - A corrupção atrasa qualquer setor em qualquer lugar do mundo. Qualquer ranking internacional mostra o Brasil mal colocado em termos de corrupção. A boa notícia, pelo menos, é que as perspectivas para que esse problema seja resolvido são boas. Quem está fora do Brasil se impressiona com a quantidade de prisões e com quem está sendo preso.


"O 5G será para a internet das coisas o que o 4G está sendo para os smartphones"- Estande da Intel na CES 2018 mostra painel com tecnologia 5G (Crédito:David Becker / Getty Images/AFP)



"O Brasil tem muitos problemas e tenta resolvê-los com soluções do século 20 em vez das do século 21" - Fila de atendimento em um posto de saúde em São Paulo (Crédito:José Patrício / AE)


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