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Diário do Comércio online - BH (MG) ( Opinião ) - MG - Brasil - 10-03-2018 - 11:17 -   Notícia original Link para notícia
José Eloy dos Santos Cardoso - Instabilidade política e investimentos no Brasil

Superar a longa recessão brasileira nos dias atuais já é boa notícia. Entretanto, antes de comemorar o oitavo lugar entre as economias mundiais, devemos examinar os números obtidos com certo cuidado. Em primeiro lugar, é bom que se diga que os números atuais positivos foram devidos à utilização de parte do produto potencial brasileiro que estava desempregado. O crescimento da produção agropecuária de 13%, obtido no ano passado, foi devido ao desempenho da agropecuária nos estados de Goiás e Mato Grosso, enquanto houve estagnação da indústria e um crescimento muito pequeno dos serviços.

Nos dias atuais, entretanto, não temos visto grandes investimentos em virtude das incertezas políticas. Dificilmente, os investidores nacionais ou estrangeiros estarão animados antes de conhecer os resultados das eleições a serem realizadas em outubro próximo. As taxas de investimentos atuais deverão ser mantidas para todo o ano corrente porque os empresários estão temerosos do que vai ocorrer na política brasileira. Se, por exemplo, a eleição pouco provável de Lula ocorrer em virtude de suas condenações judiciais e seus impedimentos na Ficha Limpa, as reações empresariais serão uma. Ao contrário, se o eleito for Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, Marina Silva ou qualquer outro, os rumos da economia brasileira serão totalmente diferentes.

Não é muito exato ou técnico se comparar o ritmo de crescimento do PIB brasileiro com economias como a da China que é 7,2 vezes maior, a dos Estados Unidos, seis vezes maior ou a da Índia, que pertence aos chamados Brics, que é três vezes maior.

Os produtos potenciais de outros países com tecnologias produtivas são diferentes, capitais utilizados na produção são diferentes e até os níveis educacionais são diferentes. Mesmo com ativos fixos e circulantes idênticos por hipótese, os produtos seriam diferentes porque os usos dos recursos totais usados para se produzir o produto seriam diferentes.

No caso brasileiro, temos lido e ouvido aumentos de produção de veículos porque as indústrias automotivas estavam parcialmente paradas e dispensaram uma parcela de seus empregados na produção. Mesmo sem investir nada, é possível se aumentar a produção recontratando parte da mão de obra que foi dispensada ou contratando novos empregados. Em 2011, a taxa de crescimento do PIB brasileiro superou 4%, passando 2014 ser de 2,5%, até descer para menos de 1% em anos anteriores. Significa que o Brasil estava usando seu capital fixo e a taxa de depreciação do PIB era maior do que a taxa de crescimento. O Brasil usava seu capital que se depreciava, colocava parte de seus empregados na rua e os investimentos migraram. O Brasil retirou do emprego nos dois anos anteriores mais de 13 milhões de empregados que, contando-se com o desemprego funcional, teremos um número nada inferior a 18 milhões.

Felizmente, o produto da agropecuária dos estados de Goiás e Mato Grosso livraram o Brasil de uma situação ainda pior porque a China parou de importar daqui parte do que importava de minério de ferro porque os estoques desse produto importado do Brasil, quando somadas as importações de outros países também produtores, provocaram um excesso de estoques dessa importante matéria-prima para quem produz aço. Em curto prazo, em primeiro lugar, o Brasil deve procurar incrementar a construção civil e a utilização do capital já existente. Com boa política de incentivos, poderíamos aumentar o consumo das famílias que, por sua vez, consumiriam aquilo que podemos produzir internamente e o efeito multiplicador funcionaria. Aumentar mais a produção agropecuária não é muito fácil em curto prazo, porque o Brasil carece e enfrenta deficiência da infraestrutura de ferrovias, rodovias e portos que exigem grandes capitais para serem feitos.

O governo federal já enfrenta dificuldades para pagar seu custeio e também dificuldades para aumentar tributos que já são enormes no Brasil. Nosso País pode já ter saído da recessão, mas a instabilidade política em épocas de eleições não permitem a consolidação de um ambiente institucional favorável que estimulem a confiança dos empresários nacionais ou estrangeiros. O Brasil é um dos países onde seu Produto Interno Bruto (PIB) é superior ao produto nacional Bruto (PNB) porque a parcela de fatores de produção estrangeira é maior do que a parcela de produção pertencente a brasileiros. Como estimular os investimentos se os empresários do exterior também temem o que poderá acontecer na política brasileira? Só depois de 1º de janeiro de 2019 teremos essa luz no fim desse túnel.

*Economista, professor titular de macroeconomia da PUC-Minas e jornalista.



 


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