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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 07-03-2018 - 06:38 -   Notícia original Link para notícia
Perdas em série

Operação Trapaça acirra guerra entre sócios. Fatia dos fundos encolhe R$ 1,2 bi em dois dias



A Operação Trapaça aumentou as divergências entre acionistas da BRF e também as perdas. Em dois dias, a fatia dos fundos Previ e Petros encolheu R$ 1,2 bilhão. Ontem, a Comissão de Valores Mobiliários abriu processo sobre o caso. A nova fase da operação Carne Fraca, deflagrada na segunda-feira pela Polícia Federal, acirrou a guerra entre os sócios da maior exportadora de frango do mundo. Os fundos de pensão, a gestora Tarpon e o empresário Abilio Diniz - que já travavam uma queda de braço após a BRF registrar dois anos seguidos de prejuízo - viram parte considerável de seus investimentos na companhia evaporarem em velocidade recorde. Com o tombo de 21,7% das ações da dona de Sadia e Perdigão na Bolsa em apenas dois pregões, o valor da fatia de Petros e Previ, que detêm, juntos, 22% da BRF, encolheu R$ 1,2 bilhão. No outro lado da disputa, Tarpon e Abilio viram suas posições diminuírem R$ 680 milhões no período, enquanto são jogados para escanteio pelos fundos e tentam defender suas reputações. Pior: as novas revelações devem continuar fazendo sangrar as ações na Bolsa, segundo especialistas, e levar a complicações na Justiça.



Como maiores acionistas da BRF, os fundos de pensão dos funcionários da Petrobras e do Banco do Brasil são os que mais têm a perder com o inferno astral da empresa, iniciado em 2016. Desde aquele ano, a empresa acumula prejuízos de R$ 1,5 bilhão. As perdas são contabilizadas justamente no momento em que passaram a atuar de maneira mais incisiva nos conselhos prometendo melhorias na gestão das empresas nas quais investem. A Petros ainda cobra uma contribuição a mais de seus participantes para equacionar um déficit bilionário.



Nem tudo o que as fundações perderam se deve ao tombo recente da BRF. Uma parcela se deve ao fato de terem vendido parte de suas ações ao longo dos anos. Mesmo assim, como adquiriram os papéis por um valor mais baixo antes da crise, se vendessem as ações hoje, ainda teriam ganho.



"A entidade é investidor de longo prazo e não realizou nenhuma operação de venda de ações da companhia no período recente. Logo, não realizamos nenhuma perda", ponderou Marcus Moreira, diretor de Investimentos da Previ, em nota. "Acreditamos no potencial de recuperação de preço da companhia, dado sua representatividade no mercado em que atua, seu histórico e a qualidade de seus ativos."



De acordo com ele, o investimento da Previ na BRF "supera largamente todas as nossas métricas de referência, ficando acima da nossa taxa atuarial, da taxa básica de juros e da valorização do Ibovespa, considerado todo o histórico do investimento."



A fundação já era acionista de Sadia e Perdigão e herdou sua posição na BRF com a fusão entre as duas, em 2009. No fim de janeiro, segundo a Previ, as ações da BRF representavam 3,69% da carteira de renda variável do seu Plano 1 - o mais antigo, de benefício definido - e 1,78% do patrimônio total do plano. CVM ABRE PROCESSO ADMINISTRATIVO Em nota, a Petros afirmou que "apesar dos recentes resultados insatisfatórios, acredita na qualidade e solidez da BRF e de seus produtos, e espera que esses problemas sejam episódicos e não alterem a história de sucesso da empresa no longo prazo".



A BRF é a principal produtora e exportadora de frango, com cerca de 28% das vendas ao exterior. A JBS vem em segundo lugar, com cerca de 18% das exportações do animal. Ano passado 55% da produção da BRF foram exportados.



Ontem, a Moody's rebaixou a nota da BRF para "Ba2". A nota anterior, "Ba1", já era considerada especulativa. Em relatório, o analista do BTG Thiago Duarte escreveu que "o valor das ações pode ainda sofrer bastante", uma vez que os novos fatos obrigarão a BRF a adotar controles de qualidade mais rígidos, o que abalará suas margens.



A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu processo administrativo sobre a BRF no qual exigiu esclarecimentos da companhia. Nos EUA, mais escritórios de advocacia convocaram acionistas para futura ação coletiva contra a empresa.



A companhia já vivia uma expectativa de mudança no Conselho de Administração. Os fundos de pensão se articulavam para tirar o empresário Abilio Diniz da presidência do colegiado, pois o responsabilizavam pelos resultados negativos nos últimos anos. A operação da PF parece ter agravado o conflito. Para Thiago Duarte, é muito provável que os acionistas da BRF aprovem em abril a proposta de Petros e Previ para afastar Tarpon e Abilio do Conselho de Administração. Mas é pessimista:



"Há muito ainda o que se consertar, e, sem uma estratégia clara e a experiência necessária no setor de alimentos, terão um longo caminho pela frente."



Outro sócio da BRF em apuros com a crise da empresa é a gestora Tarpon. Pedro Faria, ex-presidente da BRF preso anteontem pela Polícia Federal, é sócio da gestora e foi indicado para o posto com o apoio de Abilio, que também é um dos principais sócios da BRF. A Tarpon viu suas ações derreterem na Bolsa e deve ver aumentar a desconfiança de seus clientes, iniciada com a crise da BRF. Em 2014, a companhia tinha R$ 10,5 bilhões de investimentos sob gestão. No fim do ano passado, eram R$ 7,2 bilhões. Apenas em 2017, a Tarpon sofreu R$ 1,5 bilhão de saques em seus fundos.



Segundo fonte próxima à Tarpon, desde que a operação da PF estourou, a gestora tem entrado em contato com seus principais cotistas para explicar a situação e demonstrar que está confiante na solidez dos seus negócios. Envolveu-se nessa operação até o sócio Eduardo Mufarrej, que não estava mais no dia a dia da gestão e vinha dedicando mais tempo ao movimento RenovaBR, programa idealizado por ele e que concede bolsas a lideranças políticas em potencial. Ele, porém, continuaria sem papel executivo na Tarpon.



Fundada em 2002, a gestora se firmou com apostas certeiras em poucas empresas. Grande parte do seu patrimônio está concentrado em três empresas: BRF, Somos Educação e Omega Energia. Na Somos (ex-Abril Educação), a companhia detém cerca de 75% das ações em circulação, ou R$ 2,7 bilhões. O negócio vai bem: subiu 37% na Bolsa em 12 meses.



Mas, na BRF, tudo tem dado errado. Sua participação chegou a valer R$ 6,3 bilhões em 2015 mas, depois do tombo dos últimos dias e da venda de papéis nos últimos anos, hoje vale apenas R$ 1,7 bilhão. Segundo a fonte próxima à Tarpon, a BRF ficará como uma lição. Os gestores avaliam hoje que foi um erro aplicar em uma gigante com capital pulverizado. A partir de agora, a ideia será concentrar em companhias onde poderá ter controle.



A maioria dos clientes da Tarpon é formada por investidores institucionais, como fundos de universidades e fundos de pensão, que respondem por 77,2% do patrimônio. Apenas 15% dos investidores são brasileiros. Isso é um problema, segundo fontes que acompanham a gestora, já que esse perfil de investidor preza pela governança corporativa.





- A Tarpon têm lock-up (cláusula que impede resgate imediato dos cotistas), então tem tempo para convencer os cotistas resgatar a confiança - disse um investidor estrangeiro próximo à Tarpon.


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