Leitura de notícia
O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 06-03-2018 - 07:00 -   Notícia original Link para notícia
Baque para as exportações

Operação Trapaça investiga fraude na BRF, que perde R$ 5 bi na Bolsa. Vendas ao exterior devem cair



A BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, foi o alvo principal da terceira etapa da Operação Carne Fraca, mas o setor exportador de carnes pode ter perdas acima de US$ 1,2 bilhão. A Polícia Federal diz que frango e peru da empresa tinham laudos manipulados para um tipo de salmonela com restrição em 12 países importadores. Foram presos dois ex-executivos da BRF, que perdeu quase R$ 5 bilhões em valor de mercado. -SÃO PAULO, BRASÍLIA, RIO E CURITIBA- A terceira etapa da Operação Carne Fraca, deflagrada ontem com o nome de Trapaça, teve como alvo principal a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão. Indícios de manipulação na análise e controle de qualidade dos produtos da empresa levaram a Justiça a determinar a prisão temporária de Pedro Faria, ex-presidente da BRF, e de Hélio Rubens dos Santos Jr., ex-vice-presidente de Operações Globais da empresa. Além de agravar a crise atual da companhia, que enfrenta uma ruidosa disputa entre seus principais acionistas, a empresa viu seu valor de mercado encolher em quase R$ 5 bilhões ontem, com uma queda de 19,7% nas ações. A BRF é avaliada na Bolsa em R$ 20,1 bilhões, o menor patamar desde 2010. No ano, os papéis da empresa despencam 32,4%. Mas o impacto da Operação Trapaça tem potencial para trazer perdas de imagem e de negócios a todo o setor exportador de carnes brasileiro.



MARIVALDO OLIVEIRACrise. Hélio Rubens dos Santos Jr., ex-vice-presidente de Operações Globais da BRF, chega à sede da Polícia Federal: o depoimento de uma ex-funcionária foi usado na investigação



De acordo com a Polícia Federal (PF), as investigações mostraram que cinco laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura e setores de análise da própria BRF fraudavam laudos de exames de amostras dos produtos processados pela empresa, burlando a fiscalização. Análises para detectar a presença de micro-organismos, especificamente a salmonela, nas carnes de frango e peru da empresa tinham os resultados manipulados, segundo a PF. Tudo com a anuência dos executivos da companhia, além do corpo técnico e de profissionais que respondiam pela qualidade dos produtos da empresa, de acordo com a investigação.



O governo e o setor privado ainda calculam o impacto direto da Operação Trapaça nas exportações de carne. Avaliação preliminar mostra que, se forem levados em conta os 12 mercados que exigem certificado atestando a ausência da salmonela, a queda pode chegar a ao menos US$ 1,281 bilhão. O montante se refere ao que foi comprado do Brasil no ano passado por África do Sul, Argélia, Coreia do Sul, Israel, Irã, Macedônia, Suíça, União Europeia, Tadjiquistão, Maurício, Ucrânia e Vietnã. A expectativa é que os países cobrem explicações do Brasil sobre o caso.



Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) mostram que, no primeiro bimestre, o Brasil exportou US$ 2,2 bilhões de carnes. Do total, as vendas externas de carne de frango somaram US$ 913 milhões - 41,5% - enquanto a de carne bovina in natura ficou em US$ 818 milhões. No ano passado, o Brasil embarcou para o exterior o equivalente a US$ 15 bilhões. As vendas de frango e carne de peru corresponderam a US$ 6,4 bilhões. TROCA DE E-MAIL ENTRE EXECUTIVOS Ao todo, a PF cumpriu 91 ordens judiciais, entre prisões preventivas, conduções coercitivas e operações de busca e apreensão em cinco estados: São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Goiás. Na terceira fase da Carne Fraca, foram cumpridos 11 mandados de prisão temporária, 27 de condução coercitiva e 53 de busca e apreensão. Foi denar a suspensão das exportações em três das quatro unidades da BRF que foram alvo da operação: duas de frango em Rio Verde, em Goiás, e Carambeí, no Paraná; de peru em Mineiros (Goiás) e de rações em Chapecó (Santa Catarina).



A PF vai investigar se há presença de salmonela prejudicial à saúde em lotes de carne de frango e peru da BRF apreendidos ontem. Até agora, as informações mostram que a bactéria encontrada não traz risco à saúde. No Brasil, o grau de tolerância a esse tipo de bactéria na carne é de 20%. Em alguns países para onde o produto é exportado, a incidência não pode passar de 5%.



- As investigações continuam, mas, agora, tratam realmente apenas das presença da salmonela, o que representa restrições comerciais a 12 destinos dos mais de 150 para onde o país exporta - disse o coordenador-geral de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), do Ministério da Agricultura.



E-mails trocados entre executivos da BRF e depoimentos de fiscais, funcionários e cooperados da empresa levaram à ação, disse o delegado da PF Maurício Moscardi Grillo, que coordena a operação:



- Uma pessoa do setor de regulamentação e fiscalização da empresa pergunta por e-mail a uma funcionária do controle de qualidade se teria como andar dentro da lei. Ela até diz, no próprio e-mail: "sim, tem, mas é uma estratégia da empresa fazer dessa forma". Temos aí a própria funcionária informando a estratégia, cujo objetivo é a prevalência do lucro.



Pedro Faria, ex-presidente da BRF detido, foi flagrado num e-mail em que, na interpretação da PF, revela conivência com o esquema. Em ação trabalhista de 2015, a superintendente do laboratório da empresa na fábrica de Rio Verde, Adriana Marques Carvalho, diz que sofria pressão de superiores para alterar o resultado de análises que apresentavam diagnóstico de contaminação por salmonela. Ela reclamava indenização da empresa. O processo colocou em alerta a área jurídica, que levou o caso ao topo da sua hierarquia. BRF DIZ SEGUIR NORMAS RIGOROSAMENTE Segundo os autos da PF, ao saber do caso, Faria reclamou: "Isso é um absurdo. Impressionante como sempre levamos bucha dos mesmos lugares. Hélio, por favor, avalie algo drástico por lá. Tem coisa que ofende nosso senso de propósito." Ele dirigia-se a Hélio Rubens dos Santos Jr., ex-vice-presidente de Operações Globais da BRF. Adriana, que fechou acordo pelo qual recebeu R$ 70 mil da empresa, apresentou à PF uma planilha de controle de contaminação dos produtos por agentes como a salmonela, que revelam que os níveis eram maiores do que o aceitável, chegando a 70% das amostras em uma ocasião.



Segundo a PF, qualquer um dos diretores da empresa, incluindo Faria, poderia ter questionado tais práticas. "Os índices de amostras com contágio positivo eram muito superiores à média aceitável, tanto para o mercado interno quanto para a exportação", afirma relatório da PF. Depois do e-mail de Faria, a PF identificou que Hélio Rubens enviara e-mail a um subordinado, afirmando: "Vamos juntos elimiterminada todas as exposições".



Para o juiz André Wasilewski Duszczak, da 1ª Vara Federal de Ponta Grossa (PR), que expediu a ordem de prisão contra Faria e Hélio Rubens, as mensagens significam que as medidas drásticas ordenadas pelo presidente da BRF seriam no sentido de proteger a empresa da investigação.



Em comunicado, a BRF reafirma seguir rigorosamente as normas nacionais e internacionais referentes a produção e comercialização. A empresa diz que tem importantes certificações internacionais de qualidade, sendo a única do país a integrar o Global Food Safaty Initiative (GFSI). Por isso, assegura, não há nada constatado pelas investigações da PF que signifique risco à saúde de seus consumidores.



"Com base nos documentos disponíveis, a BRF entende que nenhuma das frentes de investigação da Polícia Federal diz algo que possa causar dano à saúde pública", diz. Diz ainda que foi auditada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em outubro e que "todos os parâmetros estavam devidamente em ordem". Quanto aos emails trocados por executivos, que inclusive serviram de base para a ordem de prisão de Faria, a empresa diz serem de três anos atrás e que também são objeto de investigação própria. AÇÃO COLETIVA NOS EUA Salmonela não representa risco para saúde, diz ministro, na página 20





Salmonela não representa risco para saúde, diz ministro





Blairo Maggi ressalta que bactéria é eliminada com cozimento do frango



-BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO- Após a deflagração da Operação Trapaça, o Ministério da Agricultura informou que os laboratórios envolvidos tiveram credenciamento suspenso até o fim da investigação. Além disso, os frigoríficos que foram alvos da operação estão proibidos de exportar para países que exigem requisitos sanitários específicos de controle e tipificação de salmonela. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, divulgou um vídeo para tranquilizar os consumidores de carnes de ave brasileiras. Segundo o ministro, as suspeitas levantadas pela Polícia Federal não representam riscos para a saúde.



- Posso garantir à população brasileira que não há nenhum risco no consumo de carnes e aves produzidas por qualquer uma das empresas, citadas ou não (na operação). Até porque o problema discutido é a salmonela que, como sabemos, desaparece quando a carne é cozida ou frita - afirmou o ministro, acrescentando que a apuração do caso será correta e transparente.



A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa as empresas produtoras de aves e suínos, também afirmou que não há risco para os consumidores. A entidade defendeu as investigações da terceira fase da Operação Carne Fraca, mas frisou em nota que se trata de uma situação pontual e não generalizada.



Na decisão judicial que desencadeou a Operação Trapaça, o juiz federal Andre Wasilewski Duszczak, da 1ª Vara Federal de Ponta Grossa, faz referência a evidências de que a BRF escondeu a existência da bactéria Salmonella pullorum, um tipo de salmonela que pode provocar danos à saúde humana, em 46 mil aves em uma de suas unidades por meio de fraudes de resultados laboratoriais e a adulteração de um composto vitamínico dado aos frangos. De acordo com Aline Borges, coordenadora de alimentos da Vigilância Sanitária municipal do Rio, a Salmonella pullorum é comum na flora intestinal de aves. Se for ingerida pelo ser humano, pode causar diarreia, náuseas e calafrios. No entanto, explica, a bactéria é neutralizada com o cozimento dos alimentos em temperatura superior a 74° C. Além disso, ressalta a coordenadora, é fundamental boa higiene para não ocorrer contaminação cruzada:



- A pessoa que manipula a carne precisa ter as mãos e os utensílios sempre limpos. Se um pedaço de frango cru entrar em contato com um outro tipo de carne, ou alimento já pronto para consumo, pode contaminá-lo.



Além das carnes, Aline alerta para o consumo de produtos feitos com ovos crus. A bactéria também pode ser encontrada em ovos. Dessa forma, ovos consumidos sem ter atingido a temperatura de 74° C também podem contaminar humanos.





Operação piora situação de Abilio no Conselho de Administração]





Assembleia que pode definir saída do empresário da BRF é marcada para abril



-SÃO PAULO- Em meio a uma batalha para afastar o empresário Abilio Diniz da presidência do Conselho de Administração da BRF, os fundos de pensão Previ e Petros pediram explicações à empresa sobre a operação da Polícia Federal que levou ontem à prisão Pedro Faria, ex-presidente global da companhia, e outras dez pessoas relacionadas à BRF. As fundações dos funcionários do Banco do Brasil e da Petrobras detêm, juntas, 22% das ações da empresa.



MICHEL FILHO/06-09-2013Cerco. Operação afeta chances de Abilio permanecer à frente do Conselho



Em nota, a Previ afirmou que está "acompanhando de perto e monitorando uma série de fatores, que vão desde a atuação da companhia perante os acionistas e a sociedade, até as possíveis consequências para a imagem e o negócio da BRF". A Petros informou que "solicitou à BRF que seja informada como vêm sendo aplicados os mecanismos e procedimentos internos para impedir a prática de atos irregulares na companhia".



Na manhã de ontem, uma reunião do Conselho foi realizada para tratar do assunto, mesmo com os agentes da PF nas ruas fazendo buscas envolvendo a empresa. A ação nem chegou a ser tratada pelos conselheiros, disse uma fonte a par do encontro.



Seguindo a pauta definida por Abilio, discutiu-se exclusivamente a data da assembleia que vai definir a reforma do Conselho: 26 de abril. Até lá, o empresário fica no cargo. Foi uma reunião rápida, de cerca de meia hora, bastante protocolar. Apenas no final da tarde, a BRF divulgou nota em que nega as acusações da PF. No entanto, a prisão temporária de Pedro Faria complica ainda mais a situação de Abilio, responsabilizado pelos fundos de pensão e outros acionistas pelos prejuízos de R$ 1,5 bilhão acumulados nos últimos anos. Faria foi indicado por Abilio para o posto.



Os fundos de pensão já conseguiram apoio de outros acionistas para promover mudanças no Conselho de Administração da BRF. Na semana passada, eles divulgaram uma lista com a sugestão de novos nomes para sete das dez cadeiras, com a indicação de Augusto Marques da Cruz Filho, que já presidiu o Pão de Açúcar, para ocupar o lugar de Abilio na presidência do colegiado.



AÇÕES DA TARPON DESPENCAM



Outra fonte lembra que Abilio poderia indicar uma chapa concorrente ou mesmo apresentar um nome como seu sucessor na presidência até a data da assembleia. Mas, com os desdobramentos da operação da PF, essa possibilidade tornou-se improvável. Além da insatisfação com os prejuízos dos últimos dois anos, a operação ajudou a derrubar ainda mais o valor das ações da BRF. A gestora Tarpon, que foi fundada por Pedro Faria e vinha sendo alidada de Abilio até aqui, perdeu duplamente. A exemplo da BRF, suas próprias ações despencaram ontem na B3, com perda de 20,3%. A gestora, que tem 8,5% do capital da BRF, já se mostrou disposta a analisar os nomes propostos para o novo Conselho e diz agora não ter mais compromisso de se manter alinhada com Abilio.



Procurado na semana passada, o empresário não quis falar. O presidente da Petros, Walter Mendes, disse ao GLOBO no último sábado que não existe nada pessoal contra os atuais membros do Conselho, inclusive Abilio, mas que é preciso fazer algo para reverter os prejuízos.



Em nota, a agência de classificação de risco Standard & Poor's avaliou que os desdobramentos da Carne Fraca podem atingir a redução de dívida da companhia. A dívida da BRF saltou de R$ 7,1 bilhões, em 2013, para R$ R$ 14,4 bilhões em 2017. A agência informou que os ratings da BRF "não são imediatamente afetados por impasse entre acionistas e recente desdobramento da operação Carne Fraca", mas ponderou que a nova fase "pode levar ao fechamento de algumas fábricas da BRF aumentando desafios operacionais e impedindo desalavancagem".


Nenhuma palavra chave encontrada.
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.