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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 22-02-2018 - 07:08 -   Notícia original Link para notícia
Excluídos digitais são 63 milhões

Do total de desconectados, 75% não utilizam a rede por falta de conhecimento ou desinteresse





-RIO E TERESINA- O número de brasileiros com internet aumentou nos últimos anos, mas o país ainda tinha 63,3 milhões de habitantes e 21 milhões de lares sem acesso ao serviço no fim de 2016, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE. Embora gargalos de infraestrutura sejam parte do problema, o levantamento também indica desafios na área de educação. Desse contingente de desconectados, 47,7 milhões - 75% do total - afirmam que não usam a rede por falta de conhecimento ou desinteresse. Para especialistas, as políticas públicas agora precisam focar não apenas em ampliar a disponibilidade do sinal, mas em ações para tornar o mundo digital mais atraente a essa parcela da população.





EFREM RIBEIRO





As informações são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua e levam em consideração o acesso por qualquer meio e de qualquer lugar, seja em casa, no trabalho ou na escola. Entrou no levantamento só a população com 10 anos ou mais. O número de pessoas que afirmaram não entrar na internet porque não sabem usar a ferramenta ficou praticamente empatado com o contingente que alegou não ter interesse: aproximadamente 23 milhões em cada grupo. A terceira razão mais citada foi o alto custo do serviço, causa para a exclusão de nove milhões, 14,3% do total.





Para Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, que acompanha o mercado de telecomunicações, a falta de interesse pode ser um sintoma da dificuldade de usar as ferramentas:





- O que a pesquisa mostra é que, mesmo se houvesse banda larga fixa e móvel em todo o Brasil, ainda tem brasileiro excluído digitalmente, que não sabe usar a internet. E, às vezes, a pessoa diz que não tem interesse porque, no fundo, não sabe usar. FALTA DE INTIMIDADE É BARREIRA Luli Radfahrer, professor de Comunicação Digital da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, confirma essa tese e acrescenta que a falta de intimidade com a rede é uma barreira a mais para começar a usar o serviço:





- O digital é uma linguagem. Se eu falo uma língua desde , eu falo bem, sem sotaque. Se eu aprendi depois de um ponto na vida, vou falar com sotaque ou demorar muito para falar. Muita gente tem problema para entender a plataforma. Essa exclusão cultural se dá em várias faixas etárias e em várias faixas de renda.





A mudança desse cenário passa por um processo educacional, na avaliação do coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV, Pablo Cerdeira. Ele acredita que a internet é pouco atraente para uma parcela grande da população. Aumentar a oferta de serviços oferecidos pelo governo por meio da rede seria uma forma de aumentar esse apelo, destaca o especialista:





- A falta de interesse está associada às necessidades dessa população para a qual a maior quesda Comunicação prejudicada. Julimar Fernandes, de Teresina, não usa internet, serviço que considera caro neta, que moram em São Paulo. Dizem que o bairro onde mora é atrasado e reclamam que a comunicação com ele fica prejudicada.





- Realmente, meu bairro é atrasado. Teresina cresce igual rabo de jumento, para baixo - brinca.





Segundo o comerciante, que usa um celular que não tem internet, chamado de "lanterninha" na região, o serviço é muito caro no Piauí, variando de R$ 70 a 120 por mês, valor que considera alto porque já paga uma média de R$ 300 mensais para ter água e luz em casa. O preço é a principal causa de desconexão no Nordeste, apontada em 34,8% das casas da região. Fernandes gostaria que o acesso à internet fosse gratuito:





- Não é que eu seja contra a internet, contra computadores, mas por que tenho que pagar para ter esse serviço? Deveríamos ter internet livre e de graça nas praças da cidade.





O governo reconhece o problema. Estão nos planos subsidiar o acesso no Nordeste e ampliar o uso de banda larga por satélite no Norte, onde o maior problema é a infraestrutura.





- Em relação ao Nordeste, é um desafio há muitos anos, porque o custo de serviço é fortemente impactado pela carga tributária. Tentamos mobilizar os estados a fazerem programas voltados às populações de baixa renda e temos também o desafio de desenvolver políticas públicas, como existe no setor de energia, para subvencionar parte da conta das famílias que consomem menos ou são de baixa renda - afirma Artur Coimbra, chefe do Departamento de Banda Larga do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.




Palavras Chave Encontradas: Criança
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