Leitura de notícia
O Globo Online (RJ) ( Brasil ) - RJ - Brasil - 21-02-2018 - 09:11 -   Notícia original Link para notícia
Desempregados esperam 24 horas na fila

Supermercado abre 500 vagas com salário de R$ 1 mil. Prazo para encontrar trabalho chega a 14 meses no país


Passado o carnaval e iniciado, de fato, o ano, os desempregados retomam a rotina de buscar trabalho e até dormir na fila em busca de uma vaga. Na madrugada de segunda para terça-feira, centenas deles se acomodavam como podiam na calçada em frente à universidade Castelo Branco, em Realengo, Zona Oeste, para concorrer a 500 vagas na rede de supermercados Mundial. Munidos de cadeiras de praia, guarda-sóis, sanduíches e biscoitos, enfrentaram chuva à noite e sol forte pela manhã, até que fossem abertos os portões para o processo seletivo. O primeiro candidato chegou às 9h da véspera e esperou por mais de 24 horas por sua entrevista.


O denominador comum entre os 1.500 candidatos que receberam uma senha para disputar uma vaga ontem é o histórico de anos demais sem trabalho, apesar da procura incessante. Uma realidade da crise brasileira, na qual o tempo médio de desocupação está em 14 meses, segundo pesquisa do SPC Brasil. SUSTENTO COM BOLSA FAMÍLIA Estando no Rio, os candidatos aos postos do Mundial representam estatística ainda mais desanimadora. O Estado do Rio perdeu 92 mil vagas com carteira assinada no ano passado, pior resultado no país. A taxa de desemprego do Estado do Rio é maior que a média nacional: foi de 14,5% no terceiro trimestre do ano, contra média nacional de 12,4%.


As vagas oferecidas ontem eram para cargos como operador de perecíveis, empacotador, fiscal de caixa, auxiliar de serviços gerais, mercearia e limpeza. O salário médio é de R$ 1 mil - o que não desagradou a nenhum dos candidatos, cuja maioria tem sobrevivido de bicos incertos e mal remunerados. Completam a remuneração benefícios como vale-transporte, alimentação, plano de saúde. Os 500 selecionados começarão a trabalhar em março em uma das 18 filiais do supermercado.


O processo não exigia experiência prévia, mas também não precisava. Com a taxa de desemprego alta, poucos na fila estavam ali em busca de um primeiro emprego. Rayanne dos Santos, de 21 anos, chegou às 23h da véspera e, mesmo com chuva, dormiu na calçada à espera de uma vaga.


Desempregada há um ano, ela sobrevive e sustenta a filha com os R$ 124 do Bolsa Família e com bicos ocasionais em uma lanchonete. Seu último emprego foi no Natal de 2016, como extra na RiHappy do shopping Bangu, bairro onde mora.


- Com esse salário, meu sonho é poder cursar uma faculdade - disse Rayanne.


Juliana da Silva Ramos, de 31 anos, trabalhou por sete anos no principal rival do Mundial, o Guanabara. Foi demitida há dois anos. Nesse período, distribuiu currículos todas as segundas-feiras. Para pagar as contas, vende roupas.


- Tiro R$ 400 por mês. Só dá para pagar a luz e comer. Ainda bem que moro em casa própria - contou a moradora da região do Barata, em Realengo, que encontrou na fila oito colegas também demitidas do Guanabara. SOLIDARIEDADE DOS MORADORES Uma candidata foi embora, como todos, sem a certeza de um trabalho. Foi a única, porém, que deixou a seleção tocada pela solidariedade. Cristiana Rosa Clemente, de 34 anos, deu entrevista à TV Globo logo cedo. No depoimento, veiculado ao vivo, contou que não teve sequer R$ 6 para comprar um bolo de fubá e celebrar os 11 anos de uma das duas filhas, completados no sábado. Momentos depois, moradores do entorno da universidade e até funcionários da universidade reuniram donativos para Cristiana, que incluíam de uma torta até a um tablet.


Cristiana está desempregada há anos e vive de subempregos. Trabalha como camelô em Campo Grande - "quando a Guarda Municipal deixa" - e de faxineira. É assim que sustenta a família. O pai das crianças abandonou o lar há seis anos:



- Ele não ajuda em nada, e estou na Justiça para que pague pensão. Se desse ao menos carinho, já seria suficiente.


Palavras Chave Encontradas: Criança
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.