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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 18-02-2018 - 12:49 -   Notícia original Link para notícia
Internet das coisas avança do campo ao supermercado

De olho no crescimento de objetos conectados no Brasil, empresas já planejam produção local de chip


Do produtor de soja no Mato Grosso às malas de luxo da grife Louis Vuitton. A era dos objetos conectados já migrou das apresentações futuristas das empresas de tecnologia para as ruas de todo o país. As iniciativas vêm ganhando tanta velocidade no Brasil que empresas brasileiras e estrangeiras já investem na construção de redes próprias de internet por aqui e analisam a produção local de equipamentos (uma espécie de chip) capazes de calcular informações variadas, como a temperatura corporal de uma vaca e a vibração do motor de uma geladeira.



FOTOS DE DIVULGAÇÃO


No campo. Sensor em plantação de soja. Chips podem monitorar radiação solar, força dos ventos e umidade do solo


Até o ano passado, a expectativa era que em 2025 o Brasil tivesse 100 milhões de objetos conectados à rede, com uma receita anual superior a R$ 40 bilhões. Mas especialistas, agora, estimam que esses números podem ser alcançados bem antes. Um dos principais motivos para o avanço maior que o esperado é a corrida tecnológica travada no setor, aliada à necessidade de redução de custos e maior eficiência das empresas.


Assim, as iniciativas ganham cada vez mais velocidade. No eixo Rio-São Paulo, redes de supermercados estão conectando suas geladeiras para acompanhar a vibração de seus motores e controlar a temperatura. Funciona assim: os dados são transmitidos para um sistema de computadores da empresa, que recebe um alerta sempre que há alguma mudança nessas variáveis. Alexandre Reis, diretor de operações do grupo de tecnologia WND, lembra que não é preciso mais esperar a rede 5G, de velocidade ultrarrápida, para conectar os objetos.


- A internet das coisas já é uma realidade. Começamos a construir uma rede que permite o tráfego de dados por meio de uma frequência não licenciada, como as que são usadas em WiFi em casa e nas ruas. O uso dessa frequência permite custos mais baixos para a toda a cadeia, de produtores de chips e softwares a clientes finais. Estamos investindo US$ 50 milhões para levar essa rede a todo o Brasil e temos hoje mais de 50 parceiros (clientes) que querem agregar ao seu dia a dia a tecnologia como forma de aumentar a eficiência. Em muitos casos, isso também é uma ferramenta de marketing para eles - disse Reis, lembrando que a procura envolve empresas dos mais variados portes e setores.


SENSOR MEDE A TEMPERATURA DAS VACAS


No campo, essas iniciativas começam a mudar a realidade dos fazendeiros. Rafael Pizzi, diretor da Agrosmart, da área de tecnologia, conta que produtores de soja no Mato Grosso e de laranja em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, implantaram sistemas de conexão no meio das plantações no ano passado. Eles funcionam como uma espécie de estação meteorológica, captando informações como temperatura, força dos ventos e radiação solar. Há ainda sensores ligados à terra que calculam a umidade do solo. Com isso, os equipamentos conseguem saber o momento ideal para o uso de pesticidas, um dos principais custos dos produtores rurais.


- Antes tudo era feito com base no que o vizinho estava fazendo, pois não havia como coletar os dados. Era tudo na intuição. Com a redução nos custos possibilitada pelas novas tecnologias, essas soluções vêm atraindo o interesse das empresas. Vimos esse potencial no Mato Grosso e, por isso, expandimos a companhia para o Centro-Oeste. O importante é que as baterias só são acionadas quando há mudança em alguma variável. Com isso, há maior durabilidade, o que é essencial para locais onde nem há energia elétrica. A redução nas despesas pode chegar a 40% - destaca Pizzi.


A internet das coisas está sendo usada até para monitorar a temperatura das vacas. Helder Cochofel, diretor da sul-coreana Suntech, também de tecnologia, explica que, com o estudo das informações coletadas por meio de um chip instalado em uma coleira no pescoço da animal, é possível detectar seu período fértil através do calor do seu corpo. Isso permite economizar com o uso de sêmen para inseminação, o que é tido como um dos procedimentos mais caros entre os agropecuaristas. A iniciativa, já testada na Colômbia, está sendo usada por empresários brasileiros na Região Centro-Oeste.


- A coleira serve ainda para ver por a vaca anda. Todos esses produtos têm de ser homologados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Já temos 20 clientes no Brasil e, por conta do aumento de volume entre as empresas, o custo caiu entre 20% e 25%. A cobertura é um desafio, mas os investimentos estão acontecendo. O maior entrave é mostrar o benefício da internet das coisas para a economia - diz Cochofel.


As grifes de luxo também estão na corrida tecnológica. Sem alarde, a Louis Vuitton entrou no ano passado com pedido de autorização na Comissão Federal de Comunicação (FCC, pela sigla em inglês) dos Estados Unidos para conectar suas malas. Segundo informações fornecidas à FCC - que foram reveladas por sites especializados em tecnologia -, a marca informou que o aparelho, batizado de Echo, será acoplado na parte interna da mala e poderá ser retirado para ser carregado por um cabo USB.


Além disso, o cliente poderá baixar um aplicativo da marca no celular, o LV Pass, para ter informações sobre a mala. Ao aterrissar, o cliente recebe um alerta sobre a localização da bagagem. O dispositivo ainda será capaz de informar se a mala foi aberta. A expectativa é que o novo produto seja lançado em breve. Segundo o site Engadget, esse rastreador de bagagem funcionará em dezenas de países, inclusive no Brasil.


Com o aumento da demanda e das iniciativas, algumas empresas já planejam a produção de equipamentos para internet das coisas no Brasil. É o caso da portuguesa Loka Systems, que pretende fazer uma parceria com a Foxconn para produzir os dispositivos na unidade fabril em São Paulo. O diretor da companhia, João Tacanho, citou a demanda por empresas de transporte, preocupadas com o aumento no roubo de cargas. Esses sensores conseguem, por exemplo, perceber o que está em volta, escaneando as redes de telefonia no entorno, assim como os bloqueadores de sinal de celular, muito usados por bandidos, pontuou o executivo:


- A produção hoje é na China, mas vamos, em 2018, transferir a produção para cá, de forma a ganhar competitividade. Há uma grande demanda da indústria, que está buscando soluções para analisar a vibração dos motores e, com isso, detectar problemas de forma preventiva. No final, é tudo para economizar custos. A ajuda da internet das coisas também permitirá que uma rede de farmácias amplie para o país inteiro um sistema já testado em Campinas (SP). A companhia, explica Alexandre Bueno, presidente da empresa de tecnologia Fibo, vai automatizar uma tarefa que hoje é feita manualmente, pelo menos três vezes ao dia, em cada uma de suas unidades:


- Por uma determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as redes têm que monitorar a temperatura por conta dos remédios. Os sensores repassam essa informação diretamente para o sistema. O ecossistema de internet das coisas no Brasil cresce rapidamente - conta Bueno, que, para fazer essa solução, selou parceria com a Konker, especializada em projetar tecnologias abertas, e a rede de telecomunicações Sigox.


A Konker, por sua vez, firmou parceria com a Oi para criar novas soluções, como permitir às redes de varejo o gerenciamento remoto de geladeiras ou freezers, permitindo o controle de abastecimento de produtos perecíveis.


- Ainda é preciso investir muito em software e em tecnologia em geral para aumentar a produtividade e permitir que as máquinas se comuniquem entre si. Alguns setores ainda precisam olhar para isso, como o de moda. Não é uma questão de competitividade para as empresas, mas de sobrevivência- diz Edouard Macquin, diretor mundial de Vendas da Lectra.



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