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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 08-02-2018 - 09:59 -   Notícia original Link para notícia
Sem reforma, freio nos juros

BC reduz Selic a 6,75% e sinaliza fim dos cortes. Para analistas, incerteza sobre Previdência pesou



Ao promover o 11º corte seguido da taxa de juros, de 7% para 6,75%, o Copom sinalizou que não deve fazer outra redução. O comunicado do Banco Central deixa claro que o ciclo de queda dos juros, iniciado em outubro de 2016, acabou. Ainda que o BC tenha mantido fresta para nova redução, economistas avaliam que a perspectiva de adiamento para 2019 da reforma da Previdência, principal premissa do ajuste fiscal, e o cenário externo menos favorável podem pressionar a inflação e encerrar o ciclo. -BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO- O Banco Central promoveu ontem o 11º corte consecutivo na taxa básica de juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu, por unanimidade, a Selic em 0,25 ponto percentual, para 6,75% ao ano, seu menor patamar histórico. Em seu comunicado, o Copom afirmou que "vê, neste momento, como mais adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária." Analistas também avaliam que o ciclo de cortes, iniciado em outubro de 2016, chegou ao fim e que isso se deve à incerteza sobre a aprovação da reforma da Previdência.





"Para a próxima reunião, caso o cenário básico evolua conforme esperado, o comitê vê, neste momento, como mais adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária", disse o Copom no comunicado. Mas deixou uma brecha: "Essa visão para a próxima reunião pode se alterar e levar a uma flexibilização monetária moderada adicional, caso haja mudanças na evolução do cenário básico e do balanço de riscos."



Para Paulo Petrassi, da Leme Investimentos, essa fresta foi surpreendente.



- A possibilidade de novo corte citada no comunicado pareceu uma espécie de recado sobre a reforma da Previdência: se ela passar, mesmo diluída, pode ser que o Copom baixe a Selic de novo - explicou. - O mercado já dá a Previdência como caso perdido e, se qualquer coisa sobre ela fosse aprovada, teria impacto positivo, ainda que não resolvesse o quadro fiscal.



MUDANÇA EM CENÁRIO EXTERNO PREOCUPA Tatiana Pinheiro, economista do Santander, concorda. Ela avalia que, se o projeto original da reforma da Previdência tivesse sido aprovado no ano passado, o BC teria condições de estender o ciclo de queda de juros:



- O BC tem repetido, em seus comunicados, que ajustes na economia ajudam a trazer a taxa estrutural de juros do país para baixo. Se a reforma for aprovada, nada impede que o BC estenda o ciclo de de queda, já que a Previdência é o grande gargalo do problema fiscal.



A frustração da continuidade das reformas e dos ajustes necessários à economia é um dos riscos listados pelo BC, pois resultaria em um aumento de juros no mercado financeiro. Isso contaminaria a inflação, o que levaria à alta da Selic. O comunicado citou ainda uma possível mudança no cenário externo, atualmente favorável aos emergentes. Um aumento dos juros nos Estados Unidos mais rápido do que o esperado - algo que alimentou o pânico dos mercados na segunda-feira - faria com que investidores estrangeiros retirassem seus recursos das economias emergentes.



Mas o BC também listou fatores benéficos, que podem levar a inflação a ficar abaixo do esperado, como ocorreu em 2017. Entre eles, o efeito da queda nos preços de alimentos e de bens industriais. Há ainda a possível propagação do IPCA baixo nas perspectivas de inflação futura - ou seja, o empresário deixou o hábito de subir preventivamente o preço com medo da inflação, o que criava um círculo vicioso. Para este ano e 2019, as projeções do BC apontam inflação de 4,2%, abaixo do centro da meta, de 4,5%. No ano passado, o índice ficou abaixo do piso, de 3%.



Para Patrícia Pereira, gestora de Renda Fixa da Mongeral Aegon Investimentos, o cenário do BC só muda se a reforma da Previdência passar. Mas ela não espera que isso ocorra:



- É muito baixa a probabilidade de uma alteração que permita uma nova redução. Só mesmo a reforma da Previdência, e a probabilidade de ela ser votada é muito baixa.



JUROS REAIS 'AUDACIOSOS' O economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, porém, não acredita que a aprovação da reforma vá mudar o cenário para a Selic:



- Se tivesse sido feita no ano passado, poderia ter aumentado a probabilidade de novos cortes. Mas, hoje, mesmo que ela passasse, não levaria o BC a cortar a Selic. O texto está diluído, e o governo segue negociando seus detalhes.



Para Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama, não há espaço para novos cortes da Selic:



- Não temos mais perspectiva de uma inflação cadente, não teremos nova supersafra... Os juros reais começam a ficar audaciosos para um país que não tem perspectiva de melhora fiscal até onde a vista alcança. Ir adiante com o corte de juros seria audácia demais.



Com o corte de ontem, o Brasil saiu da 4ª para a 5ª posição no ranking de juros reais do mundo, elaborado pela Infinity Asset/Moneyou.



Pelo Twitter, o presidente Michel Temer afirmou que o governo fez o "dever de casa" e criou as condições para o BC cortar os juros. "O Brasil acaba de receber uma ótima notícia. A taxa básica de juros caiu para o menor nível da história, para 6,75% ao ano. Isso é motivo para comemorar."



Entidades empresariais, como Fiesp e Firjan, elogiaram a decisão do Copom, mas alertaram que, sem as reformas, os avanços macroeconômicos podem se perder. Já a Força Sindical classificou o corte de tímido.



Logo após a decisão do Copom, Itaú, Bradesco e Santander anunciaram redução nos juros de suas linhas de crédito.


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