Do pagode anos 90 no Barro Preto, passando pela festa em tom caseiro em Santa Tereza até chegar ao axé, já naturalizado belo-horizontino, cidade abre alas para a diversidade na folia
2018 Baianeiros Me beija que eu sou folião! E me abraça que eu estou em BH! Ontem, todos os ritmos se cruzaram no pré-carnaval da cidade, tanto na percussão dos pagodeiros como no trio elétricos dos amantes fervorosos do axé baiano ou na festa mais família de bairros como o Santa Tereza, na Região Leste da capital. A chuvinha manhosa que foi e voltou durante todo o domingo serviu para refrescar os neurônios e amplificar a energia dos integrantes dos blocos Me Beija que Eu Sou Pagodeiro, que se concentrou com roda de samba, e Asa de Banana, mistura mineira dos nomes Ásia de Águia e Chiclete com Banana, tradicionais de Salvador. Em todos os casos teve espaço para muita fantasia, animação e para os delírios que fazem a graça da festa.
Eram 8h30 do domingo e já tinha folião no maior agito na Rua Tenente Brito Melo, em frente a Sala Minas Gerais, no Bairro Barro Preto, à espera da saída do Me Beija que Eu Sou Pagodeiro. O bloco que dança ao som de samba e pagodes dos anos 1990, "tipo Só pra Contrariar (SPC), Molejo e Katinguelê", segundo os organizadores - está no seu quinto ano de desfiles em Belo Horizonte e trouxe a bateria com 50 músicos e trio elétrico.
Enquanto aguardavam o cortejo, que saiu depois do meio-dia, os integrantes do bloco se deixavam maquiar com muito glitter nas cores vermelha e amarela. O assessor João Sânzio se entregou aos cuidados da maquiadora Marina Amaral, e gostou do resultado. Para dar maior uniformidade à turma, a direção apresentou uma coleção de sunga, pochete e maiôs, sempre nas cores tradicionais do bloco. E muitos já saracoteavam pela pista com o modelito.
O curioso é que teve gente que saiu de casa, ou melhor, do banho, e foi direto para a rua. O estudante de engenharia Matheus Paes, de 23 anos, estava sem camisa e com uma toalha vermelha enrolada na cintura. Ah, de chinelo e óculos escuros também. "Chuva não atrapalha. Se molhar, eu enxugo na toalha", brincou, ao lado da cervejinha gelada e com o pique de quem já tinha saído no Mamá na Vaca, no sábado. Ao lado, o amigo Pedro Coelho, de 23, engenheiro civil, morador do Bairro Estoril, com um chapéu de cone de trânsito - "presente de uma amiga" -, negava de pés juntos estar fantasiado de BHTrans. A propósito, os dois elogiaram a organização do Carnaval 2018.
CHAPA QUENTE O pagode esquentava, chegava gente de todo lado e os ambulantes faziam a festa. Uma moça ofereceu preservativos aos foliões numa cesta de vime e um deles segredou: "O povo acha que o carnaval é só sexo. Pura fantasia. Na verdade, o povo mais bebe do que tudo". Em outro canto, com capas de chuva e arquinhos de unicórnio, as irmãs Duarte - Thais, com o namorado, Lucas Magalhães, Raquel e Bárbara - aproveitavam a maré de alegria. "Sou a única solteira aqui. E garanto que tem muita gente bonita", contou Bárbara.
Com amigos e fantasiada de Cleópatra, a arquiteta Fernanda Saraiva, moradora do Bairro de Lourdes, na Centro-Sul, disse que espera o ano todo pelo carnaval. "Cada vez, o daqui está melhor", assegurou, ao lado do rapaz vestido de homem das cavernas.
BEM-VINDOS Que carnaval de Salvador, que nada. A onda para o bloco Asa de Banana, pela primeira vez desfilando na capital, é reinterpretar as músicas dos baianos Ásia de Água e Chiclete com Banana. Na hora do axé: "Bem-vindo a Salvador", a cantora deu uma paradinha e mudou a toada: "Bem-vindo a BH". O povo adorou e seguiu animado pela Avenida Getúlio Vargas, no Bairro Funcionários, até a esquina das ruas Alagoas e Sergipe. A bateria com 120 homens e mulheres de abadá fez bonito e arrastou a galera sem desafinar.
A bancária Marília Chagas, moradora do Bairro Sion, estava para lá de entusiasmada. "Já passei carnaval na Bahia e no Rio. Agora, é só aqui. Não perdemos nada em energia", afirmou, no tom exato que o reinado de Momo pede aos seus súditos. Sobre a estreia na rua, um dos organizadores resumiu: "Desvirginamos".
No caminho, o casal de namorados Rafael Orsini, jornalista formado, e Júlia Gonçalves, estudante de comunicação, "com uma história de seis anos", vendia bebidas para custear os gastos com o casório. Com bom humor, a jovem carregava uma tabuleta com a frase "Nos ajude a casar". Sorrindo, Rafael confessou: "Estamos há dois dias, e acho que a grana já dá para pagar a prestação do sofá".2019 do Asa de Banana misturaram Minas com Bahia no tom da percussão
Os pagodeiros do Me Beija foram para a rua com 50 músicos e trio
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