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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 20-01-2018 - 08:43 -   Notícia original Link para notícia
Entrevista: Roberto Azevedo - Tecnologia do bitcoin vai ajudar comércio

Diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) afirma que operações de vendas externas podem ficar mais baratas e simples. Ele acredita que a presença de Donald Trump em Davos vai facilitar as negociações comerciais


"Uma tecnologia que dê segurança e confiabilidade às transações pode ser de grande utilidade para reduzir custos, simplificar transações e facilitar o acesso ao comércio"


Qual a sua expectativa em relação ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, com a presença do presidente Donald Trump?


QILAI SHEN/BLOOMBERG/3-9-2016Aviação. Azevêdo: parceria entre Embraer e Boeing influencia contenciosos na OMC


Vejo como uma oportunidade para o diálogo, algo de que o mundo precisa muito hoje. A presença de figuras importantes na delegação americana, como o responsável pelas negociações comerciais dos EUA e o ministro do comércio, também é algo positivo. Temos que aproveitar o momento para buscar mais aproximação. Haverá inclusive uma reunião com diversos ministros de Comércio para discutir temas da OMC. Quais as perspectivas para a economia mundial e, mais especificamente, para o comércio internacional em 2018?


Estamos começando o ano com perspectivas cautelosamente otimistas no cenário econômico global. O crescimento econômico no segundo semestre de 2017 nos EUA, Europa e Japão foi maior que o previsto, ajudando a aquecer a economia global. Os dados de comércio ainda não estão fechados; nossa última previsão para 2017 era de crescimento de 3,6%, e estamos confiantes de que o número será próximo a esse. Para 2018, nossa expectativa é que o comércio internacional cresça 3,2%, o que é positivo, sobretudo depois de vários anos de crescimento muito modesto do comércio no pós-crise de 2008. Qual a sua opinião sobre o bitcoin? O bitcoin está no centro de um debate mundial. É cedo, e mesmo difícil saber que rumos tomará. Dito isso, acho que há um grande potencial relacionado à tecnologia do blockchain, que está por trás da moeda virtual. Uma operação de exportação-importação, por exemplo, envolve muitas etapas e diferentes intermediários. Para isso, uma tecnologia que dê segurança e confiabilidade às transações pode ser de grande utilidade para reduzir custos, simplificar transações e facilitar o acesso ao comércio. Certamente vejo potencial para aplicação dessa tecnologia na área do comércio internacional. O setor privado já tem levantado essa bandeira.


O comércio eletrônico já faz parte da agenda da OMC. Houve avanços na última conferência ministerial, realizada em Buenos Aires?


Certamente. Em dezembro, na reunião ministerial da OMC, 71 países lançaram uma iniciativa sobre comércio eletrônico com vistas a preparar negociações comerciais nessa área. O grupo, que responde por 77% do comércio global, inclui países como o Brasil e também os EUA. Pode ser o começo de um esforço global para melhorar o ambiente regulatório nessa área, trazendo benefícios para consumidores, empresas - especialmente as pequenas - e governos.


Está em alta o debate sobre parcerias na área de aviação entre grandes empresas detentoras hoje de subsídios consideráveis: por exemplo, Embraer e Boeing, de um lado, e Airbus e Bombardier, de outro. Esses novos players


globais vão criar desafios adicionais nas disputas comerciais?


Sem dúvida, as mudanças na indústria aeronáutica influenciam as disputas na OMC. Atualmente, o Brasil tem um contencioso aberto contra o Canadá, envolvendo justamente a Embraer e a Bombardier, em que questiona incentivos concedidos pelo governo canadense. Ao mesmo tempo, EUA e União Europeia questionam benefícios que um e outro concedem, respectivamente, a Boeing e Airbus. Alianças, fusões e aquisições nesse mercado podem, sim, afetar contenciosos em curso.


O Uruguai vem dizendo que a reforma trabalhista no Brasil poderia ser classificada como dumping. O senhor teria algo a comentar?


Nas regras da OMC, dumping tem uma definição muito específica, que não se relaciona com custos trabalhistas. Um país não pode, por exemplo, sobretaxar um produto para nivelar custos trabalhistas eventualmente mais baixos no país onde foi produzido. Como o custo da mão de obra é algo com impacto direto sobre a competitividade e o comércio internacional, muitos países têm interesse numa discussão global sobre o tema.


Programas de incentivos fiscais, como o Inovar Auto, foram condenados pela OMC. Agora está em discussão o Rota 2030 para o setor automotivo. Quais cuidados devem ser tomados para que o Brasil não venha a ser questionado novamente?


As regras da OMC dão margem ampla para que um país implemente políticas de apoio também ao setor produtivo industrial. Claro que existem certos limites, mas eles estão centrados em basicamente duas regras. Em primeiro lugar, um país não pode condicionar benefícios à obrigação de vendas no mercado externo. Segundo, não pode haver vantagens para uma empresa em razão de ela adquirir insumos nacionais ao invés de importados. Afinal, o produto importado já pagou impostos adicionais quando cruzou a fronteira. E isso não é só para o Brasil. Essas regras valem igualmente para todos os membros da OMC.


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