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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 06-01-2018 - 08:03 -   Notícia original Link para notícia
Verão com preços de inverno

Principais itens consumidos na estação ficam 1,35% mais baratos, mostra pesquisa da FGV


Embora o comércio tenha comemorado o Natal da retomada, no verão do Rio os preços estão bem menos escaldantes. A FGV mostrou que, em uma cesta de 22 itens de verão, a queda média foi de 1,35% em 12 meses. Nas praias, comidas, bebidas e aluguel de cadeiras e barracas estão custando o mesmo que no inverno. Nas lojas, ventiladores e aparelhos de ar-condicionado subiram, em média, menos que a inflação, e há preços até 40% inferiores aos de dezembro. Com menos dias de sol e desemprego ainda alto, a procura pelos produtos diminuiu. Quem está acostumado a pagar caro para curtir o verão carioca até se espanta com o cartaz na Praia de Ipanema: "latão por R$ 5". Normalmente, a cerveja nas barracas da orla sai por R$ 6 ou R$ 7 nesta época do ano, mas a combinação entre consumo ainda fraco e clima ameno tem garantido preços menos escaldantes do que o esperado - se os clientes são poucos, a ordem é não perder nenhum. O fenômeno de segurar preços é generalizado e já começou a ser percebido antes mesmo da virada do ano. Segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) repassado com exclusividade ao GLOBO, os itens mais procurados na estação ficaram, em média, 1,35% mais baratos no acumulado em 12 meses até dezembro.


MÁRCIO ALVESDesconto. O vendedor Gerson dos Santos, em Ipanema: apesar de anunciar produtos por R$ 6 ou R$ 7, ele conta que precisa ceder e vender quibes e esfirras por R$ 5


Nas areias, não é só a cerveja que está em promoção. É possível encontrar água de coco a R$ 4 e aluguel de cadeira a R$ 5, por exemplo. Os valores são parecidos com os cobrados no inverno, quando a procura por esses produtos é menor. Enquanto isso, o estudo da FGV mostra que o preço da erva-mate caiu 3,23%, e o do protetor solar recuou 6,15% em 12 meses até dezembro. Na prática, alguns itens ficaram mais baratos e outros subiram menos que a inflação. Ventiladores e circuladores ficaram apenas 0,68% mais caros, enquanto o preço do ar-condicionado avançou 1,67% - taxas bem menores que a média da inflação, que ficou em 3,23% no período. O que mais puxou a média para baixo foi a deflação de 15,59% das frutas, reflexo ainda da boa safra de alimentos, que ajudou a segurar os preços em 2017. A pesquisa foi baseada no Índice de Preços ao Consumidor (IPC). A cesta é composta por 22 itens.


- A economia se recuperou um pouquinho, mas ainda há um desemprego altíssimo. A resposta é uma despesa menor. O consumidor vai à praia, mas para ter um lazer barato. Leva a própria água, o protetor, de modo que não precise de nada do barraqueiro, seja guarda-sol ou alimentos e bebidas, que, se sabe, são mais caros fora de casa - explica o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), autor do levantamento.


Os preços de produtos e serviços são influenciados pela relação entre oferta e procura. Se muitas pessoas querem comprar um produto, o preço sobe, e vice-versa. Embora o varejo tenha encerrado o ano comemorando o Natal da retomada, o crescimento das vendas foi sobre uma base fraca. Além disso, a recuperação do mercado de trabalho ainda não ganhou fôlego. E há também a memória da crise, que provoca mais cautela em parte dos consumidores. Por isso, especialistas explicam que o cenário não é suficiente para fazer os preços subirem. Seja nas lojas de eletrodomésticos ou nas areias.


- O varejista sabe que, se ele errar na mão no reajuste, essa ligeira recuperação será comprometida. Não tem espaço para reajuste de preços, só se tivermos uma retomada mais forte do mercado de trabalho - resume Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), que alerta para um possível efeito nos preços dos reajuste de combustíveis e energia, mas só a partir de abril.


No Rio, o clima ameno é outro fator por trás dos preços mais baixos. Segundo dados das estações meteorológicas do Sistema Alerta Rio, a média de temperaturas máximas foi de 34,1°C entre 21 de dezembro e 3 de janeiro, quatro graus abaixo do que foi registrado no mesmo período do ano passado, quando chegou a 38,3°C. Resultado: menos gente nas praias, apesar da cidade lotada para o réveillon. E a tendência é de mais chuva.


- Neste mês de janeiro, a previsão é de temperaturas um pouco mais baixas do que o normal e muita chuva. Esta semana, somente de quarta para quinta-feira, no Recreio dos Bandeirantes, choveu metade do esperado para o mês inteiro - explica Aline Ribeiro, meteorologista do Climatempo.


MOVIMENTO ABAIXO DO ESPERADO


Na última quarta-feira, enquanto o Rio se preparava para uma frente fria, quem estava na orla reclamava do movimento. O barraqueiro Ricardo Dias Teixeira, que apelou para a promoção de cerveja que abre esta reportagem, explicou que a estratégia lhe custou parte do lucro.


- Diminuí a margem de lucro, mas compensei com mais vendas. A margem caiu 14% nas duas últimas semanas do ano. A esperança de melhora é este mês, porque o carnaval já não é mais aquele estouro para as vendas na praia, por causa dos blocos - conta o barraqueiro, há 18 anos no Posto 9, em Ipanema.


No Leblon, o barraqueiro João Antônio adotou tática semelhante. Cobrava R$ 5 pelo aluguel da cadeira ou guarda-sol, em vez dos habituais R$ 7 ou R$ 8 do verão. Nem assim conseguiu evitar encalhar parte do material. Por volta das 15h, precisou devolver para o depósito cerca de 70 cadeiras.


- Tentei alugar, mas não teve jeito - conta o comerciante, que explica que está aberto a negociação. - Às vezes o pessoal pechincha, e não perco o freguês. Tem gente que leva duas cadeiras e um guarda-sol por R$ 10, por exemplo.


Paulo Juarez, presidente da Associação do Comércio Legalizado de Praia (Asscolpra), que representa 540 barraqueiros, acredita que essa será a tendência da estação: - Se aumentar, acaba não vendendo. Perto dali, o vendedor de salgados Gerson dos Santos conta que, apesar de anunciar seus produtos a R$ 6 e R$ 7 (quibe e esfirra, respectivamente), precisa fazer promoções para manter os clientes:


- Hoje, já vendi várias esfirras a R$ 5, além das promoções de duas por R$ 10. No Ano Novo, ainda consegui vender pelo preço cheio, mas, nos dias seguintes, precisei baixar para vender.


Fora das areias, a tática é semelhante. No Parque Madureira, na Zona Norte, o vendedor de picolés Selmo Augusto lamenta o tempo instável e manteve o preço em R$ 3 para não perder clientes.


- Nesta época, no ano passado, eu vendia mais ou menos 150 unidades por dia. Agora, com sorte, chego a cem. Hoje (ontem), só trouxe 50. A gente depende do tempo e, por enquanto, a previsão não está boa. Na semana passada, não trabalhei porque não tinha movimento.


A temporada de promoções, no entanto, é bem-vinda pelos consumidores.


- Aqui no parque, são muito mais acessíveis do que na praia. Mas os vendedores não têm muito como mexer nos preços, porque muitas pessoas já costumam trazer lanches e bebidas de casa - comenta o analista de sistemas Renato Arial.


Atendente do Quiosque da Boa, Willian Isidoro conta que os estabelecimentos do parque estão adotando os mesmos preços do início do ano passado. Por lá, os latões de cerveja custam R$ 6 (exceto Itaipava, por R$ 5), e os refrigerantes, R$ 5:



- O salário mínimo só aumentou R$ 17, muita gente já gastou o 13º salário, e o movimento diminuiu muito com toda essa crise. Esse tempinho também não está ajudando.


Varejo liquida ar-condicionado e ventilador


Descontos chegam a até 40% neste início de ano. Estratégia é usada para escoar os estoques


Nas lojas, há um refresco para o bolso do consumidor que procura artigos relacionados ao verão, como ventiladores e aparelhos de ar-condicionado. Varejistas começaram o ano com promoções que reduziram os preços desses produtos de 5% a 40%. De acordo com Luiz Henrique Vendramini, diretor comercial da Via Varejo, empresa que administra as marcas Casas Bahia e Ponto Frio, artigos de ar e ventilação estão até 40% mais baratos este mês em relação a dezembro:


- A mudança de preços é influenciada, principalmente, pela renovação de estoques e pela oportunidade de vendas gerada em janeiro, um dos períodos mais tradicionais do calendário varejista e bastante esperado pelos clientes, que aproveitam a virada do ano para comprar produtos que ficaram na lista de desejos a preços especiais.


No Walmart, os preços estão menores em relação ao verão do ano passado em itens como caixas térmicas, com queda de 15%; e em alguns modelos de ventiladores e ar-condicionado, com preços de 5% a 10% mais acessíveis. Segundo a rede, além da inflação em queda, a negociação especial com fornecedores garantiu as condições especiais.


O consultor em varejo Marco Quintarelli explica que as redes precisam adotar estratégias para escoarem os estoques do ano passado:


- Aparelhos de ar condicionado e ventiladores não são trocados com tanta frequência, e o consumidor está bastante precavido em matéria de gastos. Há muitos inadimplentes tentando organizar seus gastos, e o varejo precisa competir com as despesas recorrentes no início do ano, como material escolar, IPVA e IPTU.


Em uma loja da Rua Uruguaiana, a vendedora Priscila Ferreira pesquisava antes de comprar um ventilador.


- O mais impressionante é que há diferença grande de preços em lojas na mesma rua. (Marcela Sorosini)


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