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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 02-01-2018 - 06:50 -   Notícia original Link para notícia
Pressão de energia e alimentos

Em 2018, luz, gasolina e produtos alimentícios, com safra menor, serão os vilões da inflação







"Entramos o ano dependendo do regime de chuvas de verão e do nível dos reservatórios. A retomada da economia aumenta o consumo de energia"
Luis Otávio Leal Economista-chefe do ABC Brasil



Com previsão de safra 10% inferior à de 2017, os alimentos, que são 25% dos gastos das famílias, devem pressionar a inflação este ano. Luz e gasolina, com estimativa de alta de 10%, também devem ser vilões do índice. Mas economistas preveem que o IPCA ficará perto de 4%. Em 2017, os alimentos deram uma trégua no orçamento do brasileiro, com uma queda inédita de 5,3% no acumulado em 12 meses até novembro. Este ano, porém, o comportamento benéfico destes produtos consumidos em casa, que foram os verdadeiros "mocinhos" da inflação, não deve se repetir. As previsões apontam que a safra de grãos em 2018 deve ser quase 10% inferior à colheita recorde do ano anterior. Além da alimentação, que representa 25% dos gastos das famílias, outros itens devem fazer o papel de vilões na cesta de compras dos brasileiros, como a tarifa de energia elétrica e o preço da gasolina, que devem ter alta superior a 10% cada.



O resultado oficial da inflação do ano passado será divulgado no próximo dia 10, mas a expectativa do mercado é que o índice tenha encerrado o ano abaixo do piso da meta, de 3%. Apesar da pressão maior de alimentos, energia elétrica e gasolina sobre os índices de preços este ano, o próprio Banco Central, em seu último relatório trimestral de inflação, previu inflação abaixo do centro da meta, atualmente em 4,5% ao ano, até 2020. Neste cenário, a alta maior dos preços não será um problema macroeconômico, mas deve interferir na gestão da renda das famílias. Em 2017, com a queda no preço dos alimentos, os brasileiros puderam direcionar parte da sobra no orçamento para o consumo, o que contribuiu para ajudar o país a sair da recessão.



Luiz Roberto Cunha, economista da PUCRio, lembra que energia, gasolina e alimentos representam quase um terço dos gastos da família. Com a mudança no comportamento da inflação, o consumidor voltará a fazer mais trocas para equilibrar o orçamento:



- O consumidor já está acostumado a fazer trocas e deixar de comprar alguns produtos quando há alta de preços de alimentos. A previsão é que eles subam de 4% a 5% este ano. É óbvio que, quando esses itens estão mais baratos, sobra mais para outros investimentos, como ocorreu no ano passado - disse o economista, acrescentando que o aperto no orçamento pode ser menor em razão da recuperação do mercado de trabalho, o que significará mais gente com renda.



MENOR REAJUSTE DO MÍNIMO EM 24 ANOS



A economista Maria Andreia Parente Lameiras, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), explica que a política de juros mais baixos do Banco Central - atualmente a Taxa Selic está em 7% ao ano, o menor patamar da história do país -e a perspectiva de recuperação da economia vão estimular o consumo, o que também acaba pressionando os preços para cima. Em compensação, o salário mínimo, fixado em R$ 954, tende a equilibrar essa balança. O reajuste aplicado, de 1,8%, foi o menor em 24 anos, já que é indexado à inflação, o que deve reduzir os custos salariais e impedir aumentos maiores nos preços dos serviços.



- Com reajustes salariais menores do que em anos anteriores, o custo com a mão de obra vai ser menor - ressalta a economista do Ipea.



Apesar de o Banco Central ter sinalizado recentemente a perspectiva de uma nova redução da taxa básica de juros, a Selic, no início deste ano, o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo de Castro, acredita que os juros não devem pôr em risco o cumprimento da meta de inflação em 2018, pois são compatíveis com o atual grau de ociosidade da economia:



- Embora a taxa de desemprego tenha começado a ceder, ainda se encontra em patamar muito elevado em termos históricos, e a ociosidade ainda é grande na economia.



De acordo com as previsões de analistas, o IPCA, índice oficial de inflação, deste ano deve acelerar em relação a 2017, chegando a 3,96% contra menos de 3% no ano passado. Se as projeções se confirmarem, a taxa fica abaixo da meta do governo de 4,5%.



- Ainda que acelere, temos folga, pois vamos sair de um piso de 3%. Temos uma margem muito boa para não passar dos 4,5% de meta. O cenário é positivo - avalia a economista, que prevê inflação de 2,9% em 2017 e de 4% este ano.



Leandro Negrão, economista do Banco Bradesco, acredita em uma inflação de 3,9% para 2018. Ele pondera que será um ano de incertezas em relação aos preços administrados (controlados pelo governo) por causa do setor elétrico e dos preços do petróleo:



- Temos o petróleo, cujo barril está no patamar de US$ 65, mas é suscetível a riscos geopolíticos, e seu preço pode subir, pressionando a gasolina.



O combustível deve encerrar 2017 com alta de 10,95% e subir nessa mesma magnitude em 2018, de acordo com o diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires.



Luis Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC, também destacou o risco de as tarifas pressionarem a inflação para cima. Mesmo assim, ele prevê que o IPCA fique em 2,8% em 2017 e em 4,2% em 2018:



- Em relação à energia elétrica, entramos o ano dependendo do regime de chuvas de verão e do nível dos reservatórios. A retomada da economia aumenta o consumo de energia. Na parte de óleo e gás, vamos depender do mercado externo.



Alessandra Ribeiro, economista da Consultoria Tendências, prevê inflação de 4,1% em 2018. Na sua avaliação, o maior risco para manter os preços comportados é a eleição:



- O cenário eleitoral pode ter efeitos importantes na percepção de risco e pode levar o mercado a desvalorizar o real, o que pressionaria a inflação - comentou a economista, em referência às eleições presidenciais deste ano.



O Banco Central, em seu relatório trimestral de inflação, traçou um cenário mais favorável para o país, apesar da turbulência política e do risco de não aprovação da reforma da Previdência. As expectativas são de retomada de crescimento mais acelerado e de inflação abaixo do centro da meta até 2020. De acordo com o texto, o IPCA deve oscilar em torno de 4% nos próximos três anos.



Quando o Banco Central descumpre a meta de inflação, o que deve ter ocorrido no ano passado, ele tem de mandar uma carta ao ministro da Fazenda para dar explicações. Será a primeira vez que um presidente do BC terá de se justificar por entregar uma inflação abaixo do piso desde que o regime de metas foi implantado, em 1999.





NÍVEL DE RESERVATÓRIOS EM BAIXA



Com a falta de chuvas e o nível de reservatórios das hidrelétricas baixo, a conta de luz deve continuar apertando o orçamento do brasileiro este ano. Até novembro, enquanto a inflação geral oficial do país acumulava alta de 2,8% em 12 meses, a variação da energia elétrica chegava a quase 10%. Pelas projeções do diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, a energia deve acumular em 2017 alta de 10,41% e manter esse patamar de alta em 2018:



- Ano passado, os níveis dos reservatórios ficaram baixos, e o governo teve de ligar as termelétricas, cujo custo de funcionamento é alto, o que levou a muitos meses de cobrança extra nas contas de energia. A tendência é bem parecida para 2018.



Ano passado, o brasileiro teve cobrança extra na conta de luz em nove dos 12 meses: três de nível amarelo, mais brando, e seis de bandeira vermelha, mais cara. Na última sexta-feira, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou que, este mês, não haverá cobrança extra.



De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico, o nível dos reservatórios no Sudeste e Centro-Oeste estava em 21,6% no último dia 28 - inferior aos 33,88% em igual dia de 2016. No Nordeste, o mais castigado, a situação é pior: o volume estava em 12,08%.



Dólar deve oscilar mais com incerteza em disputa eleitoral



Moeda pode bater R$ 4. Há risco de rebaixamento da nota do Brasil



"Não vamos ter um ano tranquilo. Tem muita incerteza no horizonte. A economia está melhorando, mas pode não ser sustentável" Sidnei Nêhme Economista



-BRASÍLIA- As oscilações na cotação do dólar devem voltar a preocupar este ano. As incertezas políticas, a alta dos juros nos Estados Unidos, a queda das taxas aqui, dúvidas sobre a reforma da Previdência, a possibilidade de rebaixamento de nota de crédito do Brasil e, principalmente, a disputa eleitoral devem influenciar a cotação da divisa. As cerca de cem instituições financeiras ouvidas pela Banco Central esperam que o dólar termine o ano cotado a R$ 3,30. Especialistas, entretanto, acreditam que a barreira dos R$ 4 seja quebrada durante a disputa presidencial. A incerteza é tanta que se a moeda tiver o movimento contrário e terminar abaixo de R$ 3 não seria surpresa. O único consenso é de turbulência pela frente.





Possibilidade de candidatura de Meirelles gera mais dúvidas sobre a condução da campanha eleitoral



A certeza é que a cotação não deve refletir os fundamentos da economia - que estão melhores - mas o estresse do mercado financeiro com o cenário eleitoral. Algumas corretoras ouvidas pelo GLOBO já pensam em indicar o dólar como uma aplicação interessante em 2018. Enquanto isso, os técnicos do governo ficaram mais apreensivos. Um forte efeito sobre o dólar já faz parte dos cenários alternativos nos bastidores, principalmente se a reforma da Previdência não avançar:



- Acho que tanto os riscos eleitorais e fiscais vão aumentar os prêmios de risco e bater nos ativos, incluindo o dólar. Sem a perspectiva de que vai haver alguma reforma da Previdência, o buraco é imenso. O que nos salva é a perspectiva de reformas e, se isso deixar de existir, não será bonito - previu uma fonte da equipe econômica, que ainda projeta que a turbulência pode afetar a vida de quem planeja passar férias no exterior.



CENÁRIO MAIS INCERTO Um dos maiores nomes do mercado no assunto alerta que o cenário pode ser ainda pior que na campanha de 2002, quando a moeda americana disparava a cada avanço do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas. Naquela época, lembra Sidnei Nêhme, economista-chefe da corretora NGO, o Brasil conseguia poupar para abater juros da dívida e as contas da Previdência não estavam tão pressionadas como agora. Segundo ele, essa é a grande diferença.



- Não é só uma questão de Lula e Bolsonaro (Jair Bolsonaro, do PSC-RJ).



Ele argumenta que está claro que o governo não tem base de apoio. E isso é sinônimo de um ano difícil e estressado no qual as questões políticas devem se sobrepor às econômicas. Outro ponto que pode aumentar a incerteza é a candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Nêhme projeta muita turbulência na disputa dentro do próprio governo se isso ocorrer:



- Não vamos ter um ano tranquilo. Tem muita incerteza no horizonte. A economia está melhorando, mas pode não ser sustentável.



Para o economista da Icap Ítalo Abucater, 2018 deve repetir o ano da reeleição da presidente Dilma Rousseff: com câmbio que responde aos rumos indicados pelas pesquisas eleitorais.



- Os candidatos que sobraram são péssimos e Meirelles, que seria o preferido do mercado, não tem apoio dentro do próprio governo. O cenário político é horroroso - frisou o analista, que espera um ano de rali com o dólar e operadores da Bolsa estressados: - O cassino do mercado financeiro estará a todo vapor.



A visão é compartilhada pelo economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito. Ele lembra que a economia tem crescido com mais força do que o estimado anteriormente e que uma alta do dólar terá impacto nos preços. Atualmente, esse é o menor problema da equipe econômica, porque o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar o ano em 2,8%. A meta era de 4,5% com um limite mínimo de 3%. E o Banco Central, no seu relatório de inflação, espera que o IPCA fique abaixo da meta até 2020, pelo menos. No entanto, a volta do aumento de preços deve complicar ainda mais o cenário político num ano eleitoral.



- É eleição. Só isso já teria um aumento natural do câmbio, mas o cenário político conturbado deve ter um peso maior - disse Perfeito.



O economista acredita que o dólar vai subir a R$ 3,60:



- Ainda há fluxo para cá, mas não me surpreenderia se fosse para R$ 4 ou mais porque os juros nos Estados Unidos devem subir mais. Como eu acho que a variável de ajuste vão ser os juros de longo prazo, o diferencial deve continuar favorável pra cá (permitindo a entrada de dólares no país) - disse o economista ao lembrar que a perspectiva é de uma nova alta de juros no ano que vem também no Brasil.



DISCURSOS MENOS RADICAIS



Mais otimista que os colegas, a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, acha que a campanha não deve trazer tantos problemas como o previsto pelos demais analistas. Ela analisa caso a caso. Diz que o ex-presidente Lula já ensaia um discurso "paz e amor" e que o deputado Jair Bolsonaro tenta adotar tom liberal.



- O problema é que as pessoas acham que o Brasil é um país tão diferente que precisa de políticas criativas. E ignora o manual de políticas bem-sucedidas - resumiu a economista em um debate em Brasília.


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