Faltam estatísticas para avaliar a produção deste tipo de cosméticos no Brasil, mas estima-se que o mercado da América Latina movimente US$ 60 milhões Gigantes do setor usam produtos como açaí, babaçu, buriti e castanha na fórmula de cremes e sabonetes

Éuma coisa de pele: terceiro maior mercado consumidor para produtos de higiene e beleza do planeta - perdendo apenas para Estados Unidos e Japão - o Brasil se apresenta como um campo promissor para os cosméticos orgânicos. Pesquisa da GFK, agência alemã de tendências, indica que mais de 50% dos brasileiros levam em conta o impacto ambiental de cremes, xampus, hidratantes e itens de maquiagem na hora da compra. Essa preocupação com a sustentabilidade tem tudo para levar o Brasil a fazer bonito em um setor que, segundo a consultoria britânica Organic Monitor, estará faturando US$ 16 bilhões ao ano (cerca de R$ 50 bilhões), até 2020, com uma taxa de crescimento da ordem de 10% a cada doze meses.

"A cosmetologia está em processo de transformação. As pessoas estão cada vez mais preocupadas com o impacto que suas ações têm no meio ambiente e, neste contexto, o mercado de produtos orgânicos para higiene e beleza encontra espaço para se expandir", diz Simone Valladares, diretora Comercial da Reserva Fólio, de Nova Friburgo, primeira marca brasileira de cosméticos a obter o certificado orgânico da Associação de Certificação Instituto Biodinâmico (IBD). A entidade é credenciada pela União Europeia e Estados Unidos para avaliar os orgânicos produzidos no país.

Do laboratório da Reserva Fólio saem sabonetes (transparentes, cremosos ou de argila), loções hidratantes e, a partir deste mês, uma linha exclusiva para bebês. Todos produzidos com óleos vegetais e sem componentes tradicionais dos cosméticos, como o parabeno (derivado do petróleo) e os compostos químicos industriais.

A marca, criada em 2003, também está prestes a abrir sua primeira loja física. Tudo muito natural. Afinal de contas, a Reserva Fólio tem o DNA da Suavitrat e da Ubon, duas empresas da família de Simone que, há mais de 40 anos, usam elementos da natureza para fazer cremes e sabonetes. "A produção brasileira de cosméticos orgânicos ainda é pequena, em comparação ao mercado externo. Mas vai crescer, sem dúvida", observa a executiva. FLORA TROPICAL Ainda faltam estatísticas para avaliar a produção deste tipo de cosméticos no país, mas o Organic Monitor aponta que o mercado da América Latina tem negócios em torno de US$ 60 milhões (cerca de R$ 190 milhões). O viés de crescimento não é embalado apenas pela preocupação ambiental ou tendência mundial. Matérias-primas brasileiras estão conquistando a indústria de produtos de higiene e beleza. Gigantes do setor, como a Body Shop, usam ingredientes como açaí, babaçu, buriti e castanha do Brasil em seus sabonetes e cremes. As campeãs de vendas no Brasil (O Boticário, Naturan e Jequiti) também apostam nos componentes extraídos da flora tropical.

Para quem quer investir neste mercado, uma dica: 30% dos cosméticos orgânicos vendidos no país são para a pele. Em segundo lugar, despontam os produtos para o cabelo. "Percebemos uma maior procura pelos nossos produtos mesmo em um momento econômico adverso. O comércio como um todo foi obrigado a se reinventar, procurar novas marcas e se abrir a novas ideias para atrair seus consumidores", afirma Breno Bitencourtt Jorge, CEO da Souvie.

A Souvie é uma das líderes no segmento de cosméticos orgânicos brasileiro. Entre 2016 e 2017, registrou crescimento de 100%. A empresa tem uma fazenda em Bom Sucesso de Itararé (SP), onde cultiva seus principais ingredientes; e uma fábrica em Itupeva (SP) capaz de produzir até 100 mil kg/mês de xampus, hidratantes, condicionadores e sabonetes, além de duas linhas especiais: uma para recémnascidos e outra para grávidas. "O orgânico é um caminho sem volta, em que a ética precede a estética e a saúde é indissociável da beleza", avalia Breno Jorge.