Todos os dias o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), unidade de Belo Horizonte que é referência em Minas Gerais para atendimento a politraumatizados, recebe 15 pessoas que sofreram acidente de moto na região metropolitana. Quando o cenário leva em conta apenas ocorrências que acontecem dentro da capital, a BHTrans tem percebido um perfil predominante de motociclista acidentado: pessoas com menor experiência sobre duas rodas e que tem migrado para esse meio de transporte recentemente, justamente o perfil apontado por uma pesquisa divulgada ontem pela Câmara dos Dirigentes LojistasCâmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDLCDL/BH), a partir da campanha educativa Ande Seguro.

Durante três meses, em entrevistas com 653 motociclistas, a CDLCDL/BH percebeu que mais pessoas estão usando a motocicleta para se deslocarem para o trabalho, escola ou para o lazer em BH, ocupando uma fatia maior do bolo que era amplamente dominado por quem usa a moto como instrumento de trabalho e normalmente passa por mais qualificação. A pesquisa mostra que a presença dos motofretistas recuou bastante, saindo de 44% dos entrevistados em 2016 para 29% dos abordados em 2017.

Isso não significa, segundo o coordenador da Câmara Setorial Duas Rodas da CDLCDL/BH, Milton Furtado, que os motofretistas diminuíram nas ruas da cidade. "Eu acho que aumentou o número de não motofretistas, que são as pessoas que deslocam no dia a dia com motocicleta. A gente vê uma migração das pessoas que tinham carro, que é um custo alto, para motocicletas, que têm um custo menor", afirma Milton, atribuindo à crise econômica uma explicação importante para entender essa alteração no perfil dos entrevistados.

"O deslocamento é rápido, mais ágil e mais barato. Muita gente pegou o carro, deixou em casa e voltou a andar de moto. Isso é um reflexo que você pode ver nas próprias concessionárias, com o aumento do volume de motos seminovas na venda, que melhorou demais. A moto nova também tem tido um crescimento ainda modesto, mas tem um crescimento", complementa Milton Furtado. Os dados da frota de motocicletas em BH também indicam a subida na circulação desse tipo de veículo em BH.

Essa constatação da presença de novas pessoas usando as motos a partir de um trabalho de entrevista que aconteceu entre agosto e outubro vai de encontro com uma observação do diretor de Sistema Viário da BHTrans, José Carlos Mendanha Ladeira. "O que a gente tem identificado é que o acidentado atualmente é o novo motociclista", diz. Ladeira acrescenta que existe um movimento de regularização constante da profissão de quem usa a moto para trabalhar, transformando o motoboy em motofretista o que, consequentemente, aumentou a conscientização e a segurança.

Além disso, José Carlos aponta que as ações de implantação de áreas exclusivas para as motos também tem gerado impacto nesse cenário para quem trabalha usando a moto e precisa cada vez mais de uma agilidade nos deslocamentos. Em maio de 2016, a empresa iniciou a implantação dos chamados motoboxes para melhorar a segurança entre os motociclistas, principalmente na hora da arrancada.

Segurança

Foram destinadas áreas na frente dos semáforos na Avenida Cristiano Machado para o posicionamento das motos, que podem arrancar antes dos demais veículos e por isso evitam a saída no corredor. A iniciativa migrou também para a Avenida Amazonas e agora está sendo implantada em dois corredores que passam pelo Bairro Padre Eustáquio.

A campanha Ande Seguro da CDLCDL realizou 18 paradas educativas em BH, abordando mais de 3 mil condutores entre 8 de agosto e 26 de outubro. Uma das percepções com as paradas foi a quantidade de motociclistas na Região Leste de Belo Horizonte, por isso a BHTrans também prevê a implantação dos motoboxes na Rua Niquelina e na Avenida dos Andradas. "Ainda não dá para dizer que é em função disso (implantação de motobox), mas os acidentes diminuíram", acrescenta José Carlos.

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