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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 14-11-2017 - 09:09 -   Notícia original Link para notícia
Perdas e ganhos da Petrobras

Com queda na venda de combustíveis, lucro da estatal é de R$ 266 milhões, abaixo do esperado


O lucro da Petrobras ficou em R$ 266 milhões no terceiro trimestre do ano, abaixo dos R$ 2,7 bilhões previstos por analistas. A estatal perdeu mercado nas vendas de gasolina e diesel. A perda de participação da Petrobras na venda de gasolina e diesel no Brasil fez a estatal registar lucro abaixo do esperado pelo mercado. No terceiro trimestre, a companhia teve um ganho de R$ 266 milhões, abaixo do projetado por analistas, que previam lucro em torno de R$ 2,7 bilhões. Mas, apesar disso, o resultado reverteu o prejuízo de R$ 16,458 bilhões no terceiro trimestre de 2016. Assim, no ano, o lucro acumulado totalizou R$ 5,031 bilhões, contra perdas de R$ 17,334 bilhões no mesmo período de 2016.



Na avaliação de analistas, outros dois fatores pesaram negativamente no resultado, o que explica o lucro abaixo do esperado: programas de regularização de dívidas com o governo federal e perdas com contingências judiciais, um impacto de R$ 2 bilhões no trimestre. Desse total, o Refis representou uma redução de R$ 900 milhões no lucro. Entre os fatores positivos, a companhia destacou maiores exportações, a preços mais elevados, de petróleo e redução de 18% nos custos. Houve ainda uma redução de 12% no número de funcionários nos primeiros nove meses.


Com a ajuda do câmbio, o endividamento total da companhia chegou a US$ 113,5 bilhões no terceiro trimestre, pouco abaixo dos US$ 113,8 bilhões do período findo em junho. A companhia também reduziu seus investimentos. No terceiro trimestre, foram R$ 10,435 bilhões, menos que os R$ 12,259 bilhões do mesmo período de 2016. No ano, o total é de R$ 33,4 bilhões, queda de 19%. Dessa forma, a Petrobras conseguiu ter um fluxo de caixa livre positivo por dez trimestres consecutivos. No acumulado de 2017, foram R$ 37,4 bilhões, 26% superior ao mesmo período do ano passado.


- O resultado teve aspectos positivos. Conseguimos manter a margem operacional e o fluxo de caixa. A participação de mercado é um ponto de atenção que estamos olhando de perto. Houve ainda os itens extraordinários, que reduziram o número final. Mas a tendência é positiva. E gostaríamos de pagar dividendos o mais rapidamente possível. Queremos fazer em 2017, mas não podemos garantir - disse Pedro Parente, presidente da estatal, na apresentação do balanço.


EXPORTAÇÕES CRESCEM 39% Com a maior concorrência, a Petrobras registrou queda na comercialização de combustíveis no país. No ano, entre janeiro e setembro, as vendas de gasolina, em volume, caíram 3%, e as de diesel recuaram 10%. Segundo Jorge Celestino, diretor de Refino e Gás Natural, a Petrobras forneceu ao mercado 76% do diesel consumido no país. No caso da gasolina, a participação da estatal foi de 83%.


- Vamos fazer uma análise competitiva e trazer para a diretoria novos programas estratégicos para manter nossa participação de mercado e criar novas políticas e novas margens de preço. Hoje a importação de gasolina é de cerca de 50 mil a 60 mil barris por dia. Já a de diesel está entre 280 mil e 300 mil barris por dia. Não temos como prever qual será o comportamento do mercado - disse Celestino, quando perguntado sobre qual será a estratégia da companhia para recuperar o mercado.


Por outro lado, a Petrobras destacou o aumento das exportações. Os embarques aumentaram em 39%, enquanto as importações da estatal recuaram 19%, entre janeiro e setembro. Segundo Parente, a margem da exportação é menor que a da venda dos derivados no mercado interno, o que ajuda a explicar o resultado no trimestre.


- A margem da exportação é menor que a da venda interna, mas ainda assim é positiva. A política de preços da companhia entrou em vigor em outubro de 2016. E, se levar em conta esse período até 31 de outubro deste ano, a variação na gasolina feita pela Petrobras foi de 1,4%, sem imposto. Levando-se em conta a alteração na tributação, o aumento chega a 22,1%. No caso do diesel, reajustamos o preço em 4,1%. E com os impostos a alta chega a 14,6%. É preciso dar transparência a isso - afirmou Parente.


POLÍTICA DE PREÇOS FARÁ EFEITO AGORA Ainda assim, para analistas de mercado, a nova política de preços ainda não teve impacto significativo sobre a geração de caixa da estatal. A geração de caixa operacional, medida pelo Ebitda, ficou em R$ 63,571 bilhões entre janeiro e setembro deste ano. Isso representa uma queda de 1% em relação ao mesmo período de 2016. No terceiro trimestre, a geração de caixa ficou em R$ 19,223 bilhões, contra R$ 22,262 bilhões um ano antes.


- No terceiro trimestre, e mesmo nos trimestres anteriores de 2017, o preço do petróleo se manteve na faixa de US$ 50 o barril. E o câmbio não teve grande variação. Vamos sentir os efeitos da nova política de preços no quarto trimestre. No último mês e meio, o barril do petróleo chegou a passar dos US$ 60 - disse Phillip Soares, analista da corretora Ativa Investimentos.


Dessa forma, entre alta nas exportações e redução nas vendas internas, a receita chegou a R$ 207,1 bilhões entre janeiro e setembro, queda de 2% em relação ao mesmo período do ano passado. A receita trimestral foi de R$ 71,8 bilhões, alta de 2% frente ao terceiro trimestre de 2016.


Com a venda de ativos, a produção de petróleo da companhia no Brasil caiu 4,35%: foram 2,197 milhões de barris diários no terceiro trimestre deste ano, abaixo dos 2,297 milhões de barris/dia registrados no mesmo período de 2016. Considerando-se a produção de gás, o total caiu de 2,869 milhões para 2,749 milhões por dia, na mesma comparação.


Soares, da Ativa, destacou o resultado da alienação de bens e baixa de ativos - como no Comperj -, que levaram a uma perda de R$ 750 milhões no trimestre. Para ele, as baixas continuarão a ser a grande incógnita nos balanços.


Pedro Galdi, analista da corretora Magliano, elogiou a redução do endividamento. No ano, a dívida líquida caiu 11%, passando de R$ 314,120 bilhões para R$ 279,237 bilhões. Ele avaliou que a tendência é que a dívida caia com o esperado IPO (abertura de capital) da BR Distribuidora:


- A empresa continua fazendo uma faxina, mas não sabemos até quando ela vai limpar o balanço. Essa é a grande dúvida do mercado.



Perto do calote, Venezuela não faz acordo em reunião com credores


Com menos de US$ 10 bi em reservas, país precisa renegociar dívida


País tem dívidas de US$ 150 bilhões e está à beira do calote. Desabastecimento provoca filas para comprar comida (foto) -CARACAS, SÃO PAULO, RIO E BRASÍLIACom uma dívida total de US$ 150 bilhões e menos de US$ 9,7 bilhões em reservas internacionais, a Venezuela está à beira do default. Uma reunião realizada ontem, em Caracas, entre o governo venezuelano e credores para discutir um plano de renegociação da dívida externa terminou sem acordo. Em paralelo, os detentores de bônus em Nova York decidiram continuar hoje um encontro, nos Estados Unidos, para avaliar o atraso nos pagamentos da Venezuela.



ANDRES MARTINEZ CASARES/REUTERS/30-8-2017


No vermelho. Posto com a marca da estatal PDVSA, em Caracas: incluindo débito da petroleira, dívida bate US$ 150 bi


A reunião de ontem em Caracas, que durou apenas 25 minutos, foi comandada pelo vicepresidente Tarek El Aissami, que leu um comunicado responsabilizando as sanções impostas pelo governo americano de Donald Trump pelos atrasos nos pagamentos pela Venezuela, sem apresentar, porém, nenhuma proposta para renegociação.


- Basicamente, eles (os venezuelanos) afirmaram que os últimos atrasos em pagamentos da dívida eram devido a problemas operacionais, atribuindo às sanções dos Estados Unidos - declarou à AFP Gerónimo Mansutti, gerente de finanças da bolsa Rendivalores.


Cerca de 300 credores ou seus representantes participaram do encontro realizado a portas fechadas no Palácio Blanco, em frente à Casa do Governo. Analistas não acreditam na possibilidade de um acordo, pois as sanções dos Estados Unidos contra a Venezuela proíbem seus investidores de negociar a dívida venezuelana. Quase 70% dos donos de títulos são americanos e canadenses. Ou seja, não seria possível trocar esses títulos por outros de prazo mais longo.


IMPACTO NO BRASIL Em Nova York, a Associação Internacional de Swaps e Derivativos (ISDA), que reúne proprietários de títulos da dívida, disse ontem que verificou informações "sobre se ocorreu uma interrupção de pagamento" de um bônus da PDVSA, a estatal de petróleo, de US$ 1,161 bilhão. O governo garante que já transferiu os recursos, mas os credores não haviam recebido até sexta-feira.


A dificuldade de receber por suas vendas, desde que foi instalado o estado de emergência na Venezuela, em 2016, levou muitas empresas brasileiras a reduzirem as exportações ao país vizinho, e até mesmo, em muitos casos, a encerrarem esse fluxo comercial. O setor de aves, por exemplo, chegou a ter na Venezuela o quinto maior mercado comprador sete anos atrás. Mas, desde 2014, o total embarcado, em toneladas, caiu quase oito vezes. Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) mostram que, entre janeiro e setembro deste ano, foram embarcadas 20,5 mil toneladas de aves para a Venezuela. Em 2014, no mesmo período, o volume fora de 160,5 mil toneladas.


- Desde 2015, empresas do nosso setor começaram a registrar atrasos nos pagamentos dos produtos. E o maior comprador é o Ministério da Alimentação, mas nem ele tem a garantia do governo para pagar os produtos. Hoje, quem ainda continua vendendo para a Venezuela só faz negócios à vista - diz Francisco Turra, presidente da ABPA.


Grandes empresas do setor de aves, que vendiam regularmente para a Venezuela, chegaram a ter mais de US$ 50 milhões em pagamentos atrasados. Companhias aéreas brasileiras, como a Gol e a Latam, também mantêm suspensos seus voos para o país desde 2016, devido às dificuldades para receber.


O coordenador do MBA de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas, Oliver Stuenkel, afirma que a Venezuela já vinha deixando de pagar credores menores, como as empresas brasileiras. Agora, com a possibilidade de default de títulos da dívida soberana ou da PDVSA, a crise se agrava, já que muitos desses papéis estão nas mãos de fundos de investimento que vêm financiando o país.


- Se não receberem, estes fundos podem acionar cortes internacionais. Em tese, eles poderiam reter navios de petróleo venezuelano que chegam aos seus destinos como garantia de recebimento. Acredito que o governo venezuelano vai tentar postergar ao máximo a decretação de default para evitar problemas com a venda de petróleo - diz Stuenkel.


Ele afirma que é difícil saber qual é o tamanho do calote do governo venezuelano e de importadores privados com empresas brasileiras. Mas ele lembra que as companhias nacionais tinham ao menos US$ 6 bilhões a receber em contratos fechados em 2015 para os próximos anos, antes da entrada em vigor do estado de emergência.


O consultor Welber Barral, exsecretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, afirma que, entre seus clientes, exportadores de alimentos e produtos de linha branca deixaram de vender para a Venezuela, nos últimos anos, por causa do risco de calote. Ele lembra que a Venezuela chegou a importar mais de US$ 5 bilhões anuais de produtos do Brasil. Mas a partir de 2013, quando a situação começou a se agravar com a queda do preço do petróleo e a redução das reserva internacionais, a venda se resumiu a alimentos.


SANÇÕES DA UNIÃO EUROPEIA O Ministério da Fazenda brasileiro enviou correspondência à embaixada da Venezuela para informar sobre o atraso no pagamento de US$ 262,5 milhões.



Ontem, os ministros de Relações Exteriores da União Europeia aprovaram sanções econômicas contra a Venezuela, que incluem um embargo de armas, afirmando que as eleições regionais realizadas no mês passado aprofundaram a crise no país. Entre as medidas previstas nas sanções econômicas estão proibição de viagens e congelamento de ativos de alguns integrantes do governo, mas os nomes não foram divulgados ainda. A determinação da UE abrange ainda possíveis futuras sanções contra "responsáveis por graves violações dos direitos humanos". Desde o início dos protestos da oposição venezuelana, em abril, são ao menos 125 mortos em quatro meses.


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