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O Globo Online (RJ) ( Rio ) - RJ - Brasil - 12-11-2017 - 09:48 -   Notícia original Link para notícia
Livrarias se reinventam para enfrentar crise e internet

Guia lançado mês passado lista 204 lojas que diversificam o negócio com papelarias, bistrôs e eletrônicos


Diante da concorrência digital, livrarias do Rio tentam resistir aos novos tempos. Lançado no mês passado, guia lista 204 em atividade. Há três anos, eram 252. Muitas das que sobrevivem diversificaram o negócio e vendem de chocolate a cachaça. Vista de fora, a Livraria Camerino, na Zona Portuária, parece uma loja de fotocópias, miudezas e artigos de papelaria. Mas quem cruza uma das três portas do antigo imóvel, em frente ao Jardim Suspenso do Valongo, descobre lá dentro um mundo de estantes e prateleiras abarrotadas de publicações usadas, entre elas, livros didáticos, romances, guias, almanaques e revistas raras. São 15 mil títulos à venda no sebo aberto desde 1971 e que pertence, há várias gerações, à família do livreiro Paulo Félix, de 55 anos. Já a livraria Lumen Chisti é especializada em edições novas, com conteúdos religiosos, mas quem procura a lojinha no pátio do Mosteiro de São Bento, também na área do Porto, encontra, ainda, chocolates e doces produzidos no Sul do país, imagens e medalhas.


FOTOS DE GUITO MORETOMiscelânea. Paulo Félix, proprietário da Livraria Camerino, aberta desde 1971 na Zona Portuária: além de artigos de papelaria e miudezas, espaço tem 15 mil títulos à venda no sebo, entre didáticos, romances, guias e revistas raras


Os dois endereços estão no "Guia de Livrarias da Cidade do Rio de Janeiro", lançado pela Associação Estadual de Livrarias (AEL-RJ), no mês passado. Editado após dois anos de pesquisa, o material, no entanto, já chega às mãos dos leitores com necessidade de correção: dos 204 estabelecimentos listados, oito já fecharam as portas. Há três anos, eram 252.


Segundo o presidente da associação, Antônio Carlos de Carvalho, esse foi o primeiro guia do gênero produzido pela instituição e, como o objetivo era fazer um mapa completo, o levantamento incluiu todos os tipos de estabelecimentos do ramo. Há pequenas livrarias de rua, sebos, as que têm bistrô, as religiosas, as que diversificam com papelaria e as megalivrarias, que também vendem artigos eletrônicos. A diversificação pode ser a razão de essas casas resistirem aos tempos céleres da internet e dos e-books.


A MAIS ANTIGA É DE 1897


Das 204 apresentadas no guia carioca, a da Federação Espírita (Avenida Passos 28), fundada em 1897, é a única em atividade desde o século XIX. Além disso, sete foram abertas em 2016. No texto de abertura, o guia explica que esta mudança de perfil das lojas é, na verdade, uma volta às origens, "quando o livro era apenas um dos itens oferecidos":


- Infelizmente, algumas que estão no guia, como a Casa Cruz e uma filial da Saraiva no Centro, fecharam. Mas ele mostra que ainda existem muitas. A realidade é que a grande maioria não vende só livros. Vende jogos, CDs, revistas e até café. Muitas se transformaram quase em bazares. Mas acredito que ainda é possível viver só de vender livros na cidade. Tanto que nossa família esta há mais 40 anos nesse ramo, e minha livraria só vende livros - defende Antônio Carlos, dono da Galileu (Rua Major Ávila 116, Tijuca).


Das livrarias cariocas, 25% são de títulos gerais, de várias áreas de conhecimento. As outras são segmentadas. Há 33 livrarias religiosas (sendo 15 evangélicas) e 27 sebos, segundo o guia. As que vendem livros didáticos e paradidáticos somam 28. A Livraria Camerino (Rua Camerino 52, Centro), por exemplo, tem principalmente livros de ciências exatas, para estudantes de graduação.


- Vendo pela internet para estudantes de 38 faculdades do Brasil, principalmente livros de engenharia e matemática. Metade do meu movimento vem daí - conta Paulo Félix, que, nos dias de visita guiada à Zona Portuária, costuma receber turistas à procura de livros sobre a história da região.


A Solário (Rua Sete de Setembro 169) é uma das tradicionais que resistem no Centro. Mas, como a maioria, também aderiu às vendas pela internet :


- Nos meses de janeiro e fevereiro, o forte são os didáticos. Ao longo do ano, vendemos os outros tipos de livros, como romance, esoterismo, autoajuda e infantis. Estamos sempre brigando com as vendas pela internet, com redes que compram em atacado e dão descontos. Tem até rede de eletrodomésticos vendendo livro no site. Mas, pela minha experiência, quem gosta de ler não vai desistir nunca de um livro. Temos que continuar - diz o gerente Alfredo Silva, há 15 anos na Solário.


Uma folheada no guia mostra que muitos proprietários diversificaram os negócios para garantir a sobrevivência. A Antiqualhas Brasileiras (Rua da Carioca 10, Centro) exibe na vitrine cachaça, objetos antigos e algumas capas de obras sobre o Rio Antigo. A Letra Viva (Rua Luís de Camões 10) é outro exemplo. No amplo salão, estantes de livros usados dividem espaço com as mesas de um bistrô. O proprietário Luiz Barreto acredita que o caminho para atrair os leitores é o ambiente:


- Somos um sebo, mas não aquele modelo antigo, escuro, empoeirado, mal-arrumado. O cliente vem e tem vontade de ficar mais tempo. Também fazemos leilões virtuais de livros de arte. O importante é diversificar os negócios.


ZONA NORTE TEM MAIS ESPAÇOS


Os endereços indicados no guia são divididos pelas regiões da cidade, com mapas e um pequeno resumo de cada estabelecimento. A Zona Norte aparece em primeiro lugar, com 63 lojas; seguida do Centro, com 60; da Zona Sul, com 54, e da Zona Oeste, com 28. A publicação, que não será vendida, foi distribuída para editoras, livrarias e órgãos públicos.


Em 2014 e 2015, a cidade perdeu 18 estabelecimentos, segundo a associação. Para Bernardo Gurbanov, diretor-presidente da Associação Nacional de Livrarias, a crise do setor não pode ser interpretada como o fim do livro:


- O desafio de manter uma livraria é muito grande. O livro concorre com muitas outras alternativas de entretenimento, com as novas tecnologias. E cabe às livrarias e às editoras buscarem alternativas, como oferecer serviços agregados. Mas acredito que o livro vai manter seu espaço, porque um mundo sem histórias é inconcebível.



Segundo o Painel das Vendas de Livros no Brasil, pesquisa que o Sindicato Nacional dos Editores de Livros divulga mensalmente em parceria com a Nielsen Bookscan, apesar da crise, houve um crescimento de 6,02% na quantidade de livros vendidos no país. Estudos mostram que o número de leitores voltou a aumentar: em 2011, representava 50% da população e, em 2015, chegou a 56%. O índice de leitura indica que o brasileiro lê, em média, 4,96 livros por ano. A média anterior era de quatro.


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