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O Globo Online (RJ) ( Sociedade ) - RJ - Brasil - 08-11-2017 - 10:16 -   Notícia original Link para notícia
'Devemos criar uma cultura familiar que inclua a tecnologia'

Sistemas de inteligência artificial vão reforçar ainda mais a influência das ferramentas digitais sobre crianças e jovens, diz pesquisadora


Mestre em psicologia pela Universidade da Basileia, Suíça, Sandra Cortesi estuda a relação de crianças e jovens com as tecnologias digitais e mídias sociais no Centro Berkman Klein para Internet e Sociedade da Universidade de Harvard, nos EUA. Ela está no Rio para participar do Simpósio Global: Inteligência Artificial e Inclusão, que acontece de hoje a sexta-feira no Museu do Amanhã, no Centro do Rio. Cerca de 200 especialistas de mais de 40 países vão discutir como os avanços na área estão mudando o mundo. Sandra também é uma das principais participantes da única atividade pública do simpósio: o painel "A vida no futuro", amanhã, às 18h. Confira parte da conversa dela com O GLOBO:


SHUTTERSTOCK.COMIntimidade. Jovens grudados em seus celulares: discussões de agora vão ajudar a moldar o futuro das relações humanas com novas tecnologias


Estamos vendo a chegada à vida adulta da primeira geração dos "nativos digitais", jovens que cresceram num mundo conectado. Como isso afetou seu desenvolvimento e como a inteligência artificial (IA) pode reforçar a influência destas tecnologias sobre crianças e jovens de hoje e do futuro?


Em muitas partes do mundo os jovens têm acesso cada vez maior e mais cedo às tecnologias digitais e aprenderam muito bem como usá-las. Assim, não é surpresa que isso teve grande impacto em todas as áreas da sua vida, como sua identidade, suas amizades, suas relações, assim como as maneiras como aprendem e se expressam. Não é muito diferente do que aconteceu com os adultos. Mas sobre as tecnologias de IA, ainda não temos muitos estudos sobre seu impacto nas crianças e jovens. Temos duas áreas que apenas estamos começando a explorar: a IA na educação e aprendizado, como o desenvolvimento de tutores ou assistentes virtuais, e a IA no bem-estar mental dos jovens, com algoritmos que possam detectar seus humores, se estão deprimidos ou estão tendo pensamentos suicidas, numa estratégia de prevenção ou intervenção.


Atualmente já vemos este tipo de tecnologia criando "bolhas digitais" que, de certa forma, "limitam"


o acesso a informações de acordo com o que calculam ser nossos interesses e preferências, reforçando assim ideologias e vieses cognitivos. A introdução da IA nesses algoritmos exacerba ainda mais isso?


Claramente a IA tem e terá um impacto cada vez maior no desempenho destes algoritmos, que já estão influenciando fortemente as informações que vemos nas mídias sociais, como o Facebook. Isso não vai desaparecer e muito provavelmente vai se intensificar, mais uma vez afetando não só os jovens como os adultos. E é por isso que encontros como este simpósio são tão importantes. Precisamos discutir se queremos que estes algoritmos sejam definidos de uma maneira que tenha um resultado positivo para a sociedade, como, por exemplo, se devem ser justos e inclusivos, levando em conta questões como a diversidade etc.


Então a IA poderia ser usada para melhorar estes algoritmos, tornando-os mais abertos e conscientes à diversidade de informações disponíveis, de forma a romper estas "bolhas", ou nos instigar a sair delas?


De modo geral sou otimista, mas creio que os algoritmos com IA podem tanto reforçar estas "bolhas" quanto ajudar a rompê-las. Por isso temos uma grande responsabilidade como sociedade, não só os jovens como famílias, professores, empresas de tecnologia, criadores de políticas e tomadores de decisão, de trabalharmos juntos quanto a isso. Todos conversando para coletivamente desvendarmos que tipo de mundo queremos criar, como queremos que estes algoritmos sejam.


E o que os pais podem, ou devem, fazer na relação de seus filhos com as tecnologias digitais e de IA?



O importante é procurar se informar que tipos de novas ferramentas estão disponíveis. A partir daí, ter uma conversa honesta com seus filhos sobre o que estão fazendo, o que mais gostam, de uma forma que não seja criar regras e proibi-los de usar as coisas. As pesquisas mostram que abordagens regulatórias, em que os pais, por exemplo, proíbem os filhos de usar algo, não funcionam. Se a quiser usar aquela tecnologia, ela vai encontrar uma maneira. Deve-se criar uma cultura familiar que inclua a tecnologia.


Palavras Chave Encontradas: Criança
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