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Estado de Minas Online ( Feminino e Masculino ) - MG - Brasil - 05-11-2017 - 11:15 -   Notícia original Link para notícia
Procuram-se parceiros

Estilista está em busca de profissionais que queiram desenvolver juntos novos produtos



Compartilhar é a palavra da vez para Lucas Magalhães. Depois que a sua marca deixou o Grupo Nohda (formado agora por Patricia Bonaldi, PatBo e Apartamento 03), o estilista decidiu apostar todas as fichas em colaborações, inclusive com os antigos companheiros. Mais que nunca, o jovem acredita que o futuro da moda está em desenvolver produtos em parceria. 
E não só roupas. Lucas já está acostumado a criar com outras marcas, para os desfiles do Minas Trend, sapatos, bolsas e acessórios que complementam a sua coleção. Agora ele está disposto a ir mais além e já avisa: está aberto a encontrar novos parceiros. Para marcar esse novo caminho, o estilista planeja lançar, em breve, um e-commerce para vender produtos desenvolvidos em collabs, além das suas roupas por um preço mais acessível.


 


Como você define esse momento da sua carreira?
É um momento de amadurecimento. A decisão [de deixar o Grupo Nohda] num primeiro momento parece assustadora, mas foi de um jeito muito leve, de muita conversa, até mesmo com a Patricia [Bonaldi]. Apesar de toda a liberdade que me davam ali dentro, sentia um peso de ter que fazer aquilo virar resultado numérico. Senti que de alguma forma isso mudou a minha forma de criar, e o meu trabalho foi perdendo levemente a essência. Quando você faz uma coleção livre, aquilo vai repercutir de um jeito, bom ou ruim, mas de um jeito natural, não precisa forçar a barra, não precisa fazer milhões de ações para salvar um produto que, de repente, não está ideal. Quando você cria naturalmente, o produto se encaixa num lugar que é dele, e já se torna original, temos só entender onde ele está.

Em três anos no Grupo Nohda, o que você aprendeu?
Entendi o jeito como a parceria poderia funcionar melhor. Por que não pegar o meu know-how de desenvolvimento e criar para os clientes do grupo? Não achava certo fazer isso dentro de uma marca que tem outra identidade, ainda mais com o meu nome. Senti que precisa de ter esse momento com a minha marca, de ser total libertário, para que pudesse experimentar e errar. Isso me deixou mais feliz, mais leve e muito mais livre para trabalhar, porque eu mesmo criei na minha cabeça uma prisão, comecei a criar limites de até onde podia chegar. Fiquei tão focado no mercado nacional, que tem restrições, que me travei um pouco, esquecendo que existe um mundo inteiro lá fora.

Como a nova parceria ficou 
definida?
Continuo no grupo, só mudou o jeito de trabalhar. Assino a parte de tricô da primeira coleção PatBo com Lucas Magalhães e desenvolvi estampas para a Apartamento 03, o que nunca tinha feito. Quando um monte de criativos se juntam, existe um respeito tão grande que todos acabam se podando para que ninguém se sinta invadido. O Luiz [Cláudio Silva] nunca tinha me pedido para fazer uma estampa. Um dia estávamos tomando cerveja e comecei a rabiscar em um papel na mesa, aí ele disse que tinha tudo a ver com a sua coleção e o desenho virou uma estampa. É tipo um papel de parede mais gráfico, que tem muito a minha cara, que se juntou com a cartela de cores dele. Fomos descobrindo essas colaborações, que para mim são o futuro da moda.
Então, você acredita que o futuro é compartilhar?
É um compartilhar diferente do que as pessoas estão acostumadas, mais real. Muita gente entende que é chegar numa fábrica, pegar um monte de coisa que está pronta e colocar a sua etiqueta. Não vejo assim, acho que é começar do zero. Pelos testes que fiz até agora, vejo que os resultados são muito mais legais quando ocorrem desse jeito. Fiz agora, por exemplo, uma parceria com a Lucchetto, de bolsas. Como não sabia até que ponto a Mariana [Magalhães] podia chegar, fui rabiscando em cima das estampas da coleção e ultrapassei os limites. Quebrei tudo o que ela tinha como regra. Ela não sabia como ia aplicar tanto pedacinho de couro, mas o resultado ficou idêntico ao que eu tinha pensado. A collab só é real quando acontece isso, um desenvolvimento dos dois lados. É uma coisa que quero fazer mais. Não pretendo ter uma fábrica, gosto de conhecer a estrutura que já está formada e desenvolver algo junto. Hoje entendo que sou uma pessoa da criação. Se eu tiver uma fábrica, vou perder tanto tempo tendo que controlar aquilo tudo que essa parte da criação vai se perder, então quero crescer muito com essas colaborações. Estou com um projeto para acontecer logo, que é uma loja virtual de collabs Lucas Magalhães, onde vamos vender as minhas roupas e os produtos de todos os meus parceiros. Neste momento, estou aberto a essa busca. Quem quiser fazer coisa juntos, 'tamos aí'. Para mim, é o que mais me faz bem, porque consigo circular. Se aparecer um parceiro de livro, de escultura, de móvel, por que não fazer? Então, acho que estou me descobrindo, achando um lugar muito novo, onde não preciso me rotular. Você é estilista? Sou, mas também posso ser arquiteto.

O seu público mudou enquanto a marca fez parte do grupo?
Não, acho que ele ficou mais definido. É uma mulher que não quer vestir uma roupa para simplesmente ficar bonitinha. Entendo que a minha roupa vira quase um meio de comunicação. Acho que me conecto com as pessoas quando elas entendem que a roupa é mais que um pano para vestir. Senti muito isso na última Minas Trend. Achava que era uma coisa da minha cabeça, mas teve uma procura grande de lojistas internacionais, que trabalham com as melhores marcas, que conseguiram ver isso, e ainda numa roupa que tem preço competitivo. Não cobro nada absurdo porque não é arte que estou vendendo, é roupa, mas quero que ela tenha um pouco mais de sentimento.

Em quais países a marca 
pode chegar?
Fiz contato no Minas Trend com um comprador que tem loja em Tóquio e Nova York, uma da Grécia, duas de São Francisco e uma em Sidney. E ainda existe a possibilidade de um showroom em Madri levar o mostruário para abrir mercado lá.

Você tem planos de investir mais na moda masculina?
Não queria que o masculino fosse regra, então pontuei no último inverno, no verão já não fiz. Mas estou tendo uma resposta grande do mercado sobre isso, as pessoas querem. Fizemos o investimento na roupa masculina achando que não fosse acontecer, mas surpreendeu. Não tenho mais nenhuma peça em nenhuma loja do Grupo Nohda. É algo que tende a crescer.

Você gosta de ver a sua marca associada ao tricô?
Gosto muito, acho que vem de um processo da vida. Logo que a marca começou, não tinha nada. Aprendi tricô enquanto trabalhei na Coven, depois na Faven, então passei pelas melhores escolas que poderiam existir. Não é uma coisa que quero deixar, até porque valorizo bastante a técnica, mas não quero chegar ao ponto de ter uma coleção 100% de tricô, aí eu acho que teria que cair na história da fábrica. Quando você escolhe uma matéria-prima ou uma técnica como principal, precisa investir naquilo internamente. Dessa vez, a coleção tem 40%. Como estou apostando nas colaborações, entendo em algum momento que o tricô vai diminuir, em outros vai aumentar, então vai ser muito de acordo com o estiver acontecendo.

Por que o tricô encanta você?
É encantador mesmo, não tem outra palavra. Você compra um fio e descobre na máquina o que vai virar. É imaginar que aquilo vai sair de um jeito e sai de outro, muito mais legal do você tinha pensado. Essa abertura para o acaso na moda muitas vezes é importante, e isso o tricô faz muito. É realmente uma ferramenta para o cérebro. Se não tiver por trás um criativo, a máquina não faz nada. Isso é o que mais aprendi. A Liliane Rebehy não me ensinou a fazer tricô, me ensinou a pensar. Não é pegar um manual de instrução. É preciso testar, experimentar, lapidar. É um exercício pesado, mas maravilhoso.

O que você planeja para a sua marca?
O plano nesse momento é crescer com as collabs, para que consiga montar um mix completo de produtos desse jeito, e também crescer em pontos de venda. Nem estava pensando tanto nessa questão do mercado internacional, mas depois do Minas Trend estou enxergando um caminho aberto.

Por que você acha que a sua roupa chama a atenção no exterior?
Isso foi uma coisa que ouvi lá no Minas Trend. O comprador japonês falou que a marca tem uma pegada mundial, por estar dentro das tendências, mas de uma forma não caricata tem uma pegada brasileira. Ele disse: olho para a sua roupa e sei que ela é do Brasil, não sei explicar como. Normalmente, quando as marcas são assim, ou porque caíram na história do praiano ou porque têm um coqueiro ali, uma Amazônia aqui. Agora estou tentando descobrir também onde está esse ponto, até para não perdê-lo, porque não quero me adaptar para virar uma marca europeia. Sou brasileiro e quero carregar isso para o mundo, mas sem ser piegas ou quase folclórico. Na verdade, quero fazer uma moda que é minha, então, como vou perder a coisa do Brasil se sou daqui? Assim como não tem jeito de ter uma pegada de mineirice. Isso tem que ser valorizado.

Qual é a importância da Minas Trend para a sua carreira?
Total, desde o Ready to Go. Foi a primeira vez em que me expus como marca. Não tinha a mínima intenção de fazer isso virar negócio. Na verdade, queria expor o meu lado criativo para arrumar um emprego bom. Achava que era uma roupa que as pessoas não iam querer. Aí comecei a expor para os lojistas, achava que não ia ter pedido nenhum, mas, de repente, vinha alguém e comprava, depois ligava e pedia reposição. Então, subir degrau por degrau me deu segurança para chegar ao ponto de assumir uma marca do jeito que eu acho que tem que ser.

O que você acha de desfilar?
Acho superimportante, mas desfile tem que ser de verdade. Já passei por outras marcas em que o desfile era criado por fora. Você tem que entender se tem gabarito para se expor. Se não tiver um produto para desfile, não faça um desfile, faça outra coisa, um lookbook que seja. Fazer desfile mentiroso é uma bobagem. Primeiro, porque é um investimento alto. Segundo, no fim todo mundo fica frustrado. Você faz uma coleção linda e, quando o consumidor chega na loja, só encontra camiseta? Adoro fazer desfile, porque acho que consigo mostrar o que vai estar na loja de um jeito muito mais novo. Aí entra história do styling, mais no jeito de montar e expor a coisa, mas o produto é o mesmo. Você propõe, dentro daquele mix de produtos, um jeito novo de vestir, mas a pessoa entra na loja e entende que usando o casaco da coleção com camiseta e calça jeans está linda. É preciso desconstruir um pouco o que se vê no desfile, mas aquilo não é mentira. Isso para mim é uma questão séria.

Você pretende continuar desfilando na Minas Trend?
Adoro a Minas Trend, porque ela é o que realmente mostra o jeito que a moda tem que funcionar. Você cria a imagem no desfile, tem o produto exposto e faz a venda, tudo num lugar só. Existem algumas conversas de desfilar na São Paulo Fashion Week, mas tem que ser um passo muito bem pensado.

O que esperar da marca Lucas 
Magalhães?
A vontade do momento é me aproximar do consumidor. Quero ver os meus amigos na rua usando Lucas Magalhães, então estamos trabalhando para adaptar esse produto, até em relação ao preço. Manter a qualidade, mas trazer um pouco mais a marca para perto do consumidor. Com as colaborações, vou conseguir ter uma parte dos produtos mais acessíveis.


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