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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 27-10-2017 - 11:08 -   Notícia original Link para notícia
Pedro Doria - Democracias contra o Vale

Governos começam a buscar formas de regular a publicidade nas gigantes digitais, como Google e Facebook


Ninguém esperava que fosse acontecer tão rápido. Já está na pauta do Senado americano um projeto de lei para regular a publicidade nas gigantes do Vale do Silício. Assinam o texto três senadores - dois democratas, um republicano. E o republicano não é qualquer um: John McCain, herói condecorado de guerra, um dos parlamentares de currículo mais respeitado do país, ex-candidato à presidência. E este é um problema sério para Facebook, Google e companhia.


Os senadores não vão longe: querem regular especificamente publicidade eleitoral. Coisa que é muito difícil. Por mais tímido que seja o movimento, porém, no contexto, a mexida é enorme. Até aqui, havia dois mundos democráticos. De um lado, a União Europeia, botando cada vez mais pressão sobre as empresas digitais da Califórnia, buscando compreender como agem, como afetam a sociedade, o quanto concentram de mercado, se limitam de alguma forma a geração de empregos, que indústrias ameaçam e o quanto dos direitos individuais perturbam. Têm alma reguladora, os europeus continentais. Mas, em contrapartida, com muita cautela, os liberalismos no estilo laissez-faire americano e britânico ainda estavam no jogo de deixar acontecer e esperar para ver.


É isto que mudou, e numa virada dramática: agora, em todos os governos de democracias estáveis tem gente importante querendo regular o digital. Varia o quanto, mas não a convicção de que se faz necessário.


O Facebook gastou US$ 2,85 milhões em lobby perante Washington no terceiro trimestre do ano, 41% mais do que no mesmo período de 2016. O grosso foi gasto no Capitólio, entre deputados e senadores. O Google foi além: US$ 4,17 milhões, quase 10% mais do que no ano passado. O Google, aliás, já é o segundo em gastos com lobby no país.


(Lobby é legal, nos EUA. Parte-se do princípio de que empresas e grupos de interesse têm o direito de se fazer ouvir, de financiar viagens para parlamentares de forma que possam instruí-los a respeito de suas causas, de organizar eventos para serem ouvidos. O importante é que todos os gastos sejam registrados e públicos.)


Aquilo que incomoda cada vez mais gente em Washington é o mesmo que começa a perturbar o governo conservador britânico. Essas empresas que dominam a publicidade digital podem estar servindo de ponte para que nações estrangeiras interfiram nos resultados eleitorais de cada país. Leia-se: Vladimir Putin. Esta semana, os britânicos perguntaram formalmente ao Facebook se há vestígios de publicidade paga por russos para direcionar as eleições parlamentares na ilha de sua majestade a rainha Elizabeth II. Ainda não começaram a fuçar se houve algo no Brexit.


E o problema é este: Facebook, Google, Twitter já informaram ao público americano, embora ainda sem detalhes suficientes, que houve dinheiro russo na campanha que levou ao governo Donald Trump. E o investimento foi meticuloso: sobre temas específicos, em locais nos quais os temas mexem com os brios, e voltados para os grupos demográficos mais suscetíveis.



As informações bastam para afirmar que o Kremlin tentou manipular a eleição presidencial americana e que as empresas de publicidade digital, sejam sistemas de busca, sejam redes sociais, no mínimo não perceberam. O que não é possível dizer é se os russos conseguiram. Donald Trump perdeu no voto popular. Ele venceu em uma meia dúzia de condados que costumam votar nos democratas no Cinturão da Ferrugem. Se havia publicidade nas redes voltada para lá, e para o grupo de operários brancos da classe média baixa que temem por seus empregos e por isso mudaram a escolha, o argumento fica forte.


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