Diariamente, a pesquisadora da UFMG Renata Fernandes se desloca do bairro Cidade Nova até a Pampulha de carro. "Optei pelo transporte individual porque as linhas de ônibus que me atendem passam pouco e costumam vir muito lotadas, além da passagem estar muito cara", explica. Caso o transporte coletivo fosse mais barato e com melhor qualidade, Renata alega que trocaria "sem pensar 2 vezes". "Carro tem muita complicação e altos custos de manutenção. Isso sem contar o preço da gasolina e pequenas dificuldades como encontrar lugar para estacionar, por exemplo", completa.

O relato da pesquisadora é, também, a realidade de outros milhares de belo-horizontinos. De acordo com pesquisa divulgada ontem pela CDLCDL/BH (Câmara dos Dirigentes LojistasCâmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte), 40,9% da população da capital utilizaria sempre o transporte público se esse fosse um serviço "de qualidade e com preço justo"; 18,1% utilizaria quase sempre.

No recorte por classes sociais, o estudo apontou que 44,7% dos entrevistados das classes A/B, que têm maior acesso ao transporte individual, afirmaram que fariam a troca pelos coletivos se houvesse a melhora do serviço. Nas classes C, D e E, a aceitação pela troca seria ainda maior: de 55,8%.

Nos últimos anos, a insatisfação dos usuários foi um fatores que refletiram na quantidade de pessoas no transporte coletivo em BH: de 2015 para 2016, o número de passageiros caiu em pelo menos 7%; se comparado o primeiro semestre do ano passado com o mesmo período deste ano, a queda é ainda maior: de 10%. Já no metrô, a queda do número de passageiros caiu em cerca de 3% de 2015 para 2016.

O professor do departamento de Engenharia de Transporte do Cefet-MG, Guilherme Leiva, explica que, apesar de não ser o único motivo, a insatisfação influencia na queda no número de usuários. "Nós já possuímos uma cultura de utilização do carro e da moto. Além disso, os investimentos realizados em BH, como é o caso do Move, tiveram impacto positivo, mas não o suficiente para atrair o usuário do transporte individual", explica.

Maioria ainda usa o ônibus

A pesquisa da CDLCDL/BH aponta que, apesar das estatísticas mostrarem a queda, a maioria da população de BH ainda utiliza o transporte público para trabalhar: 58,2%, somando os 52,6% que utilizam o ônibus e os 5,6% do metrô. Em seguida, aparecem os que se deslocam até o local de trabalho de carro (26,2%), de moto (9,8%), a pé (5,4%) e aplicativos de transporte (0,4%).

Para estudar, a pesquisa aponta que a procura pelo transporte público é menor: 45,8% dos estudantes utilizam ônibus, enquanto 2,3% utilizam o metrô, totalizando 48,1%. Em seguida, aparecem o carro (29,9%), a moto (12,9%), a pé (4,3%), a van (3,3%) e os aplicativos de transporte (1%).