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O Globo Online (RJ) ( Opinião ) - RJ - Brasil - 07-09-2017 - 12:56 -   Notícia original Link para notícia
BC reduz mais os juros


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PartilharImprimirTraduzirInflação baixa leva Selic a 8,25%. Analistas já projetam taxa em até 6,5% no fim do ano


Com a safra recorde e a queda nos preços de alimentos, a inflação ficou em 0,19% em agosto. O alívio nos preços foi um dos fatores que levaram o BC a reduzir os juros básicos para 8,25%. Analistas preveem que a taxa poderá chegar a 6,5% no fim do ano. -BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO- A queda da inflação, o quadro de recuperação gradual da atividade econômica e o cenário externo favorável levaram o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central a reduzir ontem a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, para 8,25% ao ano - o menor patamar desde julho de 2013. A decisão, já esperada pelo mercado, foi unânime. Citando a projeção para o IPCA, índice usado na meta oficial de inflação, de 3,3% no fim do ano, o Copom ainda indicou que fará novos cortes na Selic, mas de menor magnitude.



"Para a próxima reunião, caso o cenário básico evolua conforme esperado, e em razão do estágio do ciclo de flexibilização, o Comitê vê, neste momento, como adequada uma redução moderada na magnitude de flexibilização monetária. Além disso, nessas mesmas condições, o Comitê antevê encerramento gradual do ciclo", afirmou o comunicado divulgado após a reunião. Para 2018, as estimativas para a inflação estão em 4,4%, praticamente no centro da meta, que é de 4,5%. Esse cenário pressupõe que os juros encerrem este ano em 7,25%, recuem a 7% no início de 2018 e subam a 7,5% no fim do ano que vem.


- O BC está apenas sancionando uma realidade. A inflação pode fechar até abaixo de 3%. E pode ficar abaixo até no ano que vem. É uma coisa bizarra, mas positiva - afirmou o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas. - Antes, o BC falava das reformas. Agora, está sendo mais otimista do que nunca.


A inflação de agosto, divulgada ontem pelo IBGE, reforça a expectativa de novos cortes na Selic. O IPCA ficou em 0,19% no mês passado e, em 12 meses, está em 2,46% - a menor variação acumulada desde fevereiro de 1999. Diante desses dados, já há quem preveja que a Selic possa fechar 2017 abaixo de 7% ao ano, como economistas da ARX e da Sulamérica. O banco BNP Paribas revisou sua projeção para 6,5%.


José Julio Senna, diretor do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV e ex-diretor do BC, não descarta a possibilidade:


- Diante de tudo isso, não vou me surpreender se a Taxa Selic vier abaixo de 7%. Pensar em 7% está de bom tamanho, mas abaixo de 7% não é impossível, em função desse conjunto de fatores. Uma capacidade ociosa elevada, com as expectativas (de inflação) bem ancoradas, permite, de fato, que você dê continuidade ao procescom so. Acho que 7% é uma boa estimativa, mas pode ser um pouco menos.


Alberto Ramos, diretor de América Latina do banco Goldman Sachs, avalia que o Copom fará um corte de 0,75 ponto percentual na sua próxima reunião, em outubro, e outro de 0,5 ponto em dezembro. Com isso, a Selic encerraria o ano em 7%.


Essa projeção também é feita pelo economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall. Mas ele disse à agência Bloomberg que ainda prevê uma redução de 0,5 ponto percentual no início do ano que vem, quando então se encerraria o ciclo de cortes na taxa básica. O Safra projeta que a Selic ficará em 6,5% até o início e 2019. FRUSTRAÇÃO NAS REFORMAS É RISCO O Copom, porém elencou alguns riscos para a trajetória futura dos juros. Como "a frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia", o que teria impacto na inflação em um horizonte relevante" para a política monetária, ou seja, para os próximos dois anos. Outro fator é o fim do atual cenário externo favorável para os países emergentes - a elevação dos juros básicos nos Estados Unidos, por exemplo, poderia levar os investidores internacionais a retirarem recursos de emergentes como o Brasil.


Entre os fatores positivos, o Comitê aponta "o processo de reformas, como as recentes aprovações de medidas na área creditícia", caso, por exemplo, da criação da Taxa de Longo Prazo (TLP), que almeja eliminar o crédito subsidiado para as empresas. "O Comitê entende que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural", afirmou o Copom em comunicado. Também chamada de taxa neutra, é aquela que não estimula e nem controla a inflação. Segundo fontes, a equipe econômica trabalha com um percentual próximo a 4%, já descontada a inflação.


Segundo ranking elaborado pelo site MoneYou e pela Infinity Asset Management, mesmo com o corte de ontem, o Brasil permanece com o terceiro maior juro real (descontada a inflação) do mundo: 3,29%. O país está atrás apenas de Rússia, 4,32%, e Turquia, com 4,02%.


A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) elogiaram a decisão do Copom. Mas o presidente da CNI, Robson de Andrade, ressaltou que, para que o cenário de juros baixos se mantenha, é preciso avançar na agenda de reformas.


- A redução dos juros é essencial para a recuperação das condições financeiras, tanto das empresas quanto dos consumidores, e para impulsionar a retomada da economia - afirmou Andrade.


Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), disse que ainda há espaço para cortes mais incisivos na taxa básica, "para acelerar o crescimento e a retomada do emprego". Já o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, também afirmou que os juros ainda estão muito altos, o que comprime o consumo das famílias.


Seguindo o Copom, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander anunciaram redução em suas taxas de juros.


Bolsa sobe 1,74% e fecha perto de pico histórico


Mercado reage com otimismo à queda do IPCA, alívio no PIB e recuo dos juros


-SÃO PAULO- Os sinais de retomada da economia brasileira ainda são tênues, mas os investidores anteciparam-se e fizeram a Bolsa encostar em seu recorde histórico. Com a queda da inflação, que reforçou a expectativa de corte de juros - o que seria confirmado após o fechamento dos mercados - o Ibovespa, principal índice de ações da B3, fechou ontem em alta de 1,74%, aos 73.412 pontos, a apenas 104 pontos do maior patamar já registrado pelo índice. Uma pequena alta, de 0,15%, no pregão de amanhã será suficiente para que o pico dos 73.516 pontos, registrado em 20 de maio de 2008, seja ultrapassado. O dólar comercial recuou 0,57%, para R$ 3,103.


Para analistas, o que vem impulsionando o índice são as sinalizações de recuperação da atividade no país, combinadas com o excesso de liquidez nos mercados internacionais. O corte de juros dá impulso adicional à retomada do PIB e alivia o caixa das empresas.


Mas, diferentemente do recorde de 2008, alcançado após o Brasil receber o grau de investimento, com a economia crescendo e o desemprego em torno de 8%, agora o país saiu há pouco de uma profunda recessão, ainda tem 13 milhões de desempregados e vive uma grave crise política.


Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor, lembra que, exceto pelo ambiente político, há fatores que justificam esse quase recorde do Ibovespa, que deve ser atingido e ultrapassado a curto prazo.


- Temos uma inflação caindo, a custo de uma recessão forte e desemprego em alta, que ajudou a reduzir os juros. Mas esse processo de queda da Selic ajuda na retomada da economia, e alguns indicadores já mostram uma reação - diz. CENÁRIO EXTERNO MAIS FAVORÁVEL Os dados da inflação (IPCA) divulgados ontem, e da produção industrial, na véspera, reforçaram essa visão.


- Tivemos uma série de notícias boas. O IPCA de agosto veio abaixo do esperado, e a produção industrial subiu, o que reforça o tom positivo em relação à economia. E com o Copom reduzindo os juros em um ponto percentual, tudo leva a uma reprecificação dos ativos de renda fixa, que ficam menos interessantes. Isso ajuda a Bolsa - ressalta Vitor Suzaki, analista da Lerosa Investimentos, observando que, com juros mais baixos, mais investidores devem colocar parte de seus seus recursos em ações, o que também contribui para a valorização da Bolsa.


Suzaki lembra, ainda, que fatores externos pesam a favor. Primeiro, porque a aversão ao risco diminuiu, com os investidores menos receosos em relação a um conflito com a Coreia do Norte. Além disso, há a expectativa de que o governo americano de Donald Trump conseguirá aprovar o orçamento, evitando uma paralisação nos serviços públicos.


Nos Estados Unidos, ontem, o índice Dow Jones subiu 0,25%, e o S&P 500 registrou valorização de 0,31%.


Na véspera do feriado da Independência, a alta do Ibovespa foi sustentada pelo desempenho das ações da Petrobras. As preferenciais (PNs, sem direito a voto) ganharam 4,23%, cotadas a R$ 15,02. Já as ordinárias (ONs, com direito a voto) avançaram 4,37%, a R$ 15,50.


Com o adiamento do julgamento das perdas com planos econômicos, também tiveram altas expressivas os papéis do setor bancário. As preferenciais do Itaú Unibanco e do Bradesco avançaram, respectivamente, 2,68% e 1,51%. As do Banco do Brasil tiveram valorização de 2,37%.


Novo patamar de juro muda regra de correção da poupança



Mesmo com ganho menor, caderneta fica mais atraente do que maioria dos fundos de renda fixa


-BRASÍLIA E RIO- Com a decisão de reduzir a taxa básica de juros a 8,25% ao ano ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) ativou o gatilho que altera a correção da aplicação financeira mais popular do país, a caderneta de poupança. Quando a Selic cai a 8,5% ou menos, a caderneta deixa de render 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR, que é próxima a zero). Sua remuneração passa a ser equivalente a 70% da Selic mais a TR.


Essa metodologia diferente vale apenas para depósitos feitos após maio de 2012, quando a mudança foi introduzida. À época, a intenção do governo era evitar que a poupança esvaziasse o fluxo de investimentos para outros tipos de aplicação, que perderiam atratividade com a queda de juros que ocorria na época.


Mesmo assim, a redução dos juros devolve competitividade à poupança. Segundo simulações feitas por Miguel Ribeiro de Oliveira, da Anefac, a poupança passa a ser mais rentável do que qualquer fundo de investimento de renda fixa com taxa de administração a partir de 2% ao ano. Entre os fundos que cobram 1,5%, eles só batem a caderneta em prazos maiores que dois anos. Nos investimentos de até seis meses, só fundos que cobram 0,5% ao ano superam a poupança.


Isso acontece, segundo ele, porque a caderneta tem seu ganho garantido por lei e é isenta de Imposto de Renda, o que não acontece com os fundos de investimento, cuja tributação varia de acordo com o tempo da aplicação. (Gabriela Valente e Rennan Setti)



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