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O Globo Online (RJ) ( Sociedade ) - RJ - Brasil - 21-08-2017 - 08:00 -   Notícia original Link para notícia
Autonomia ao volante

Setor de automóveis aumenta produção para pessoas que usam cadeira de rodas


Nova adaptação de veículos, que permite que a pessoa com deficiência dirija sem ter que sair da cadeira de rodas, chega ao Brasil. Sair de casa e, sem precisar avisar a ninguém, pegar o carro na garagem e dirigir para onde a vontade levar. Quando se usa uma cadeira de rodas, essa autonomia que a tantos parece banal se torna difícil de alcançar. O setor automobilístico vem aos poucos mudando para ajudar nesse processo. Este ano, um lançamento chama atenção: um carro que a pessoa dirige sentada em sua própria cadeira de rodas.


Prático.


O motorista entra no veículo por uma porta traseira aberta por controle remoto. Os bancos de trás são dobrados para os lados, permitindo a passagem. Assim, ele chega até o volante e ativa um sistema que prende as rodas da cadeira. Ainda por controle remoto, a porta traseira é fechada, e a partida pode ser dada.


Essa tecnologia já existe em países da Europa e nos Estados Unidos, mas a primeira produção nacional chegou ao mercado em junho. O projeto "Pegasus", como foi batizado pela fabricante, a Cavenaghi, desembarcou antes em São Paulo. No Rio, ele chegou no último mês, apresentado na feira Mobility & Show, realizada na Marina da Glória. PREÇO ALTO AINDA É ENTRAVE Segundo a empresa, já há interessados na fila de espera até o ano que vem - seja porque aguardam a liberação de desconto na compra do carro, seja porque querem juntar mais dinheiro até lá. E isso se justifica: somente a transformação do veículo custa R$ 44.200. Em geral, a cadeira motorizada também precisa ser adaptada, o que significa um gasto de mais R$ 2.900. Esse sistema, pelo menos até agora, funciona apenas para um modelo, o Ecosport 1.6.


- Cada carro exige um desenho diferente de transformação veicular - explica o engenheiro mecânico Carlos Cavenaghi, dono da empresa e responsável pelo projeto. - Eu não criei a tecnologia, só me inspirei no que já tinha visto funcionando com sucesso fora do país.


O engenheiro perdeu a conta de quantas vezes ouviu conhecidos que usam cadeiras de rodas - ele não usa - relatando como haviam se sentido bem dirigindo carros como esse, fora do Brasil.


- Ainda não tínhamos no país uma solução plena para quem usa cadeira de rodas dirigir com autonomia. Sempre era preciso ter a ajuda de alguém em algo, como se transferir da cadeira para o assento do carro - afirma Cavenaghi.


Para a assistente social Cristiane Barbosa, da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), a alternativa possibilitada por essa adaptação veicular é bem-vinda, mas as necessidades de pessoas com deficiência são tão variadas que muitas outras iniciativas ainda são necessárias.


- Acho que esse novo tipo de automóvel está em sintonia com muitas das demandas de quem usa cadeira de rodas, mas não resolve por completo. Até por conta do preço, que é inacessível para a maioria das pessoas - analisa ela.


Cristiane conta que a ABBR atende, diariamente, entre 1.300 e 1.500 pessoas, e a grande maioria delas usa cadeira de rodas. Isso dá a dimensão do tamanho desse público.


- Cerca de mil pessoas entre as que nós atendemos todos os dias usam uma cadeira de rodas, seja de forma permanente, seja durante alguma reabilitação. E é bastante comum que quem já teve que utilizar uma vez cadeira de rodas volte a usá-la em algum momento. Este é um grupo realmente grande, que não pode passar despercebido - destaca a assistente social.


Não existem dados de quantas pessoas se locomovem com cadeiras de rodas no Brasil. No entanto, sabe-se que a deficiência motora é a segunda mais relatada pela população, atrás apenas da visual: mais de 13,2 milhões de pessoas afirmam ter algum grau do problema, o que equivale a 7% dos brasileiros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A deficiência motora severa foi declarada por mais de 4,4 milhões. 'VENTO NO ROSTO' Uma dessas pessoas é o goiano Johny de Freitas, de 32 anos, que lesionou a coluna vertebral aos 17, após ser atingido por um tiro. Ele sempre foi apaixonado por automóveis, mas, como perdeu o movimento das pernas e parte do controle do tronco ainda jovem, seu aprendizado no volante foi mais difícil. Ainda assim, hoje mal passa um dia sem dirigir.


O carro dele é dos tradicionais, com adaptações para os pedais e assento comum. Mas o rapaz descobriu na feira de mobilidade realizada na Marina da Glória uma novidade que se tornou seu novo sonho de consumo: um equipamento que, acoplado a uma cadeira de rodas comum, a transforma em um triciclo motorizado elétrico capaz de alcançar 40 km/h.


- É para quem gosta de vento no rosto. E eu gosto - diverte-se Freitas.


O equipamento foi batizado de "Kit Livre" e, desde sua criação, em 2015, é exportado para países como Alemanha, França e EUA. O protótipo surgiu ainda em 2008, como um projeto de mestrado do engenheiro mecatrônico Julio Oliveto.


- Vejo como os grandes benefícios o fato de a pessoa não precisar ser empurrada, descer e subir calçadas com facilidade, passar por ruas irregulares e buracos com menos risco de queda e ainda conseguir certa velocidade - lista Oliveto.



Dependendo do tipo de triciclo, o preço varia de R$ 3.990 a R$ 11.990.


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