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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 08-07-2017 - 11:55 -   Notícia original Link para notícia
Recessão leva Brasil a ter deflação

Em junho, preços caíram 0,23%, menor taxa desde 1998. Energia e alimentos puxaram índice para baixo



"Muito mais que o discurso do BC, são as variáveis que determinam as decisões. Essas variáveis estão evoluindo de forma que favorece a continuidade de queda de juros para um patamar até inferior do que estimamos" Mauricio Molon Economista-chefe do Santander "Foi pontual. Não vamos mais observar deflações nos próximos meses" Marcio Milan Economista da Tendências Consultoria



Foi a taxa de inflação em junho, na primeira vez que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou negativo desde 2006. A recessão, a queda na tarifa de energia e a supersafra agrícola explicam a queda dos preços -RIO E MADRI- Safra recorde de grãos, gasolina mais barata, efeitos da recessão e, principalmente, redução das tarifas de energia elétrica. Esses são os fatores por trás da queda de preços registrada no Brasil em junho, a primeira deflação em 11 anos e a mais intensa em quase duas décadas. O fenômeno é raro - só ocorreu nove vezes desde o Plano Real, em 1994 - e não deve se repetir nos próximos meses, na avaliação de analistas, que continuam a ver, no entanto, espaço para novos cortes dos juros.





No mês passado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial no país, ficou negativo em 0,23%. Isso não acontecia desde junho de 2006, quando o indicador foi a -0,21%. A taxa é a menor desde agosto de 1998, quando havia caído a -0,51% - a menor desde o início da série histórica, em 1994. O resultado surpreendeu o mercado financeiro, que esperava queda de 0,19%, e o Banco Central, que previu recuo de 0,10% para junho.



O número fechado do primeiro semestre também é recorde. A inflação acumulada nos seis primeiros meses do ano ficou em 1,18%, a menor para o período desde o início da série histórica. Já em 12 meses, o índice ficou em 3%. Essa taxa é importante, pois será usada como referência para calcular o limite de despesas do governo em 2018, conforme previsto na emenda constitucional que instituiu o teto para os gastos públicos. Isso significa que o orçamento do ano que vem ficará travado em uma inflação baixa.



O resultado de junho foi puxado pela queda média de 5,52% nas tarifas de energia no país, graças à mudança de bandeira tarifária, que foi de vermelha para verde no mês passado e, assim, suspendeu a cobrança extra de R$ 3 a cada 100 kWh que o brasileiro passou a pagar em abril deste ano. Não fosse esse alívio na conta de luz, o IPCA de junho teria ficado próximo à estabilidade, negativo em apenas 0,03%. As outras principais influências sobre o indicador foram o recuo de 2,84% nos preços de combustíveis e de 0,93% dos alimentos consumidos em casa.



Esse cenário não deve se repetir. Isso porque a bandeira tarifária passou de verde para amarela em julho, o que significa um acréscimo de R$ 2 a cada 100 kWh consumidos. Na avaliação do gerente de comercialização do Grupo Safira, Márcio Davanzo, essa cobrança adicional será observada pelo menos até agosto.



- Pelos próximos dois meses, teremos de novo bandeira amarela. Se confirmado um maior volume de chuvas em setembro e com o período úmido de novembro e dezembro, poderemos ver uma reversão para bandeira verde - afirma o especialista.



ÍNDICE DEVE FECHAR O ANO EM TORNO DE 3,6%



Também pesará no bolso do consumidor a reversão gradual do efeito sazonal, que faz com que as taxas de inflação sejam mais baixas no meio do ano. Das nove vezes em que houve deflação na História do país, quatro foram em junho, incluindo neste ano. Existe ainda o risco de um aumento de impostos sobre a gasolina, que exercerá pressão inflacionária pelo menos nos próximos dois meses.



- O dado de hoje (ontem) foi pontual. Não vamos mais observar deflações nos próximos meses. O indicador deve voltar para o terreno positivo em julho, pelos motivos que o levaram para baixo em junho. Acreditamos que o índice (em 12 meses) desacelere até agosto, somando 2,78% naquele mês, e depois volte a acelerar, até fechar o ano em 3,6%. Estará por trás dessa aceleração a volta da alta dos alimentos. Passados os efeitos da supersafra, os preços dos alimentos começarão a registrar variações mais próximas do padrão histórico - observa Marcio Milan, economista da Tendências Consultoria, que vê inflação de 0,35% em julho.



Luis Otavio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, também observa que a queda da energia foi um ponto fora da curva - assim como a alta de 0,31% no IPCA de maio, em um momento que se esperava desaceleração contínua dos preços.



- Se tirarmos o aumento de 8,98% da energia em maio e a queda de 5,52% em junho, a inflação de maio teria sido 0,02% e a de junho, -0,04%. Ou seja, muito próximo da estabilidade, que não é nada anormal, considerando o período do ano - calcula o analista, que espera alta de 0,2% em julho, mas vê possibilidade de uma taxa maior, caso o governo decida elevar impostos sobre combustíveis até o fim deste mês, quando terá que apresentar o relatório de receitas e despesas.



Segundo o mais recente boletim Focus, divulgado pelo Banco Central na segunda-feira, analistas do mercado esperam que o IPCA voltará a subir nos próximos meses. De acordo com a pesquisa, o índice deve acelerar para 0,18% em julho e, gradualmente, chegará a 0,45% em dezembro.



As perspectivas para o longo prazo, no entanto, continuam de inflação bem comportada. Uma das razões para isso é o efeito da economia fraca sobre os preços. A economista Mirella Hirakawa, do Santander, destaca que já é possível observar esse impacto.



Para avaliar esse efeito da recessão, ela destaca o comportamento de dois grupos de preços que respondem mais ao comportamento da atividade econômica: um indicador de serviços que exclui itens voláteis, como passagens aéreas; e outro de produtos industriais que não considera os alimentos que têm variação sazonal muito forte. A conclusão é que o grupo de industriais já apresenta desaceleração forte, com alta de apenas 1,3% em 12 meses, contra 6,2% em junho passado. Já os serviços sobem 4,7% em 12 meses, patamar abaixo da taxa de 7,6% do ano passado.



Diante de números mais favoráveis, a expectativa é que o Comitê de Política Monetária (Copom) continue a reduzir juros na próxima reunião, marcada para os dias 25 e 26 deste mês. A dúvida é sobre o tamanho desse corte, principalmente diante da crise política. Hoje, a taxa Selic está em 10,25% ao ano.



- A perspectiva de desaceleração (da inflação) permite corte de 1 ponto percentual. A visão do Comitê, no entanto, é mais para uma redução de 0,75 ponto percentual. Mas tem muitas dúvidas. Não se sabe nem quem vai ser o presidente no momento da reunião do Copom. Será que o mercado vai estar tranquilo? O dólar vai estar disparando? - destaca Leal, do ABC, que espera que a taxa básica caia a 8,5% ao ano até o fim de 2017.



Para o economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, os dados do IPCA já indicam possibilidade de corte de 1 ponto percentual na Selic:



- Isso garante a possibilidade de dar mais 1 ponto. É claro que talvez estejamos decidindo no meio de uma crise política incomensurável. O que pode influenciar agora é esse fator político.



SELIC ABAIXO DE 8,5%



E já há quem veja que a Selic possa ficar até abaixo de 8,5% ao ano. Antes da divulgação do resultado de junho do IPCA, o economista-chefe do Santander, Mauricio Molon, afirmou que crescem as chances de a taxa Selic chegar ao fim do ano abaixo desse patamar, que é a projeção atual do banco. A estimativa atual do Santander é de que inflação chegue ao fim do ano em 4,2%, mas Molon admite que pode ficar abaixo disso:



- Muito mais que o discurso do Banco Central, são as variáveis que determinam as decisões. Essas variáveis estão evoluindo de forma que favorece a continuidade da queda de juros para um patamar até inferior ao que estimamos. Nossa projeção é de 4,2% de inflação no ano, mas a chance de ser bem menor que esse 4,2% hoje é alta - disse Molon, após participar do XVI Encontro Santander América Latina, na Cidade Financeira, sede do banco nos arredores de Madri.


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