Lojistas comemoram aumento de até 90% no movimento de clientes à procura de roupas de inverno. Mesmo com demanda alta, descontos chegam a 50% em alguns estabelecimentos
O inverno rigoroso que fez com que Belo Horizonte se tornasse a capital mais fria do país na última terça-feira aqueceu o comércio da capital mineira, fazendo os vendedores em alguns casos mais do que dobrarem as vendas. O cenário é de lojas movimentadas e clientes saindo com sacolas cheias o tempo todo. Nem por isso os preços subiram. Pelo contrário, vários lojistas estão aproveitando para fazer promoções e desovar os estoques.

A loja Mariana, na Rua Caetés no Centro, teve um acréscimo de 80% nas vendas. Segundo a gerente Silvana de Lima, na semana passada o faturamento foi de R$ 60 mil e nesta, só em três dias o valor foi atingido. "Se continuar assim, vamos fechar a semana com R$ 100 mil. Para mim está sendo tudo de bom, tomara que continue esse frio até acabar o estoque", disse. Segundo a lojista, foi preciso buscar por mais produtos em São Paulo, mas está faltando mercadoria justamente por causa do frio. "Lá está 8 ou 9 graus também, por isso o desfalque", disse.

Na maioria das lojas, a busca é por moletons, jaquetas e blusas quentes. Segundo lojistas, a procura é ainda maior por roupas infantis. É o que conta o supervisor do Lojão do Torra Tudo, na Rua Tupinambás (Centro), André Luiz Afonso Carvalho. Segundo ele, além das peças de criançacriança, a saída dos cobertores está enorme. A loja caprichou no investimento. Além de faixa ofertando a Black Friday do inverno e vários cartazes de descontos, um funcionário fica anunciando as promoções ao microfone. "Dobramos as vendas. O pessoal está mais cauteloso, mas está fazendo compras para a família toda", disse.

Carvalho diz que a loja está trabalhando com hora extra de funcionário, mas o faturamento, cujo montante ele não quis revelar, está valendo a pena. "A gente aposta sempre no inverno, mas neste ano ele veio mais forte. Mantivemos as compras do ano anterior, mesmo com a crise, e estamos precisando comprar mais", diz. Cerca de 90% dos clientes entram na loja à procura de roupas de frio.

A gerente da loja Escala, da Rua Rio de Janeiro, Diadone Fonseca, também comemora a onda do frio. Nos dois últimos dias, as vendas dobraram por causa da temperatura. "As pessoas estão vindo procurar agasalho e outras roupas de inverno. Já estamos com o estoque bem baixo. Vendemos também muito calçado, as botas praticamente esgotaram", conta.

DESCONTOS No Centro, é possível achar moletons na promoção, com calças por R$ 19,90 e casacos a R$ 49,90. A calça infantil, por exemplo, baixou de R$ 12,90 para R$ 10. Tem muita touca, cachecol e acessórios paras o frio, como luvas. Mesmo com a alta demanda, os descontos vão de 10% a 50%.

As vendas também aumentaram em outras regiões. A gestora de Recursos Humanos Adriana Carvalho, 37 anos, correu para uma loja na Região Nordeste de BH e levou três blusas, para ela, o marido e o cunhado. "Rodei muito por BH para procurar preço. Sempre procuro comprar roupas na estação contrária, mas vou viajar no fim de semana e por isso optei por comprar de uma vez", disse.

O casal de empresários David, 35, e Taciana Andrade, 31, também correu às compras. Na loja em que foram, a concorrência pelas compras estava tão grande que ela não conseguiu peças no seu tamanho e vai ter de voltar depois para comprar. Já David, comprou jaqueta para ele e um moletom para o filho. De quebra acabou levando relógio, óculos de sol e roupa de academia. "Estávamos almoçando aqui perto e viemos olhar as promoções, pois estamos precisando de agasalho com este frio. Achei o preço bem em conta", comemora David.

Taciana, que também é dona de loja, conta que vendeu todo o estoque de roupas infantis, ampliando em cerca de 40% as vendas. A compra que havia sido feita há mais tempo não deu para a demanda e foi preciso fazer duas reposições. "Está muito frio agora, ninguém previu isso", diz.

CENÁRIO NEGATIVO Segundo a economista da Câmara de Dirigentes LojistasCâmara de Dirigentes Lojistas, Ana Paula Bastos, o frio intenso pode ser uma oportunidade para os lojistas anteciparem as liquidações e desovar os estoques. O cenário vai ajudar a reverter uma tendência negativa que vinha se desenhando na capital, pelo menos para quem vende itens de inverno. A queda nas vendas de janeiro a abril foi de 0,11% e, no acumulado de 12 meses, o comércio está negativo em 1,32%. "Quem fizer promoção agora vai aquecer as vendas, é bom tanto para o empresário quanto para o consumidor, que está procurando oportunidades de pagar um melhor preço", diz.

Quem também espera reverter as dificuldades nas vendas é o presidente do Polo Industrial da Moda de Monte Sião, Rodrigo Marcelo Leite. Segundo ele, as vendas estavam paradas de março a junho, período em que geralmente há grande demanda, mas agora os pedidos estão voltando a ocorrer. "Este ano não teve aquela correria dos outros, mas agora o mercado está reagindo. Estamos começando com as liquidações, Monte Sião terá uma feira no próximo dia 16 e esperamos, com isso, aumentar em 30% as vendas", disse. O polo de modas fornece malhas e tricôs para o Brasil inteiro.