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Portal O Tempo ( Política ) - MG - Brasil - 07-07-2017 - 03:00 -   Notícia original Link para notícia
Entrevista - Marcio Lacerda: 'Pelo que sei, o governador não fez o ajuste que poderia'

Em entrevista ao programa Café com Política, da rádio Super Notícia FM, o ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB) confirmou sua pré-candidatura ao governo de Minas e não poupou críticas à gestão de Fernando Pimentel (PT) no Estado
O senhor ficou oito anos à frente da Prefeitura de Belo Horizonte. Qual foi sua maior alegria e sua maior decepção?

Conseguimos cumprir quase 80% das metas do nosso planejamento estratégico. A maior alegria foi ter feito a educação avançar fortemente nos três eixos que planejamos: a ampliação da educação infantil, passando de 40 escolas e Umeis a 130; a ampliação da escola de tempo integral, de 15 mil crianças a 65 mil; e a melhoria da qualidade da educação. Ver crianças mais vulneráveis frequentando uma escola infantil que provoca inveja até nas pessoas de alta renda nos realiza muito. Tivemos dificuldade com o metrô. Eu trabalhei desde 2007 no assunto, ainda como secretário do governo do Estado, e conseguimos avançar apenas no projeto. Atribuo isso a disputas políticas entre o PSDB no governo estadual e o PT no federal.

Qual foi a maior dificuldade em administrar BH? Qual a área mais crítica?

Toda cidade grande sempre coloca saúde e segurança. Isso continua sendo problema e, agora, em qualquer cidade, dados os cortes de repasse do governo federal e dos estaduais para as prefeituras, que estão tendo que colocar mais recursos. Isso acontece também em BH. Naturalmente, também tem o crescimento desordenado e as invasões, e para isso é preciso um bom Plano Diretor e uma boa Lei de Uso e Ocupação do Solo e Código de Posturas. Avançamos, mas não conseguimos ver andar na Câmara - e também não está andando agora - o novo Plano Diretor, um trabalho de quatro anos.

O senhor teve dois mandatos, mas não conseguiu eleger um sucessor. A que atribui essa derrota?

É preciso destacar que no Sul, Centro-Oeste e Sudeste brasileiros, nas eleições de 2016, nenhum prefeito conseguiu reeleger-se ou fazer seu sucessor. Por outro lado, especificamente em Belo Horizonte, devido ao meu estilo mais de administrador, um pouco mais franco e direto, passei a enfrentar uma certa rejeição da classe política, que dizia que eu não era político. Isso dificultou a formação de uma aliança, e tivemos enorme dificuldade de arranjar uma coligação para apoiar nosso candidato. E isso levou a um mau resultado, mas entendo que não foi um julgamento ruim da nossa administração, porque terminamos o ano com aprovação de mais de dois terços da população.

Como o senhor avalia a administração de Alexandre Kalil (PHS) até aqui?

Ele, como todos os prefeitos no país, continua enfrentando dificuldades na arrecadação devido à crise econômica. Eu disse no meu discurso de transmissão de cargo que tínhamos feito um forte ajuste em 2015 e em 2016, cortando cargos, reduzindo despesas, mas que ele teria que continuar esse ajuste. Conseguimos entregar as finanças em ordem, uma exceção à maioria do país. Os primeiros seis meses são um processo de entender o funcionamento da máquina, e torço para que a nova administração dê certo.

O senhor vai ser candidato ao governo de Minas?

Todo ex-prefeito de Belo Horizonte bem-avaliado é um pré-candidato ao governo do Estado, assim a população e a classe política consideram. No meu caso, o presidente nacional do PSB (Carlos Siqueira) colocou o meu nome como pré-candidato. Estou fazendo um trabalho extenso de viagens pelo Estado, conversando com as lideranças políticas, empresariais, sindicais, populares, para conhecer bem Minas. E, através deste aprendizado, debater e construir um projeto de retomada de desenvolvimento para, no momento adequado, e sendo possível, colocar a candidatura e buscar as alianças.

Kalil enfrenta sua maior crise até agora, com os camelôs. Por que o senhor deixou essa ocupação das ruas?

Não é verdade, e pode ser verificado com a . Procuramos sempre trabalhar para não deixar a ocupação se estabelecer de forma permanente.

Por que isso aconteceu?

Não sei. Acho que o recrudescimento da crise econômica fez com que o desemprego e o aperto das famílias levassem as pessoas a buscar alternativas de renda. Então, o número de ambulantes aumentou muito de uns oito meses para cá. Na nossa gestão, fizemos um trabalho de fiscalização forte. Por outro lado, temos um problema sério de contrabando no país, e muitos desses ambulantes são usados - muitos, não todos - como distribuidores de produtos contrabandeados. Isso, além de afetar o comércio, que paga impostos e aluguéis, afeta a indústria.

O senhor foi eleito em 2008 com o apoio do senador Aécio Neves (PSDB) e do governador Fernando Pimentel (PT). Depois, houve um distanciamento. Como fica a construção de sua candidatura? De que lado está Marcio Lacerda?

Em primeiro lugar, neste momento de passar o país a limpo, é preciso tomar cuidado para não fazer condenações antecipadas e dar direito de defesa aos acusados, partindo da presunção da inocência. Vamos aguardar e torcer para que Aécio e Pimentel provem a inocência e vamos deixar a decisão para a Justiça. Com relação às alianças, isso é algo que vai vir lá na frente. Neste momento não estou me dedicando, nem o meu partido, a conversar com cúpulas partidárias para construir possíveis acordos.

Mas como o senhor vai fazer diferente se em 2016 enfrentou dificuldades para construir uma aliança em torno do seu candidato?

O que posso oferecer é minha experiência de gestor, aprovado pela população. Ao mesmo tempo, tendo tido uma experiência de secretário executivo de ministério em Brasília, secretário de Desenvolvimento no Estado, uma experiência municipalista forte em vários níveis de atuação, principalmente como presidente da Frente Nacional de Prefeitos. Estou defendendo uma política de mais atenção aos municípios. Os municípios vêm recebendo mais atribuições e cada vez uma parte menor do bolo de arrecadação do país. Sou um apóstolo dessa missão municipalista.

Pimentel tem defendido o acerto de contas com a União em função da Lei Kandir. O senhor acredita que essa é a solução para a crise financeira do Estado?

Essa é uma tese simpática que o governador está defendendo. Até justa, em princípio, mas neste momento é uma espécie de miragem no deserto, um oásis à frente para quem está morrendo de sede. Os prefeitos fazem as contas e falam que vão receber milhões. No caso do país, essa dívida (da Lei Kandir) monta a R$ 800 bilhões. Você imagina, com o Orçamento federal da saúde em R$ 110 bilhões deficitário, onde se vão arranjar R$ 800 bilhões em curto prazo? A situação é muito grave. Agora, pelo que sei, o governador não fez um ajuste que poderia ter feito. Aumentou os gastos no primeiro ano, aparelhou a máquina, até em função da fragilidade política pessoal que enfrenta, que eu lamento. E não aceitou, não sei as razões, o ajuste que o governo federal propôs. É um debate que precisaria ser mais aberto porque o déficit é muito grande, e o Estado não consegue repassar os recursos obrigatórios da saúde para os municípios. Parece até que está retendo recursos federais que seriam destinados aos municípios. Possivelmente, o governador espera uma retomada da economia, que está de fato acontecendo. Mas o reflexo na arrecadação ainda vai demorar.

Essa discussão sobre redistribuição de dinheiro se dá com o governo federal. O senhor acredita que Michel Temer (PMDB) vai concluir o mandato?

O presidente está muito fragilizado politicamente, e isso torna muito difícil para ele conduzir pactos e reformas que o país precisa. O Brasil hoje vive uma crise séria de governança. Apesar disso, felizmente, a economia tem reagido pela sua dinâmica cíclica natural, mas não temos projeto de país, assim como não temos projeto de Estado. Como melhorar o país sem visão de futuro? Precisaríamos de um grande acordo, em que todas as lideranças procurassem uma agenda mínima de convergência, para que o país pudesse avançar. Não adianta imaginar que o presidente eleito em 2018 irá em um passe de mágica tirar o país do buraco. Precisamos de um acordo nacional.

Veja a entrevista na íntegra:


Palavras Chave Encontradas: CDL, Criança
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