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Estado de Minas Online ( Feminino e Masculino ) - MG - Brasil - 28-05-2017 - 12:21 -   Notícia original Link para notícia
Força para recomeçar

Diretor criativo da Cavalera se apoia no passado para dar continuidade à história da Zoomp


Ter uma calça jeans com o raio amarelo era o desejo de quase todos os brasileiros. Não havia empresa de moda mais badalada no país que a Zoomp, até o momento em que os negócios desandaram e a etiqueta desapareceu do mercado. Não do radar do diretor criativo da Cavalera, Alberto Hiar, que investiu alto na compra da marca, que para ele nunca deixou de ser a mais icônica do Brasil. Em março, ele anunciou a volta de modelos de sucesso da etiqueta, como a calça jeans de cintura alta e a semibaggy, que chegam às prateleiras com uma nova cara. Disposto a mostrar para a nova geração o valor da Zoomp, que reinou entre as décadas de 1970 e 1980, Hiar conta com a ajuda de personalidades que, assim como ele, tinham a marca como referência no mundo fashion.

Como era a sua relação com a marca, antes mesmo de comprá-la?
A primeira calça que fiz na vida era inspirada na Zoomp. Isso há mais ou menos 30 anos. Era uma marca que inspirava desejo em qualquer pessoa. Tinha uns 22 anos e pela minha inocência, evidentemente, imaginava que, se me inspirasse na Zoomp, teria o mesmo resultado no mercado. Era uma calça social bege de prega que todos os homens usavam na rua, parecia uniforme do Exército. Não era jeans, era sarja. Achei que era mais fácil de fazer, porque não tinha tanta tecnologia para produzir jeans.

Você também era um consumidor da marca?
Não tinha dinheiro para isso...

Como foi ver o declínio da Zoomp?

Foi triste. Percebia que a marca não estava caindo por incompetência da equipe, e sim do grupo que a havia comprado. No meu entendimento, eles compraram a Zoomp para destruí-la.

Era um sonho estar à frente da marca?

Sempre admirei a Zoomp, mas nunca tive a pretensão de ser dono da marca. Sempre sonhei em ter a minha marca, como tenho hoje a Cavalera, mas há três anos, quando a empresa entrou em recuperação judicial e começou a falar em parceiros, resolvi estudar essa possibilidade. Fizemos pesquisa de mercado e descobrimos que a Zoomp ainda gerava um desejo grande, porque continuava na memória afetiva das pessoas. Chegou a dar dó o que fizeram com a marca, e o consumidor final não tinha percebido isso. Então, pensei: se eles colocaram a marca para vender, por que não colocá-la dentro do nosso processo?.

Como funciona a produção da Zoomp. É separada da Cavalera?
Toda a criação é feita por uma equipe independente, que nem sabe o que está acontecendo com a Cavalera, porque cada marca tem uma identidade. A Zoomp não é tão jovem como a Cavalera, o foco é mais em feminino que em masculino e os preços são outros. Não poderia comprar uma marca para competir comigo mesmo, quero uma marca para ser competitiva no mercado.

O plano é manter a identidade da marca?

O nosso objetivo, se tivermos competência, é manter o legado que Renato Kherlakian deixou e dar uma oxigenada nas ideias, para ser mais competitivos. É como se buscássemos o que a Zoomp fez de melhor e colocássemos pitadas de novidades. Por isso, o jeans continuará a ser o carro-chefe. É um dos legados que a marca deixou e queremos mantê-lo.

Qual é a nova cara que você quer dar para o jeans?
De 10 anos para cá, a matéria-prima sofreu um ataque muito grande da tecnologia, o que nos ajuda a desenvolver mais lavagens que ela suporte. Destaco também a introdução do elastano no jeans, que existia pouco no passado. Conseguimos descobrir um elastano com memória, ou seja, a calça se adapta ao seu corpo e não muda da manhã para a noite. A maioria dos jeans com elastano, com o uso vão esticando como elástico e mudam conforme o calor do corpo. Em relação à modelagem, estamos tratando o jeans como alfaiataria, no sentido de que desenvolvemos as peças como uma moulage no corpo da modelo, e não simplesmente em um desenho no papel. É um trabalho quase artesanal, que leva oito horas para ser concluído. Buscamos ser referência em jeans premium focado no caimento.

Existe espaço para isso no mercado?

Sim, por que você foge da mesmice em que o mercado se coloca. A concorrência está só atrás de preço e, quando você tem um diferencial e mostra porque isso custa um pouco mais caro, consegue se destacar. Pensamos em um jeans que vai durar anos no armário, como sempre foi com a marca. Quando falo sobre a Zoomp, tem sempre alguém para contar que tem uma peça há mais de 10 anos e ainda a usa. É mais barato que comprar uma peça barata e depois ter que jogar fora.

Quem é essa mulher que consome Zoomp?

É alguém que está no mercado de trabalho e procura valorizar muito o produto em que está investindo. É uma mulher que reconhece a qualidade do jeans, que quer um bom caimento, que conhece de lavagem, que sabe o que está acontecendo lá fora, que não se deixa ser enganada, que quer se diferenciar de todas as mulheres que a rodeiam. Acredito que sempre foi assim, porque a Zoomp tinha um padrão de qualidade e uma modelagem de culto ao corpo, no sentido de valorizar as curvas da mulher brasileira, sem ser vulgar. Modelagem impecável no jeans é primordial.

Como conquistar os jovens que não viveram os bons tempos da marca?
É o que estamos tentando fazer. Produzimos, por exemplo, um fashion filme superelaborado, isso é inédito no mercado de moda. É quando você expressa a vontade da marca através de um filme. Convidamos a modelo Anna Cleveland, com uma beleza não tão convencional, que está entre as 50 modelos mais influentes da moda no mundo. Ela é filha da top norte-americana Pat Cleveland, que influenciou muito Salvador Dali, e só faz desfiles de alta-costura. A Zoomp é a primeira marca de jeanswear para a qual ela trabalha. O diretor Pedro Urizzi se empenhou ao máximo e fez algo que poderia estar no cinema, como se fosse um curta-metragem, mas com característica de fashion filme, que é uma tendência mundial. As grandes marcas estão fazendo isso e têm tido retorno, é um novo caminho da moda. Existem novas ferramentas que precisam ser usadas. Fizemos também um vídeo mostrando como é feita a modelagem das calças e outro mostrando a relação afetiva de personalidades como Fernanda Young, Carol Ribeiro e Paulo Borges com a marca. Queremos mostrar para a nova geração que a marca mais icônica do Brasil está voltando com força total.

Fale um pouco sobre a primeira coleção.
O tema é a história da Zoomp, então resgatamos e reeditamos ícones da marca, como aquele jeans que tem ajustador na cintura, a calça com cintura alta, que era um clássico, e a semibaggy, mas não tão larga como era no passado, mais para o modelo boyfriend. Além disso, voltamos a trabalhar com os números ímpares, que eram muito fortes da Zoomp, então lançamos os números 35, 37, 39, 41... No feminino, ainda incluímos linho, tricô, seda e couro em jaquetas, saias e calças, que também eram muito marcantes na Zoomp. Já no masculino, destaco camisas e camisetas feitas com o fio peruano pima, que talvez seja o de melhor qualidade do mundo.

Você participa da criação?
Evidentemente que acompanho a elaboração da coleção, mas vou dizer que sou mais palpiteiro. Não me meto na criação, meu cuidado é com a Cavalera.

Em algum momento você consultou o Renato Kherlakian (fundador da Zoomp)?
Com certeza, o Renato seria muito bem-vindo na equipe. Chegamos a falar com ele, mas houve problema de contrato, de valores, processos de trabalho que não deram certo, mas essa possibilidade não está descartada. No momento, não posso fazer nada, quem sabe no futuro? O trabalho do Renato é incomparável. Ele sempre esteve à frente do seu tempo. Para mim, uma vez rei, sempre rei, não posso tirar o trono dele. Só tenho a agradecer pelo que ele fez pela moda brasileira. Talvez, se não fosse por ele, não estaria aqui fazendo o que amo.

Dois meses depois do lançamento da coleção, já dá para sentir a aceitação do público?
Está indo muito bem, inclusive com alguns pedidos de reposição, mas, como não prevíamos isso, não estamos conseguindo atender. Em um mercado tão recessivo, surpreende receber ligação de cliente pedindo reposição porque vendeu todo o seu estoque. Por enquanto, a estratégia da marca é estar em multimarcas e em algumas concept stores, que estão surgindo como tendência no Brasil. Isso para nós é muito melhor do que lançar loja própria.

Há planos para Belo Horizonte?

Belo Horizonte é uma cidade que amo, entendo que é um lugar que cheira moda. Hoje diria que não existe algo específico, mas BH nunca sai do nosso radar. Pretendemos entrar cada vez mais fortes com o conceito Zoomp em cidades com essas características.

Aonde você quer chegar com a Zoomp?
A nossa expectativa é fazer o nosso trabalho, respeitando a memória da marca, mas sem a arrogância de querer ser quem a Zoomp foi. Só de adquirir a marca é motivo de muita alegria, porque nenhuma outra marca brasileira conseguiu o que a Zoomp conseguiu em toda a história da moda brasileira. Trabalhamos com qualidade e primor num momento em que ninguém investe em nada e todo mundo está atrás de preço. Já me sinto satisfeito com isso. Para mim, a Zoomp é a maior marca de moda brasileira, nunca deixou de ser, todo mundo sabe disso. Pode ser que não seja comercialmente, mas isso não me importa. Não quero ser a maior empresa de moda, quero ser a melhor.

O que você leva da Zoomp para a Cavalera?
O jeans da Cavalera deu um upgrade grande com a entrada da Zoomp. É muito legal quando você tem a chance de customizar ideias boas, e nós conseguimos colocar em prática várias ideias de modelagem. Mas a Cavalera nunca pode deixar de ser irreverente, roqueira, divertida, que provoca amor com humor, que gosta de melhorar o astral das pessoas. A marca se profissionalizou muito para ficar competitiva no mercado. Acabamos de fazer um trabalho legal com o coletivo C.U.P.I.N.S, que reúne pessoas com transtornos mentais. A Cavalera entendeu que era uma maneira de transformar as camisetas e lembrar que essas pessoas, muitas vezes escondidas da sociedade, podem e têm talento. Naquilo que a sociedade tem menos vontade de colocar a mão descobrimos tanta beleza. Fazemos isso não apenas por eles, mas que sirva de exemplo para todas as famílias. Por enquanto, serão estampas só para camisetas, não queremos parar, é um trabalho muito gratificante.

Você planeja aumentar mais o grupo?
Por enquanto, não. Quero ficar apenas entre a Zoomp e a Cavalera, que é muito mais do que imaginava ter sonhado.


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