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Diário do Comércio online - BH (MG) ( Política ) - MG - Brasil - 19-05-2017 - 09:26 -   Notícia original Link para notícia
Retomada pode retornar à estaca zero

Estremecimento do governo Temer ameaça colocar a economia brasileira de volta à estagnação


No momento em que o Brasil parecia enfim retomar o fôlego e começava a se recuperar de uma das piores crises econômicas já vividas, eis que a Operação Lava Jato atinge o presidente Michel Temer (PMDB), aprofundando a crise política e institucional que já se arrasta pelo País. Há pouco mais de um ano à frente do governo, Temer conseguiu avançar com importantes pautas no Congresso Nacional, mas se vê agora diante de um mandato estremecido.

"Não renunciarei", garantiu ontem, em pronunciamento oficial quanto à delação de Joesley Batista, um dos sócios da JBS, que, em março deste ano, gravou o presidente dando aval para comprar o silêncio do deputado cassado e ex-presidente da Câmara  Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

"Hoje temos uma grande bomba e estamos catando os cacos". Assim o presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Paulo Roberto Bretas, resumiu o cenário do Brasil um dia após o mais novo escândalo político - desta vez envolvendo o presidente Michel Temer - abalar o País. Se há pouco mais de um ano a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff era vista por muitos como a "luz no fim do túnel" para a retomada do crescimento, agora a situação parece voltar à estaca zero e novamente a economia nacional se vê ameaçada pelo "fantasma" da estagnação.

De acordo com Bretas, com as denúncias contra o peemedebista, a expectativa é de que haja uma nova paralisação do País. Ou seja, até que seja encontrada uma solução para mais um capítulo da crise política que afeta o Brasil nos últimos anos, nada de se falar em investimentos e muito menos de se esperar por uma recuperação econômica, que vinha sendo projetada pelos diferentes setores para o segundo semestre deste ano.

"A economia agora entra em estágio de letargia. Aquilo que o mercado esperava com relação às reformas trabalhista e da Previdência, que posteriormente seriam acompanhadas de uma série de outras reformas, isso para totalmente. O governo perdeu a capacidade de governar, de organizar a base parlamentar que tinha, e o mercado vai reagir com pânico", alertou o presidente do Corecon-MG.


País corre risco de ficar três anos em recessão



São Paulo - A intensa crise que acertou em cheio o governo do presidente Michel Temer vai afetar a recuperação da economia em 2017, afirmaram analistas ontem. Já há quem não descarte ainda que o País pode continuar em recessão, o que seria o terceiro ano seguido de contração.

As denúncias envolvendo Temer, acusado de dar aval para a compra do silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vão abalar dois pilares considerados fundamentais para a atividade econômica: a confiança de empresários e consumidores e a queda da taxa básica de juros.

"Essa crise não tem como não prejudicar a economia. Este e o próximo trimestre, pelo menos, serão muito afetados e jogarão o crescimento bem para baixo", afirmou o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale, para quem, antes das denúncias, a expectativa era que o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano avançaria 1%.

Até a nova crise, os agentes econômicos davam como certo que, em 2017, o Brasil deixaria para trás os dois anos seguidos de recessão, período no qual encolheu mais de 7%.

Segundo a mais recente pesquisa Focus do Banco Central, que ouve semanalmente uma centena de economistas, a projeção era de expansão de 0,50% agora e de 2,50% em 2018.

Na avaliação de analistas, a piora do ambiente político deve minar a confiança de empresários e consumidores na economia brasileira, o que prejudica consumo e novos investimentos, além de postergar a conclusão no Congresso Nacional de importantes reformas, como a da Previdência, considerada fundamental para colocar as contas públicas em ordem.

"Há uma incerteza com o que vai acontecer e se as reformas vão ser aprovadas", disse o economista da consultoria GO Associados Luiz Fernando Castelli. "Os indicadores de confiança devem refletir esse cenário", afirma.

Um indício foi dado nesta tarde. O relator da reforma trabalhista no Senado, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), anunciou que o calendário de tramitação da proposta está suspenso devido à crise política.

Juros - A política monetária deve ser a outra ponta fortemente afetada pela crise política. Os economistas chegaram a avaliar, antes da crise, que o BC reduziria os juros básicos em 1,25 ponto percentual agora em maio, com todo o ciclo de afrouxamento monetária levando a Selic para a faixa de 7% e 8% ao ano. Hoje ela está em 11,25%.

"Nesse contexto, o viés de câmbio mais depreciado com a não aprovação das reformas reduz o espaço do BC para cortar juros", avaliou a economista da consultoria Tendências Alessandra Ribeiro.

"Eu ainda vejo espaço para corte (na Selic) porque o câmbio num nível de R$ 3,40 e R$ 3,50 não compromete tanto o cenário da inflação, ainda que o ritmo de corte de juros possa ser menor", ressaltou.

A Tendências acredita que agora o BC só consegue levar os juros para um patamar próximo de 9% e projeta crescimento de apenas 0,3% para este ano. E, embora não seja o cenário principal, não descarta que a economia brasileira permaneça em recessão.

A piora do cenário econômico vem na esteira de uma série de piora nas projeções para o desempenho da economia brasileira no segundo trimestre, mas ainda com o cenário de crescimento neste ano.

Na semana passada, o banco Bradesco, por exemplo, passou a prever queda de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) entre abril e junho, na comparação com os três meses anteriores, ante estimativa de estabilidade.

"Se essa crise for muito longa, é ruim. A economia já estava fraca. O que vai afetar com certeza é o cronograma de investimento, com os (investidores) estrangeiros mais preocupados", disse o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves.


Empresários cobram combate à corrupção



Procuradas pela reportagem a fim de avaliarem as consequências da nova fase da Operação Lava Jato na economia brasileira, importantes entidades de classe do Estado como a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e a Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas) preferiram não comentar o assunto.

Enquanto isso, outros importantes setores de Minas Gerais avaliaram com preocupação os impactos que os desdobramentos dos fatos poderão trazer à economia brasileira como um todo, já que o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a abertura de inquérito para investigar o presidente Michel Temer. Com a decisão, Temer passa formalmente à condição de investigado na operação e corre sérios riscos de ser afastado da Presidência da República.

A de Belo Horizonte (-BH), entidade que representa os setores de comércio e serviços da capital mineira, por meio de nota, defendeu a apuração, investigação e punição cabível a atos corruptos. Pediu ainda que a lei seja cumprida e o País continue trabalhando no combate à corrupção. A entidade também defendeu a transparência e a moralidade na construção de um País que respeite o ordenamento jurídico.

"Mesmo ainda com um cenário político não totalmente estável, todas as projeções do mercado indicam que o Brasil está saindo da recessão. A inflação começou a desacelerar, os juros vêm caindo e o mercado já estava reagindo", disse a entidade.

Um bom termômetro foram os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregos (Caged) divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que indicaram, por exemplo, que o Brasil abriu quase 60 mil vagas de emprego formal em abril.

Outro índice que confirmava a recuperação do cenário brasileiro diz respeito ao indicador do Banco Central que mede a atividade econômica, o IBC-Br, que cresceu 1,12% no primeiro trimestre em relação aos três últimos meses do ano passado. Foi o primeiro crescimento para qualquer trimestre desde os últimos três meses de 2014, quando o IBC-br subiu 0,21%.

Com os novos desdobramentos envolvendo a classe política, no entanto, a confiança dos empresários na economia pode cair. Para a -BH, não podemos esquecer que atual situação financeira e econômica pelo qual o Brasil atravessa é consequência da má administração dos últimos tempos.

"Receosos com o futuro do cenário econômico, os empresários tendem a não investir, não gerando emprego e renda. Com isso, o País, o Estado e o município perdem investimentos. O Brasil tem pressa em retomar o crescimento econômico para propiciar oportunidades de trabalho e desenvolvimento social. Mais uma vez a incerteza precisa ser vencida para que o setor produtivo consiga retomar o desenvolvimento", finalizou a entidade.

Reformas - Também por meio de nota, a Associação Comercial de Minas (ACMinas) lamentou que o Brasil esteja hoje nas mãos de suas instituições e nas mãos do Congresso Nacional que "até ontem conduziam com celeridade as reformas, atos que só por estarem em processo já concorreram para reativar a economia".

Diante dos fatos, a entidade convocou empresários e população a não admitirem entregar-se ao desânimo que paralisa e à irresponsabilidade.

"Não seremos partícipes de novo desmonte da economia. Não admitiremos que seja reinstalado um quadro de reagravamento do desemprego. Ao final, conclamamos nossas instituições e nossos representantes políticos a agirem em pleno respeito à democracia e à Constituição, identificando entre seus instrumentos aqueles que preservem a reconstrução nacional, a retomada da economia - com a aprovação das reformas - e a justiça social", ressaltou a ACMinas.



Palavras Chave Encontradas: Câmara de Dirigentes Lojistas, CDL
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