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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 14-05-2017 - 09:02 -   Notícia original Link para notícia
Governo vai incentivar indústrias a reduzirem consumo de energia

Com menor uso de termelétricas, consumidor teria alívio nas contas



Com as poucas chuvas dos últimos meses, todos os consumidores do país estão pagando mais caro em suas contas de luz por causa da bandeira vermelha, a fim de pagar a geração de energia pelas usinas termelétricas, cujo custo de operação é bem superior ao das hidrelétricas. Na tentativa de reduzir esses custos de geração, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) vai lançar um programa inédito no país, mas largamente usado no exterior, para estimular as indústrias, grandes consumidores de energia, a reduzirem sua produção em determinados períodos e horários. Os detalhes ainda estão sendo fechados, mas a ideia é oferecer um incentivo (prêmio) para as empresas que aderirem.









CLÉBER JÚNIOR



Uso racional. Indústrias poderão optar por reduzir a produção nos períodos em que o custo da geração de energia é maior. Programa já é adotado em outros países



O objetivo do programa é diminuir a necessidade de colocar em operação as termelétricas, o que pode ser obtido por meio de um uso mais racional da energia pelas indústrias. O custo de geração das termelétricas mais caras varia R$ 644 até R$ 1.075 o megawatt/hora (MWh). Além disso, elas usam óleo combustível ou diesel, ou seja, são mais poluentes.



O ONS pretende lançar o piloto do programa, chamado de Resposta da Demanda, no segundo semestre deste ano. Segundo o diretor-geral do ONS, Luiz Eduardo Barata, todos os consumidores, inclusive os residenciais, serão beneficiados com o menor custo da energia:



- Nós seremos "o último dos moicanos", pois todos os países desenvolvidos já adotam programas semelhantes. Estamos chegando tarde. Normalmente, atuamos no aumento da oferta, em mais geração, mais térmicas, para atender ao consumo. Agora estamos atuando do outro lado, desde que a demanda não se sinta afetada.



'É UM JOGO DE GANHA-GANHA'



O projeto vem sendo discutido pelo ONS com as indústrias, a Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), a Câmara de Comercialização de Energia (CCEE) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).



A Abrace estima que, se apenas 5% da carga industrial do Brasil participarem do programa, a energia que deixará de ser consumida equivalerá a cerca de 1 gigawatt (GW) médio por ano, o suficiente para abastecer todas as residências da Região Norte, por exemplo.



Barata, do ONS, destacou que a maioria dos grandes consumidores que estão negociando participar do programa tem experiência em projetos semelhantes em suas fábricas no exterior. A implantação começará pelo Nordeste.



A Aneel informou que sua área técnica está discutindo os critérios para adotar a regulamentação.



O presidente da Abrace, Edvaldo Santana, destacou a importância do programa para as empresas:



- Os grandes consumidores terão alternativas para reduzirem o consumo.



Os detalhes ainda estão em fase de elaboração, mas a ideia é que as empresas optem por uma redução de consumo no mesmo dia (intraday) ou para o dia seguinte (day ahead).



Ainda está sendo definido também como será dado o incentivo (prêmio) para as indústrias que aderirem ao programa.



- É um jogo de ganha-ganha. A energia tem um peso grande no custo de produção dos grandes consumidores, e um uso mais racional, evitando um maior custo com as térmicas, é muito importante - ressalta Santana, da Abrace.



Para Fernando Villela, do escritório Siqueira Castro Advogados, o programa representa uma mudança importante na visão da política energética e possibilitará uma otimização na produção das indústrias, com redução de seus custos e aumento da competitividade.



- A política energética sempre atuou em aumentar a oferta para atender ao crescimento da demanda. Agora, ela se volta para responder à demanda. Não se trata de reduzir a produção industrial, neste momento em que o país tanto precisa retomar o crescimento econômico, mas de estimular a racionalização do consumo de energia - afirma Villela.



EMPRESAS JÁ TÊM INTERESSE



Marco Afonso, diretor de Consultoria em Utilities da canadense CGI (empresa de tecnologia da informação), explica que o projeto Resposta da Demanda está previsto na legislação no país desde a reforma de 1998, mas nunca foi implementado:



- As empresas poderão fazer sua previsão de consumo de energia baseada em sua produção. É uma tendência. O mundo caminha para o uso cada vez maior de fontes renováveis que são intermitentes, como a solar e a eólica, sendo necessário acionar térmicas em alguns períodos.



A fabricante de gases industriais alemã Linde Gases Brasil, com dez fábricas no país, vai aderir ao programa, de acordo com o gerente de Energia para a América do Sul, Fabiano Fuga. Ele explica que a empresa já adota estratégias de redução de consumo em determinados dias e horários em outros países onde atua, incluindo Chile, Estados Unidos e Europa.



- Estamos analisando como será em cada uma de nossas fábricas. Nossa intenção é participar. Todos ganham com a redução do custo da geração térmica: as empresas, o sistema elétrico e os consumidores - ressalta Fuga.



Débora Yanasse, especialista da área de energia do Tauil & Chequer Advogados, elogia a proposta:









- É um avanço regulatório muito importante permitir que o consumidor possa gerir cada vez melhor sua demanda. A tendência é evoluir para todos os consumidores terem essa opção - diz.


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