Leitura de notícia
O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 14-04-2017 - 10:17 -   Notícia original Link para notícia
Juro final resiste à Selic menor

Medo de calote faz bancos elevarem prêmio de risco, limitando oferta de crédito mais barato

O atual ciclo de redução dos juros conduzido pelo Banco Central (BC) desde outubro deve levar a Taxa Selic ao seu menor nível em quatro anos até dezembro. Mas, para quem precisa pegar dinheiro emprestado no banco, seja pessoa física ou empresa, o recuo ainda não alterou significativamente o custo dos financiamentos. A recessão prolongada e o desemprego aumentaram o medo dos bancos de arcar com inadimplência dos clientes, elevando o chamado spread bancário, que embute este risco. Por isso, enquanto a Selic recuou 3 pontos percentuais entre fevereiro de 2016 e abril deste ano, os juros cobrados das famílias aumentou: de 40% para 41,4% ao ano, segundo os dados mais recentes.

Para as empresas, houve recuo, mas inferior ao corte da Selic, que já caiu de 14,25% para 11,25% ao ano. Os juros das pessoas jurídicas, em um ano, passaram de 22,6% para 20,3%.

No mesmo período, os spreads (diferença entre as taxas de captação de recursos e o que é cobrado dos clientes) continuaram subindo, avançando 3,1 pontos percentuais desde o início do ano passado.

Para especialistas, o benefício do custo menor dos financiamentos só deve começar a ser repassado efetivamente aos tomadores e correntistas a partir de 2018.

 A economia está crescendo mais devagar do que o esperado, há ainda incerteza sobre as reformas econômicas, e o desemprego ainda está em taxa muito elevada. Tudo isso aumenta o risco do crédito, e o banco prefere, então, não conceder, e a forma de inibir o tomador a buscar novos empréstimos é elevar o custo final - explica Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC.

Na sequência do corte de 1 ponto da Selic na quarta-feira, os grandes bancos de varejo até anunciaram reduções nas taxas cobradas dos clientes em igual proporção. Mas, como os juros cobrados dos clientes são muito maiores, o efeito é quase inócuo.

Pelos dados de fevereiro do BC, os últimos disponíveis, a taxa média do empréstimo pessoal estava em 141,9% ao ano, o que equivale a 7,64% ao mês. Uma redução de um ponto percentual significa que o custo por mês será de 7,60%, ou seja, o efeito no valor final é muito pequeno. O tomador de um empréstimo de mil reais, por exemplo, terá sua parcela reduzida de R$ 130,23 para R$ 129,96.

Economistas explicam que a queda da Selic é importante, mas os bancos não vão reduzir suas taxas antes de sinais mais consistentes do crescimento da economia, que só devem acontecer em 2018. Além disso, a inadimplência tende a cair de forma lenta, e a taxa de desemprego ainda vai demorar mais para ceder - o número de desempregados chegou a 13,5 milhões.

Renan Silva, estrategista-chefe da Bullmark, lembra que, com a expectativa de uma recessão econômica maior, os bancos começaram a elevar as suas margens para compensar as perdas com a inadimplência. Ao fim de 2015, o spread era de 18,6 pontos, e a inadimplência (atraso acima de 90 dias) estava em 3,4%. Atualmente, esses indicadores estão em, respectivamente, 23,9 pontos e 3,7%.

Além disso, os bancos passaram a dar preferência a linhas com garantia, como o financiamento de imóveis e de veículos, ou a recebíveis de cartão de crédito, no caso das empresas.

Os bancos começaram a cobrar prêmio adicional para conceder empréstimo  diz Silva.

Em sua avaliação, vai demorar para a dinâmica do crédito ficar mais favorável ao tomador final. E as empresas deverão se beneficiar antes das famílias:

Pode ter alguma melhora pontual em termos de spread no segundo semestre, mas nada relevante. Só vamos ver isso de forma mais clara a partir de meados de 2018, caso as empresas voltem a contratar, e a renda das famílias, a subir.

REGULAÇÃO PODERIA INCENTIVAR TAXAS MENORES

Outras medidas já tomadas pelos bancos também vão demorar a surtir efeito, como as novas regras para o rotativo do cartão de crédito, que começaram a valer no início deste mês. A partir de agora, nenhum cliente poderá ficar mais de 30 dias nessa linha. O objetivo é evitar que essa dívida saia do controle.

 São iniciativas ainda muito graduais. Os bancos até anunciaram novas taxas para o(financiamento do) rotativo do cartão, mas, ainda assim, elas estão altas - avalia Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating.

A cautela é fruto dos números ainda fracos de atividade econômica, que mantêm a sombra da inadimplência sobre os bancos, explica Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor da Anefac. Atraso de pagamento e calote representam 56% do

spread, segundo a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Gastos operacionais e lucro também estão embutidos na taxa.

Marcos Mollica, gestor de portfólio da Rosenberg Investimentos, afirma que é preciso ainda completar reformas microeconômicas para que o custo final ao tomador ceda. Isso inclui mudanças no cadastro positivo (inclusão obrigatória do nome dos consumidores) e na cobrança dos compulsórios (recursos dos bancos que ficam em poder do BC), além de mais garantias nas operações de crédito.



São diversas propostas em estudo, que podem resultar em um spread menor. Enquanto isso não acontece, os bancos vão esperar o desemprego cair. Há uma correlação muito grande entre taxa de desemprego e inadimplência no caso das operações com pessoas físicas ressalta Mollica.



Para economistas, BC pode ousar mais no corte das taxas



Inflação sob controle permitiria levar Selic a um patamar abaixo do juro neutro



Com projeções que apontam inflação abaixo da meta do governo até 2021, o caminho está aberto para que o Banco Central (BC) seja mais ousado do que foi na quarta-feira, quando acelerou o corte dos juros, reduzindo a taxa básica (Selic) em um ponto percentual, para 11,25% ao ano. A dúvida é até onde vai a autoridade monetária.



O mercado financeiro já vê a Selic a 8,50% no fim deste ano, de acordo com o boletim Focus, apurado pelo próprio BC. Ou seja, a taxa ficaria abaixo do juro de equilíbrio, o chamado juro neutro, estimado por alguns analistas em 9% ao ano.



Para economistas ouvidos pelo GLOBO, porém, não seria bom o Comitê de Política Monetária (Copom) derrubar os juros para um patamar em que teria de voltar atrás rapidamente. Isso poderia prejudicar o sentimento de estabilidade no quadro econômico. Por outro lado, há a percepção de que o juro neutro pode estar em queda por causa do andamento das reformas estruturais e das medidas de crédito tomadas pelo BC.



Para Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de Política Monetária do BC, o juro neutro deve estar entre 8,25% e 9% ao ano. Mas ele alerta que esse patamar pode ser completamente diferente no fim deste ano, devido às reformas que estão sendo promovidas pelo governo, como a trabalhista e a da Previdência. Estas podem reduzir o patamar do juro neutro, permitindo que o Brasil tenha uma taxa básica mais próxima dos demais países.



- É difícil saber com precisão até onde o BC vai. Dependerá das condições lá na frente, como inflação, atividade, reformas e expectativas de inflação - avalia Figueiredo. - Acho que vai parar em torno disso. Não vejo como testar muito para baixo do juro neutro.



Já na opinião de Carlos Thadeu de Freitas, outro ex-diretor do BC, a autoridade monetária ainda tem espaço para testar o juro neutro. Ele ressalta que a inflação está controlada e não há tendências de alta de preços por aumento de consumo ou valorização do câmbio. Só isso, segundo ele, permitiria ao BC cortar os juros para abaixo da taxa de equilíbrio.



- Não tem sentido manter na taxa neutra. Não tem problema, a curto prazo, ter uma taxa menor - diz. - Temos capacidade ociosa em todos os lugares. Pode ficar abaixo do neutro por algum tempo, a não ser que tenha um choque agrícola, mas não vejo essa possibilidade.



NO HORIZONTE, META MENOR



Freitas pondera, ainda, que o governo tem uma oportunidade única: reduzir a meta de inflação, atualmente de 4,5% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Ele ressalta que isso poderia ser feito por causa da credibilidade da atual diretoria do BC:



- Se o BC falar que a meta é 4%, o mercado vai acreditar que é4%, e os preços vão se ajustar.



A decisão será tomada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em junho. Na reunião, os ministros da Fazenda e do Planejamento e o presidente do BC decidirão a meta para 2019 e poderão confirmar ou não a de 2018: 4,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.



A conjuntura é favorável. O mercado financeiro projeta inflação de 4,09% este ano, 4,46% em 2018 e 4,25% até 2021, de acordo com o boletim Focus.



Uma meta menor - defendida pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles - reduz a taxa de juros nominal neutra, calculada a partir do juro real neutro somado à meta de inflação. Na prática, isso faz com que os juros caiam na mesma proporção. Ou seja, se a meta de inflação for reduzida em 0,5 ponto percentual, a Selic cairá nesse valor.


Nenhuma palavra chave encontrada.
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.