Leitura de notícia
Portal EM ( Economia ) - MG - Brasil - 15-01-2017 - 06:00 -   Notícia original Link para notícia
No vale-tudo, liquidações dão até R$ 500 de desconto para queimar estoques

Com sobra acima do esperado depois do Natal, varejo lança megapromoções agressivas para tentar fisgar cliente ressabiado das calçadas. Corte nos preços chega a 70%
Em busca da salvação, diante da crise infernal para o caixa e os estoques, o comércio abre a guarda e deixa que o cliente tome as rédeas da compra, depois de ter sido resgatado das calçadas por vendedores aflitos. Nos surpreendentes saldões deste mês das grandes redes do varejo, cinco minutos de conversa são suficientes para receber descontos de R$ 100 oferecidos sobre preços de refrigeradores já anunciados com descontos de até R$ 400 nas tabelas pendurados nos produtos. Fogões de quatro bocas são vendidos, em lojas do Centro de Belo Horizonte a prestações inferiores a R$ 25, que mal dariam para pagar o almoço e o lanche do dia em restaurantes de comida a quilo da capital.

Tentando driblar o baixo-astral do consumidor ante os juros estratosféricos impostos pelas operadoras de cartões de crédito, as megaliquidações que prometem até 70% de desconto lançam planos de pagamento em cartões próprios das lojas com encargos menores, para pagamento em até 15 parcelas, dando adeus à imposição da entrada nos financiamentos. O cliente nem precisa andar um único quarteirão para comparar as ofertas de redes concorrentes. Elas avançam das prateleiras para as portas das lojas.

É preciso estar preparado para entrar nesse balé de preços e de vendedores que parece ter chegado ao ápice no templo de consumo da região central da cidade - o trecho de três quarteirões da Rua Curitiba comandado pelos maiores varejistas de eletroeletrônicos, roupas, calçados e perfumaria, como a reportagem do Estado de Minas constatou. Cobrir a proposta do vizinho, seja o concorrente, seja a loja do mesmo patrão, passou de diferencial a algo corriqueiro nesse tradicional corredor de comércio de BH.

Sem constrangimento, o vendedor avisa ao cliente três quarteirões antes que ele chegue a uma segunda loja da mesma rede em que trabalha estar disposto a conseguir do gerente a melhor oferta da rua. "Como a senhora deseja pagar?", indaga o vendedor à dona de casa que só pretendia se informar sobre os preços oferecidos por uma geladeira e um fogão. Entre dezenas de ofertas anunciadas "imperdíveis", o refrigerador que ela desejava era anunciado por R$ 1.499 à vista, em lugar do preço anterior de R$ 1.899, riscado na propaganda afixada na porta do refrigerador.

"Consigo mais R$ 100 de desconto se a senhora pagar à vista", promete o vendedor. Bastou que a cliente atravessasse a esquina da Rua Tupinambás para que, alguns passos depois, encontrasse a "oferta imbatível" oferecida pela rede concorrente: um refrigerador anunciado a R$ 1.599, com desconto de R$ 500 sobre o preço anterior de R$ 2.099. Prontamente, o vendedor mostra as condições do plano de pagamento parcelado em 15 vezes de R$ 117,20 no cartão próprio da empresa. Ainda indecisiva, a dona de casa recebe outra proposta. "Faço a venda no cartão de crédito da senhora e a primeira parcela a senhora só pago no vencimento do cartão".

A briga pelo consumidor nesse endereço famoso do Centro de BH vai além das estratégias para não perder venda, em meio a três anos de queda dos negócios do comércio no Brasil. As grandes redes de eletroeletrônicos Casas Bahia, Ponto Frio, Ricardo Eletro e Magazine Luiza disputam, lado a lado, em dois quarteirões da Rua Curitiba, dividindo as paredes de antigos edifícios comerciais. Lojas Marisa e C&A também estão lá, debaixo da mesma marquise, além de concorrentes menores dos ramos de calçados, bolsas e malas.

NO CÉU Num janeiro em que a sobra de estoques superou o esperado e o consumidor sumiu das lojas, as megaliquidações precisam inovar. Se o cliente não se animou com os descontos nos preços à vista, outra estratégia é vender a prestações muito baixas. A dona de casa que procurava um fogão novo de quatro bocas encontrou a oferta de R$ 849 à vista pelo produto ou em 10 pagamentos de R$ 84,90 na primeira loja em que entrou na Rua Curitiba. "Posso dar desconto de mais R$ 100 à vista e negocio com o gerente para a senhora fechar com a gente", diz o vendedor. Ainda sem ânimo de enfrentar a despesa ela prefere atravessar um quarteirão e, enfim, encontra uma proposta mais agressiva, embora por um produto de marca inferior. O fogão do concorrente era vendido em seis prestações fixas de R$ 24,50, a taxas de juros de 1,20% ao mês.

"O dinheiro do consumidor é curto e todo mundo briga por ele. Agora ele está no céu", justifica o comerciante Marco Antônio Gaspar, vice-presidente da de Belo Horizonte (-BH). A explicação é simples e, ao mesmo tempo, cruel para a agressividade das campanhas promocionais deste ano: as sobras dos estoques de 2016 cresceram e as megaliquidações são a alternativa para transformá-las em dinheiro para pagar as contas do negócio.

O economista Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), diz que especialmente os segmentos que dependem das vendas a prazo estão se desdobrando para não afastar ainda mais o consumidor das lojas. Nessa categoria está o varejo dos chamados bens duráveis, como eletroeletrônicos e automóveis. "O comércio está tentando atravessar essa tempestade para, no mínimo, reverter as perdas", afirma. As vendas do comércio varejista caíram 6,4% no Brasil de janeiro a novembro de 2016, de acordo com o levantamento mais recente feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O segmento de móveis e eletroeletrônicos amargou queda superior a 10%.

Juro só baixa em seis meses

Sobre preços de refrigeradores anunciados com cortes de R$200, vendedores oferecem descontos de R$100 ou mais (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

A festa que os analistas de bancos e corretoras fizeram na semana passada com a nova redução para 13% ao ano da taxa básica de juros, - a Selic, que remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referência para as operações nos bancos e no comércio -, está longe de fazer sentido para o consumidor assediado pelas megaliquidações do comércio. Das canetadas dos membros do Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central aos balcões das lojas e caixas dos bancos, serão necessários pelo menos mais seis meses até que o consumidor sinta algum efeito da queda da taxa no custo do dinheiro, estima o economista Fábio Bentes, da CNC.

O problema central que o varejo enfrenta num cenário tão desfavorável é não ter como interferir na dosagem da taxa de juros e nem em medidas de política econômica que poderiam gerar o emprego e a renda que tanta falta fazem aos clientes. Isso explica por que as megaliquidações deverão se estender até a metade do ano, na avaliação da CNC.

"Quando a economia tiver o mínimo de crescimento para garantir a capacidade de empregabilidade dele (do cliente) e a sua capacidade de pagamento é que o consumidor ficará menos assustado", afirma Bentes. Enquanto o ambiente político e da economia continua desfavorável, o varejo adotou estratégias cruciais para não perder vendas, que consistem na negociação com os fornecedores, no investimento nas liquidações e na adoção de um mix de produtos mais compatível com o orçamento apertado das famílias.

A Via Varejo, dona da Casas Bahia e Ponto Frio, negociou com seus fornecedores para oferecer promoções mais agressivas neste ano, segundo o diretor comercial da companhia, Luiz Henrique Vendramini. Os sites das duas empresas oferecem produtos para pagamento em até 14 e 16 vezes, respectivamente, no cartão próprio. Descontos de até 45% serão concedidos até 15 de fevereiro na página eletrônica do Extra e até 3 de março na do Ponto Frio.

Algumas empresas, a exemplo da líder no mercado brasileiro de computadores Dell do Brasil, decidiram repetir as promoções feitas durante a Black Friday, em novembro do ano passado. O saldão da companhia oferece descontos na compra de notebooks, desktops, serviços e acessórios, chegando ao corte de R$ 1 mil em um tipo de computador. Além dos descontos, o frete é gratuito e a compra pode ser parcelada em até 12 vezes nos canais de atendimento direto da Dell. (MV)


Palavras Chave Encontradas: Câmara de Dirigentes Lojistas, CDL
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.