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Varejista.com ( Notícias ) - MG - Brasil - 15-12-2016 - 00:00 -   Notícia original Link para notícia
Desemprego faz consumo cair nas cidades da Grande BH

O aumento do desemprego está por trás de resultados negativos da economia na capital mineira. A falta de uma ocupação formal leva belo-horizontinos a se endividarem menos. Neste cenário, são raros os que compram e os comerciantes continuam amargando queda nas vendas. O efeito é dominó, tanto que empresários do varejo de BH registram redução de 1,61% nos negócios no período de janeiro a outubro, de acordo com dados divulgados ontem pela de Belo Horizonte (/BH).

O desemprego também aparece entre as causas da redução do índice de endividamento do consumidor, revelado pela Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG). Segundo a pesquisa, esse indicador caiu de 29,6%, em outubro, para 26%, no mês passado. A queda do índice de endividamento - que identifica famílias que têm contas ou dívidas contraídas em cartões de crédito, cheques pré-datados, financiamentos, entre outros - tem ocorrido desde junho. Em setembro de 2014, ele estava em 66,5%.

"O desemprego vem inibindo o consumo. O que se observa é que, ao deixar de consumir, está levando à queda do endividamento. As famílias passam por aperto orçamentário e ainda sofrem pressão da inflação", afirma o economista da Fecomércio-MG, Guilherme Almeida. Já a inadimplência, que avalia quem não terá condições de honrar as dívidas contraídas, registrou uma ligeira alta, passando de 3,3% para 3,7% no mesmo período.

Em novembro, 85,4% dos entrevistados se endividaram por causa do cartão de crédito. Na sequência, aparece o financiamento de casa (10,2%), financiamento de carro (8,0%), crédito pessoal (6,5%) e cheque especial (5,2%). Segundo o levantamento, a confiança na economia está no nível de insatisfação. Os indicadores de perspectiva profissional (86,3 pontos), renda atual (86,1), acesso ao crédito (52,3) e perspectiva de consumo (37,7) tiveram retração. Almeida atribui o resultado aos prognósticos desfavoráveis para 2017.

No acumulado do ano, o comércio registrou retração de 1,61% em 2016. Apesar da queda, o percentual é melhor do que no mesmo período de 2015, quando houve redução de 3,48%. No entanto, vale observar que a base de comparação já era baixa. Segundo o vice-presidente do /BH, Marco Antônio Gaspar, o desempenho ruim do varejo é resultado do desemprego e da pressão inflacionária. "Este ano, tivemos uma piora considerável nos indicadores de emprego. Com menos pessoas inseridas no mercado de trabalho, o capital que circula na economia também reduz", afirma.

SEM GASTOS

A empregada doméstica Maria das Graças de Lelis, de 42 anos, está sem emprego desde o início do ano. Hoje, ela começa um "bico" por somente 15 dias. Desde fevereiro, ela teve que puxar o freio. "Parei de comprar tudo: roupa, sapato, comida. A cesta básica eu consegui com a pastora da igreja que frequento", conta.

Os setores do comércio que tiveram maior queda em Belo Horizonte foram aqueles relacionados com máquinas, eletrodomésticos, móveis e louças (-2,43%), papelarias e livrarias (-2,22%), tecidos, vestuário, armarinho e calçados (-1,10%). Dona da papelaria Ponta de Lápis, no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de BH, Eunice Maia Alvim sente na pele a crise apontada pelos números. "Ninguém tem dinheiro e, por isso, estão deixando de comprar", afirma. As cadernetas da clientela são espelho da situação. "Nossos clientes podem fazer a compra e anotar na caderneta. Percebemos que elas diminuíram muito", reforça a pequena empresária, que resiste no mesmo ponto há 20 anos. "A loja do lado fechou há quatro meses", diz.

Com a criatividade, Eunice tem conseguido resistir. Ela colocou um ponto de internet para consumidores na loja e ainda tem investido em brinquedos e lembrancinhas para incrementar o mix de produtos. Com as estratégias, conseguiu um resultado um pouco melhor: no comparativo com setembro, outubro registrou aumento de 0,22%. Mas nesse sentido, o desempenho foi melhor também por causa do Dia das Crianças.

No país, retratação é ainda pior

O varejo segue mergulhado no atoleiro da recessão. Em outubro, as vendas caíram 0,8% em relação a setembro, segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado veio dentro da mediana das expectativas do mercado, de 0,9%. Quando comparado ao mesmo período do ano passado, o volume registrou retração de 8,2%. Embora o desempenho tenha vindo dentro da mediana esperada pelo mercado, de recuo de 8,6%, foi o pior para o mês em toda a série histórica, iniciado em 2001.

No acumulado em 12 meses encerrado em outubro, as vendas registram queda de 6,8%, também o pior resultado em 15 anos. O cenário para o varejo é desolador e reflete o quadro recessivo, de 12 milhões de desempregados. Tamanha é a profundidade do quadro econômico que nem mesmo segmentos que comercializam bens essenciais, como o de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, registraram bons resultados.

Em outubro, as vendas dessa atividade recuaram 0,6% em relação a setembro. Frente ao mesmo período do ano passado, a queda foi de 6,5%. Foi o pior resultado para o mês nessa base de comparação desde junho de 2003. O tombo surpreendeu até analistas de mercado, uma vez que a inflação no acumulado em 12 meses desacelerou de 8,48% em setembro para 7,87% em outubro.

Para a gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Isabella Nunes, o tombo atípico do segmento de hipermercados foi influenciado pela queda de 3,2% da massa de rendimentos no trimestre encerrado em outubro, em relação a igual período de 2015. "Esse desempenho representa um impacto sobre os gastos das famílias e mostra um adiamento e mudanças nas decisões de consumo."

Isabella ressalta que as famílias não estão "deixando de comer", mas, sim, reduzindo a quantidade de produtos comprados. "Existe um consumo menor por parte das famílias. Estão demandando menos e mudando as compras de marcas mais caras por mais baratas. Elas não deixam de gastar. Apenas fazem 'mix' do consumo", justificou. Pelos mesmos motivos de redução da massa de rendimentos na economia, outro segmento de bens essenciais que retraiu foi o de artigos farmacêuticos, medicinais, ortopédicos e de perfumaria, que recuou 0,1% na comparação com setembro e 6,1% em relação ao mesmo período de 2015. Foi o pior resultado da série histórica.

Além da retração do mercado de trabalho, a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Marzola Zara, reforça que pesa sobre o varejo uma forte redução do crédito. O principal efeito observado em outubro foi o desempenho do segmento de móveis e eletrodomésticos, que recuou 12,1% em relação a outubro de 2015, e o de material de construção, que caiu 13,8%.

INFLAÇÃO

A inflação, um dos principais fundamentos para o consumo, ainda não surtiu em outubro o efeito esperado. Embora a variação esteja em processo de desaceleração, o varejo pouco sente os efeitos. Para Thaís Zara, esse movimento deve ser mais claro nos resultados do último bimestre. "Os preços devem começar a registrar forte desaceleração em novembro e dezembro", comentou ela, que prevê queda de vendas de 6,3% este ano e alta de 1,8% em 2017.


Palavras Chave Encontradas: Câmara dos Dirigentes Lojistas, CDL, Criança
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