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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 11-12-2016 - 08:29 -   Notícia original Link para notícia
Mercado de luxo perde parte do brilho, e grifes deixam o país

Setor deve fechar o ano com alta de 5% nas vendas, quase a metade do que crescia na última década


"Até o padrão de compras dos consumidores de alto poder aquisitivo se tornou mais conservador" Guilherme Machado Analista de pesquisa da Euromonitor Internacional


Os pequenos luxos do cotidiano ficaram um pouco mais longe do brasileiro. Para provar um macaron da Ladurée ou experimentar uma bermuda de praia da Vilebrequin, o jeito agora é comprar uma passagem para a França ou para qualquer outro país onde estas marcas estão presentes. Os dois anos seguidos de recessão no país afetaram o perfil de compras até do cliente de alta renda. Com isso, grifes internacionais do segmento de luxo que desembarcaram por aqui quando a economia estava em expansão, começaram a fazer as malas em busca de mercados mais rentáveis.


EDILSON DANTAS


Entre os ícones locais desse segmento no varejo, o naufrágio da Daslu, que acaba de fechar sua loja no shopping JK Iguatemi, em São Paulo, por atraso nos aluguéis, é o movimento mais emblemático da abrangência da crise.


Se até pouco tempo o segmento parecia imune à recessão, o desempenho em 2016 mostra que o setor perdeu um pouco do brilho. Dados da Euromonitor indicam que as vendas do segmento de luxo crescerão 5% este ano, contra a média de 9% da última década, e o auge de 11% em 2013.


Um dos segmentos nos quais esse movimento foi mais intenso é o de automóveis de luxo. Após três anos consecutivos de expansão, Jaguar, Land Rover, BMW, Mercedes e Audi acumulam queda de 27,3% nas vendas até novembro, segundo números da Anfavea, associação que reúne as montadoras.


Guilherme Machado, analista de pesquisa da Euromonitor Internacional, explica que o cenário instável também prejudica a confiança do consumidor mais rico, que passa a ser mais criterioso com seus gastos.


- Até o padrão de compras dos consumidores de alto poder aquisitivo se tornou mais conservador - resume Machado.


DIFICULDADE EM ENTENDER O GOSTO DO BRASILEIRO


Bruno Pamplona, consultor especializado no mercado de luxo, percebe as mudanças no dia a dia. Em sua empresa, ele atende famílias milionárias e as auxilia a comprar bens de alto valor, como barcos, aviões, imóveis e carros. Ele relata que, desde o ano passado, predomina o receio quanto ao futuro. A apreensão não só afeta o tamanho dos gastos, como faz o consumidor concentrar suas compras em marcas mais reconhecidas, como Louis Vuitton e Chanel.


- O mercado de seminovos está muito mais aquecido. Hoje, a família que me procura para comprar um carro, por exemplo, opta por adquirir um zero quilômetro para o patriarca e seminovos para a esposa e o filho - exemplifica.


Outro movimento que perdeu fôlego com a crise, segundo o especialista, é a importação de barcos e aviões, que estava forte há dois anos.


- O câmbio encareceu demais as transações. Além disso, não é possível prever qual será a cotação daqui a uma semana. Sendo assim, esse público tem preferido comprar um usado que já está aqui - detalhou Pamplona.


O Brasil é o 19º maior mercado de consumo de luxo no mundo. Se descontada a inflação, a Euromonitor conclui que as vendas do segmento fecharão o ano com retração de 3%.


- Além da crise, percebemos também que algumas empresas que fecharam ao longo deste ano não encontraram um casamento feliz de seus conceitos de produto com o gosto dos brasileiros. As linhas predominantemente retas e as cores mais sóbrias da Lanvin, por exemplo, não causaram o apelo ambicionado nos consumidores brasileiros de luxo - ponderou Machado, da Euromonitor.


Demanda mais fraca, altos impostos e o câmbio são os fatores que impactaram as atividades das marcas estrangeiras que decidiram deixar o Brasil. A Ladurée, exemplo, vendia cada macaron por R$ 11, antes de fechar. O valor é exatamente o mesmo que a marca pagava para importar cada doce. Outras empresas do segmento alimentício que encerraram as atividades são a espanhola de chocolates CacaoSampaka e a americana Red Lobster, famosa por suas lagostas.


Relatório elaborado pela Millward Brown tem conclusão na mesma linha da Euromonitor: as dez marcas mais poderosas do ramo perderam US$ 5 bilhões em valor ao longo deste ano, uma redução de 5%, para US$ 99,7 bilhões. Em 2015, a consultoria havia registrado a primeira retração no valor dessas marcas, de 6%, equivalente a US$ 7 bilhões, para US$ 104,6 bilhões. Entre as razões para a perda de valor, segundo relatório da Millward, está o menor consumo brasileiro.


"O crescimento mais lento no Brasil, Rússia e China impactou os valores de certas marcas. E a força do dólar dos EUA também impactou negativamente as vendas de marcas americanas ofertadas no exterior ou compradas nos EUA por visitantes estrangeiros", explica o relatório.


RECUPERAÇÃO SÓ EM 2018


A pesquisa da Euromonitor também identifica um arrefecimento do consumo de luxo em todo o mundo. Machado explica que ao longo de 2016 os mercados de luxo considerados consolidados, como os da França e de Hong Kong, e os emergentes, como Rússia e Brasil, sentiram impactos de problemas econômicos vividos em seus países. Ele pondera porém que a Índia e o México têm mostrado crescimento vigoroso nas compras deste tipo de artigos.


O maior mercado de luxo do mundo é o americano, representando 21% das vendas globais em 2016. China e Japão vem em segundo e terceiro lugar, respectivamente.


E as perspectivas para o segmento no Brasil não são animadoras. A Euromonitor indica ainda que para 2017 a estimativa é de um crescimento módico de vendas de 1% acima da inflação. A recuperação, segundo a consultoria, só deve começar em 2018 e, mesmo assim, ainda longe dos dois dígitos nos próximos cinco anos.


- A recuperação deve começar a acontecer somente em 2018 e mesmo assim o crescimento não deve voltar aos dois dígitos pelos próximos cinco anos. Nesse período o Brasil deve ultrapassar a taxa de crescimento médio mundial e se reaproximar de taxas de crescimento mais elevadas, como aquelas que o México tem apresentado - detalhou Machado.



Outro indicador da perda de encanto do mercado brasileiro, segundo o levantamento, é a diminuição do interesse de grifes de luxo negociarem sua entrada no país. "Assim, prevemos entrada de poucas marcas no Brasil. Essas poucas entrantes e as que se mantiveram no país deverão disputar acirradamente a preferência do consumidor", analisa a Euromonitor, em relatório que acompanha os dados da pesquisa.


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