Em decisão unânime, Copom corta pela segunda vez consecutiva a taxa Selic. Baixa de 0,25 ponto foi feita considerando economia mais fraca do que o esperado e a inflação

Comitê do Banco Central promove redução prevista pelo mercado

O Banco Central decidiu ontem cortar a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,25 ponto percentual, para 13,75% ao ano. É o segundo corte dessa magnitude desde a reunião de outubro, quando a autoridade monetária começou a reduzir a taxa de juros. A decisão foi unânime e já era amplamente esperada pelo mercado financeiro. No comunicado divulgado após a decisão, o BC destaca que a economia se mostrou mais fraca do que o esperado no curto prazo e que o ritmo de queda da inflação pode se intensificar se a retomada demorar mais para ocorrer. Por outro lado, a autoridade ressalta que há sinais de resistência na inflação de serviços.

O grande divisor de águas para definir as expectativas para o Copom deste mês foi a eleição do empresário Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. Até ser conhecido esse resultado inesperado, os analistas estavam mais divididos sobre a manutenção ou aceleração do ritmo de corte da Selic. Mas a incerteza gerada nos mercados diante da vitória de Trump deslocou a quase totalidade das apostas para uma nova redução de 0,25 ponto na taxa básica de juros.

A avaliação é que a indefinição sobre as futuras políticas econômicas que serão promovidas pelo presidente nos EUA eleito exige cautela. Isto porque as ações expansionistas que Trump prometeu durante a campanha podem provocar fuga de ativos de países emergentes, depreciando o câmbio e, consequentemente, impactando para cima a inflação. Logo nos dias seguintes ao anúncio da vitória de Trump, essa expectativa levou o dólar a bater R$ 3,50 na máxima intraday.

Além disso, contribuiu para a percepção de queda de 0,25 ponto percentual na Selic, segundo os especialistas, o tom bastante cauteloso que o Banco Central tem demonstrado em suas comunicações, ainda temeroso com o ritmo de convergência da inflação à meta de 4,5% em 2017, apesar do arrefecimento dos preços nos últimos meses. Os analistas ainda destacam o comportamento da inflação de serviços, que tem sido um dos principais alvos do BC, uma vez que a autoridade monetária tem citado repetidamente a preocupação com a velocidade de desaceleração desses preços mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária.

Falta de ousadia Apesar da segunda queda consecutiva, a redução da taxa básica de juros ainda gera críticas entre os empresários mineiros. O presidente do Sistema Fiemg, Olavo Machado Junior, avaliou ontem que faltou ousadia à decisão do Copom. "O Brasil persiste em recessão e a inflação segue desacelerando", argumentou. Para ele, essa falta de ousadia atrasa o próximo ciclo de crescimento. Ainda de acordo com ele, "com pouco espaço fiscal disponível, em todos os níveis da administração pública, o país depende exclusivamente da política monetária para estimular a recuperação da produção".

Já para o presidente da Câmara de Dirigentes LojistasCâmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDLCDL-BH), Bruno FalciBruno Falci, avalia que ainda que pequena, a redução da Selic é um alento para o varejo. "Após um longo período de sucessivas altas na Selic, o movimento lojista da capital recebe com bons olhos a decisão do Banco Central de reduzir, pela segunda vez no ano, a taxa básica de juros. O corte dos juros chega para dar início aos investimentos produtivos que geram emprego e renda e alavancam a atividade econômica", disse o empresário em nota divulgada ontem.

Com juros e inflação em alta, o desempenho do varejo da capital mineira deve fechar o ano de 2016 com queda de 2,97%. Para 2017, a CDLCDL/BH ainda não fez a previsão da expectativa de crescimento para os setores de comércio e serviços. Mas a expectativa do setor varejista é que o próximo ano seja melhor para o segmento, com taxas de juros menores e inflação controlada.