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Estado de Minas Online ( Feminino e Masculino ) - MG - Brasil - 06-11-2016 - 11:28 -   Notícia original Link para notícia
Fora do lugar - comum

Estilistas e designers de BH vêm construindo histórias de moda que passam longe do fast fashion. Resultado é a liberdade criativa e a fidelização do público consumidor mesmo em tempos de crise





A questão é até filosófica, envolve equações comportamentais e mercadológicas. No entanto, basta assistir a um desfile de moda para perceber que há, sim, uma série de mudanças em andamento. A mais evidente diz respeito à nova forma de organização da agenda entre lançamentos e vendas, o modelo conhecido como see now, buy now (ou resgate da pronta-entrega, como preferem alguns). Há, ainda, conceitos novos em voga a exemplo do genderless (ausência de barreiras entre os gêneros feminino e masculino), além de uma verdadeira corrida à quebra de padrões (e expectativas), no melhor estilo seja você mesmo: homem, mulher, jovem, velho, magro, gordo. Independentemente de etnias, credos, orientação sexual: abaixo os preconceitos, por favor. Do lado de cá do balcão, o público acompanha as mudanças e também contribui para que aconteçam, a exemplo da parcela que já questiona o próprio jeito de consumir, prestando mais atenção aos bastidores da produção: saber quem produz e de que forma produz tem sido fator determinante na decisão de compra.




Em contrapartida, enquanto os grandes decidem o que fazer e como se adequar, há estilistas e designers que optaram por criar a própria história, e por isso mesmo trilham caminhos de certo modo independentes dessa ciranda toda. Aqui, em BH - cidade reconhecida desde os tempos do Grupo Mineiro de Moda como celeiro de talentos e de vanguarda criativa -, sobram exemplos. Na reportagem a seguir, o Feminino & Masculino conversou com oito empresas que insistem em ser e se manter "fora do lugar-comum", e que vão muito bem, obrigada, assinando trajetórias que propõem, antes de tudo, fidelidade ao próprio DNA, nos segmentos vestuário (nesta edição), calçados e bolsas (no próximo domingo).

Produto com alma Estilista que integrou o Grupo Mineiro com a Printemps, Sônia Pinto saiu do mercado por um tempo e retornou em 1998, quando fundou a grife que leva seu nome. "A principal motivação na época era o recomeço e a sobrevivência", conta. Assim, criou algo novo, fora dos padrões estabelecidos na época e que já não atendiam mais às próprias expectativas. "Parti para a essência, um produto feito com alma. Nosso DNA vai além de um consumo desmedido e produções absurdas em escala. Prezamos um vestir que colabora para a qualidade de vida de toda sociedade envolvida. Desde o fornecedor ao cliente final. Valorizamos a mão de obra de qualidade tão rara hoje em dia", discorre.



Ancorada em conceitos como modelagem, tecidos de qualidade, design atemporal, acabamento e exclusividade, a grife não terceiriza nenhuma peça da produção. "Tudo é produzido internamente por profissionais de excelente qualidade. Praticamente, não temos rotatividade de funcionários e os mesmos recebem o melhor salário do mercado. Cada pilotista, pois é como nossas costureiras são classificadas, faz as peças do começo ao fim. Não há segmentação da produção", explica ela. Entre os diferenciais, Sônia aponta ainda as parcerias. "Temos parceiros artesãos que nos ajudam a desenvolver tecidos com intervenções manuais: pintura, macramê e outras técnicas bastante especiais são utilizadas no desenvolvimento. Nosso acabamento é elogiado inclusive pelo avesso".



À parte do mainstream fashion, a criadora revela que há muito não antecipa lançamentos, justamente por ter adotado, lá atrás, uma forma de criar atemporal. Por isso mesmo, as tendências do mercado não são determinantes. "Estamos na contra mão do mercado nacional. Aceitamos participar do Minas Trend no primeiro semestre com a condição de apresentar nosso inverno enquanto todas as outras marcas estavam lançando o verão. E assim foi. Lançamos de quatro a seis coleções por ano, sempre com as peças da estação vigente. O see now, buy now faz parte desde a criação da marca."



A estilista descreve o público-alvo como mulheres independentes que se vestem para si, que têm coragem de assumir seu estilo, corpo e não usam marcas apenas para pertencer a um determinado grupo. "São na maioria, artistas, psicólogas, jornalistas e pessoas formadoras de opinião." E afirma que o preço das peças varia de R$ 370 a R$ 7 mil, no varejo. "Até o começo deste ano comercializávamos no esquema de atacado para uma loja parceira, no Rio, mas decidimos encerrar um ciclo e atualmente temos nos dedicado praticamente ao varejo. O atacado deverá vir ano que vem, por meio da exportação, já houve muito interesse de compradores internacionais pelo nosso produto", adianta.



Em tempos bicudos, Sônia avalia a crise como uma grande oportunidade de crescimento para todos. "Não é fácil ter que se reinventar, mas evoluímos com o desafio. É preciso profissionalizar o negócio, principalmente em uma empresa familiar como a nossa, que tem características peculiares. Estamos buscando sempre nos atualizar sem perder a essência", avalia. Sobre a moda autoral, ela é taxativa: "Sempre acreditei e sempre vou acreditar. É o que amo fazer!


 


 


Identidade brasileira 


 


"Acreditamos que ser fiel à proposta da marca é uma maneira eficaz de se manter forte diante da crise. Um produto com identidade e que não seja massificado foge da rota", diz Patrícia Guerra, estilista que fundou em 2003 a grife Auá - termo na língua tupi que significa homem, mulher, índio, gente de todo o mundo. "Criamos a grife com o desejo de fazer moda em um contexto mais amplo, misturando artes plásticas, formas alternativas de design, culturas distintas e muita história", define.



Tanto é que, entra e sai coleção, o DNA permanece. "Cortes simples e estamparias na maioria das vezes assinadas por outros criadores, sejam designers, indígenas ou artistas plásticos, abordando a identidade brasileira como um espaço múltiplo e complexo, vista do lugar da montanha, da rua e também da floresta. Mundos tão variados se expressam também no uso das matérias-primas - que vão da seda ao linho, dos diferentes algodões às fibras da madeira, priorizando sempre a matéria natural."



Hoje, a produção Auá integra toda a família Guerra, as filhas de Patrícia, Clarissa e Laura, e o marido, Paulo, que individualmente ou em grupo participam da produção desenvolvida na pequena fábrica própria (uma parte ínfima e pontual é terceirizada). Outra característica é a proposição de peças que prezam pelo conforto e têm modelagem que veste diferentes perfis de público. "Privilegiamos o movimento e a fluidez, mas também elegância e sofisticação, conceitos expressos no cuidado com as proporções e acabamentos. Nos inteiramos das tendências, mas não as colocamos como prioridade. A Auá veste mulheres de diversas idades, formas e desejos. Nos propomos a fazer moda como está impresso no nosso nome: para gente de todo o mundo." Com uma loja própria em BH (que funciona como laboratório de experimentações), a grife também comercializa as coleções por atacado, no esquema de pedidos. Em breve, lançará a loja on-line.


 


 


Aprendizado


 


Representante da turma de novos talentos, a jovem Bharbara Renault criou a grife Jardin logo que saiu da faculdade de design de moda, em 2009. "Comecei ainda em casa, sonhando com a primeira coleção. Dali o projeto foi ganhando forma, cara e identidade, um plano de negócios. Lancei no ano seguinte, numa sala que dividia confecção e showroom, no Bairro Sion", lembra.



Desde o início, a estilista conta que o DNA da marca se imprime em recortes, misturas de texturas, estampas exclusivas e shapes diferenciados que valorizam uma silhueta elegante e feminina. O preço médio é R$ 350. "Eu diria que o produto ser autoral é o maior diferencial. Quando você cria e não copia, torna-se único. Não importa se é tendência ou não, você tem uma linguagem própria. Além disso, nossas peças são atuais, têm uma pegada descolada, que traduz conceito e individualidade em modelos versáteis. Eu diria que uma mulher que veste Jardin é chique sem fazer esforço e sem abrir mão do conforto", descreve.



Hoje, além do showroom próprio e da comercialização via e-commerce e também em diversas multimarcas do país (no esquema de atacado), a grife acabou de inaugurar a primeira pop-up store de sua história, no Pátio Savassi, o que representa um salto e tanto em pouco tempo de mercado. "Temos que estar atentos às tendências, mas hoje a moda é muito democrática. Todos podem usar tudo. A rua dita moda e muitas vezes a tendência vem do street style para a passarela e não ao contrário, como ocorria há um tempo atrás".



Bharbara acredita no diferencial do produto, e diz que para sobreviver neste mercado competititivo é preciso apostar na própria história. "Não é fácil, até porque a marca ainda não é tão conhecida. Mas eu acho que é exatamente o fato de me manter fiel a uma proposta de produto desde o início que me permite sobreviver mesmo nos momentos difíceis. Quem não tem foco acaba se perdendo e sendo esquecido", pontua. Ela ainda define a cliente, "uma mulher que entende e se expressa pela moda, valoriza qualidade, tem um dia a dia multifacetado, com diversos compromissos que oscilam entre o profissional e o pessoal. Ela opta por looks casual chic para estar sempre 'pronta' e, mais do que follower, ela é trendsetter. É uma mulher que sabe o que quer vestir." Revela ainda que a maior parte da produção é feita no atelier, modelagem, pilotagem, corte, arremate, passadoria e controle de qualidade. "Terceirizo apenas uma parte da costura". Já o modelo de produção dividido em coleções primavera-verão, outono-inverno está com os dias contados. "Ele está sendo muito questionado. Ainda produzo assim por conta do calendário de vendas do atacado, mas no varejo isso já não existe. Você tem que ter novidades sempre, não precisa lançar tudo de uma vez só", acredita.


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