Leitura de notícia
Diário do Comércio online - BH (MG) ( Economia ) - MG - Brasil - 20-10-2016 - 00:00 -   Notícia original Link para notícia
Entrevista | Falci compara País a um paciente terminal

De acordo com , saquearam o País com corrupção e com abuso nos gastos sociais/Alisson J. Silva

Grave crise financeira, sucessivos escândalos de corrupção, instabilidade política, impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e posse de Michel Temer. Nos últimos três anos, o Brasil vem enfrentando um verdadeiro turbilhão de problemas, que tem refletido diretamente sobre os principais setores da economia nacional. Presidente da de Belo Horizonte (-BH) desde 2011, afirma que o comércio varejista nunca passou por um momento econômico tão ruim como este. Há 36 anos à frente da centenária Casa Falci, do ramo de materiais de construção, o empresário enxerga a gestão anterior como a grande responsável pela situação do País.

Em 2016, a previsão do Banco Bradesco, em parceria com a -BH, para as vendas do varejo na Capital é de queda de 2,97%. Para o Brasil, a expectativa é ainda pior: -5%. Em entrevista exclusiva ao jornal DIÁRIO DO COMÉRCIO, Falci fez duras críticas ao último governo e comparou o País a um paciente terminal no qual todos os "órgãos", de alguma forma, apresentam um tipo de comprometimento. O empresário ressaltou, porém, que é preciso aproveitar o agora para tomar as medidas necessárias para alcançar a recuperação, mesmo que sejam "amargas".

Além da aprovação da polêmica Proposta de Emenda à Constituição 241, conhecida como a PEC do teto de gastos públicos, vista com desconfiança por parte da população, o presidente da -BH considera fundamental a execução de uma reforma tributária e a atração de investimento externo para que haja a retomada do crescimento nacional.

Como o senhor analisa o quadro econômico do País hoje?

O momento atual é resultado da macroeconomia equivocada dos últimos anos, que está refletindo em um cenário ruim: alta inflação, desemprego, baixa rentabilidade das empresas e a corrosão dos salários. Soma-se a isso, ainda, a corrupção. Por outro lado, o que a gente pode falar de positivo é a exposição dos malfeitores. Quer sejam políticos, quer sejam da iniciativa privada, todos estão sendo expostos com esse problema de corrupção que o País tem enfrentado. Agora, tem de ter a punição. Não adianta político perder o cargo ou empresário ser preso. Isso é parte. Eles têm de devolver todo o dinheiro que roubaram para ajudar a pagar este custo que o País está tendo.

E como o varejo tem lidado diante deste cenário?

É a pior crise que já passamos. Estou na Casa Falci desde 1980, passei por todos os últimos planos econômicos e nunca vi nada tão ruim. Essa é uma crise que a gente não sabe o dia de amanhã. Quem imaginava que iriam tirar a presidente da República? Quem imaginava que tirariam o presidente da Câmara? Quem é que imaginava que o Lula tivesse os processos nas costas dele? É uma crise estrutural. Fazendo uma comparação, o Brasil está como um paciente de 90 anos com falência múltipla dos órgãos. A parte econômica está péssima, a política, ruim, a jurídica também, a tributária é uma confusão, a trabalhista outra, a previdenciária está quebrada... Mas temos que aproveitar esta hora ruim para tomar as medidas amargas.

Temer assumiu a presidência com a promessa de "colocar o Brasil nos trilhos". O senhor acredita que o presidente está no caminho certo com o pacote de medidas que tem buscado implementar?

O Temer está absolutamente certo quando tenta criar um teto de gastos. Nós fazemos isso empresarial e particularmente. O que o Temer está buscando fazer não é nada mais, nada menos, do que apertar o cinto. As áreas sociais, que às vezes estão perdendo um 'possível' recurso, porque não tem recurso carimbado, não sabem se vão ter dinheiro ou não. Só vai ter verba se a economia funcionar. Então, antes de reclamarem que não vai ter dinheiro, tem de saber o seguinte: que dinheiro? Depois que tiver o recurso, aí fazer uma distribuição é perfeito. O Brasil passou não sei quantos anos com muita tranquilidade, talvez quatro, gastando mais do que arrecadava. Faliu. A última gestão quebrou o País. Saquearam o País com corrupção e com abuso nos gastos sociais.

O temor quanto a uma deterioração das áreas da saúde e educação com a PEC 241 então não deveria ser a principal preocupação agora?

Não. É lógico que se eu estivesse na ponta que está recebendo o dinheiro, se me tirassem um centavo, não iria gostar. Mas essas áreas têm de ser autossustentáveis também. Será que eles não podem fazer mais, com menos? E para eles continuarem a receber, o Brasil tem de estar em desenvolvimento. E o País está em recessão. Mesmo quando o Brasil estava crescendo, crescer 3% ao ano é ridículo. Isso não é crescimento, é manutenção. Crescimento para o Brasil é acima de 5% e constante. Sabe por quê? É um País subdesenvolvido, pobre, que tem muito a desenvolver. O Brasil não cresceu. Ele colocou a cabeça assim para fora e voltou.

O Projeto de Lei Complementar (PLP) 25/2007, conhecido como Crescer sem Medo, já está nas mãos de Temer para apreciação e promete um certo alívio para as micro e pequenas empresas (MPE's). Qual dos pontos da proposta o senhor avalia que traz o maior benefício para os empreendedores brasileiros?

Para a empresa se desenvolver, não pode haver um limite de crescimento. Com a criação das MPE's, no entanto, eles criaram limites. Vários empresários, quando chegavam ao teto de R$ 3,6 milhões de faturamento, paravam de crescer, limitavam-se porque, se passassem disso, seriam desenquadrados e perderiam incentivos, ou seriam mais penalizados ainda porque passariam para outra classe. Você saltar de R$ 3,6 milhões era problemático. Isso é uma pressão contra. Tem de deixar a empresa crescer. Então, o projeto está criando uma faixa de transição até R$ 4,8 milhões, e isso aí já dá um alívio. A proposta ainda indica cortes de tarifas, que acho que é isso aí: um pouquinho de cada vez, até para o empresário ir se adaptando.

Falta algo mais para impulsionar o varejo de modo geral no País?

São esses incentivos que a gente tanto reclama. Ter uma reforma tributária, por exemplo. Estamos vivendo em uma ditadura tributária. Enquanto Tiradentes morreu por causa do quinto do ouro, hoje os empresários e trabalhadores estão morrendo por causa do dobro do imposto.

A segurança pública tem impactado de alguma forma no cotidiano dos varejistas em Belo Horizonte?

A segurança pública é um "caso de polícia". É vergonhoso. É uma legislação ruim e que não é cumprida. Fizemos uma pesquisa que fala que mais de 80% dos comerciantes se sentem inseguros ou muito inseguros. Não sei o que a polícia tem para falar. Gostaria de ouvir a polícia neste sentido. Isso é a prova maior da insegurança.

As novas tecnologias têm contribuído para a geração de formas diferenciadas de venda de produtos, como o e-commerce. Como o varejo tem encarado essas novas tendências de consumo?

O brasileiro não sabe comprar se não pegar. Ele gosta de pegar. Lógico que muitas vezes uma pessoa vai a uma loja, vê o material, pega o celular dele e compra por ali. Isso existe, mas acho que para 90% dos consumidores nada vai substituir a interação. A pessoa gosta de ser bem tratada. Tem pessoas que não gostam disso, mas a maioria gosta. Então essa percepção que os vendedores têm que ter para tratar, para vender, isso não se substitui em muitos casos pela compra eletrônica. Lógico que tem coisas que são iguais em qualquer lugar que você for, então esse é um produto que é mais fácil de ser adquirido pelo comércio eletrônico. Mas uma boa parte, acho que não vai substituir essa interação entre o vendedor e o cliente.

A -BH dá alguma assistência aos lojistas que buscam orientação por essas novas formas de venda?

A tem cursos, estamos com uma parceria forte com o grupo Anima para cursos na área de comércio e serviços. Sempre estamos atentos a isso. Temos um programa de varejo inteligente, em que abrimos para as startups se inscreverem e ajudá-los a desenvolver. E dentro disso aí acredito que tenha alguma coisa voltada para o comércio eletrônico. Frequentemente temos palestras, fazemos discussões sobre o e-commerce, que é uma forma de comércio, e não tem como remar contra a maré. Mas não é fácil, a gente vê empresas grandes que entraram no comércio eletrônico e voltaram atrás. Ou outras que estão ali sem gerar resultados. É um meio de comércio irreversível, vai se adaptar mais em uns produtos, e o comerciante tem de estar atento.

2017 vai ser mesmo um ano melhor para a economia brasileira?

A retomada da economia vai depender da parte da nossa crise moral. O Brasil por si só vai melhorar, mas não tem "musculatura", é um País pobre e com muita necessidade de investimento. Na hora que fala em não desenvolver tanto em investimentos, olha como é. É porque tem muita necessidade. Mas a necessidade só será suprida se o PIB crescer bastante, e o Brasil não tem "musculatura" própria para isso. Só vai ter se houver injeção de investimento externo, e só vai vir investimento se o mercado internacional sentir segurança no País. Na hora que o capital externo chegar e se somar a um clima melhor de confiança, o povo brasileiro acreditar e conseguir vender isso lá fora, aí ano que vem, quem sabe, a gente vai ter realmente uma retomada.


Palavras Chave Encontradas: Bruno Falci, Câmara de Dirigentes Lojistas, CDL
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.