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Portal O Tempo ( Economia ) - MG - Brasil - 16-10-2016 - 03:00 -   Notícia original Link para notícia
A rua é um balcão de negócios

Especialistas dizem que desemprego tende a aumentar até 2017, jogando mais informais no mercado
Luciléia de Oliveira Rodrigues, 47, e sua filha Gláucia Rodrigues, 25, viram na rua a oportunidade de renda. "Minha outra filha começou a fazer bolo de pote para vender na faculdade, e eu pensei: se lá está dando certo, na rua também vai dar", conta Luciléia. E está dando. Vendem cerca de 80 unidades por dia, a R$ 5. Elas saem por volta de meio-dia e voltam às 18h. Ficam até 1h da madrugada fazendo os bolos. Elas tinham um salão de beleza, mas foram obrigadas a fechar as portas neste ano. "As clientes foram perdendo os empregos, e não deu mais. Até tentamos procurar emprego, mas não esperam nem a gente entrar direito nos postos de atendimento e já falam que não tem vaga", conta Luciléia. Segundo economistas, essa falta de vagas ainda dura pelo menos até meados do ano que vem e, consequentemente, a informalidade seguirá crescendo.

De acordo com o economista do Ibre/Fundação Getúlio Vargas (FVG) Fernando de Holanda Barbosa Filho, a informalidade tem mais chances de cair expressivamente só em 2018. "Em 2017, é possível que pare de aumentar. Agora, para isso, é necessário que o governo trabalhe a questão fiscal', diz o economista.

Ele explica que os reflexos da redução da atividade econômica levam um tempo para serem sentidos no mercado de trabalho: "A mesma lógica vale para quando a atividade econômica volta a crescer. O emprego não cresce na mesma velocidade. Afinal, o empresário espera um tempo para saber se o crescimento dos negócios é consistente."

"Este ano já está perdido. O PIB deve cair entre 3% e 3,5%. A melhora mesmo só deve vir em meados de 2017, pois primeiro o empresário tem que ter certeza de que haverá demanda; até lá, os atuais empregados farão mais horas extras", analisa a professora do MBA de Economia do Instituto Business School (IBS/FGV) Virene Matesco.

Até lá, a quantidade de gente se virando como pode também tende a crescer. "Em uma crise, a informalidade tende a aumentar exponencialmente, pois as pessoas precisam comer. E se você não tem renda ou alguém da família para te ajudar, tem que partir para buscar alguma alternativa, e criatividade desponta. Tenho visto gente vendendo de tudo e movimentando a economia compartilhada, por meio de trocas", afirma.

Gláucia conta que, depois de desanimar de procurar uma vaga com carteira assinada, ir para a rua vender bolo foi a melhor ideia. Ela anexou o WhatsApp ao trabalho informal. "Muitas clientes já fazem os pedidos, e a gente leva lá", afirma. (Com Juliana Gontijo)

Glossário

Economia subterrânea. Segundo o presidente do Etco, Edson Vismona, é o mesmo que informalidade, ou seja, todo bem e serviço produzido sem ser declarado e, portanto, sem gerar impostos.

Grandes perdas

R$ 6,3 bi em vendas ilegais de cigarros no país, o que dá 31% do mercado

R$ 27 bi em vendas ilegais no setor de vestuário, um total de 14,2% do mercado formal

R$ 4,8 bi é quanto giram os pacotes ilegais de TV por assinatura, o que dá 15,5% do mercado

R$ 79,3 bi é o total de que se perdeu só na arrecadação de impostos, entre 2012 e 2015

Em quatro anos Sonegação soma R$ 79,3 bi

Sivanil Toledo é um pouco diferente do batalhão de pessoas que encontraram na informalidade a maneira de sobreviver. Ele não foi para a rua recentemente porque perdeu o emprego com a crise, mas sabe muito bem o tamanho dela. "Eu trabalho nas ruas desde 1986 e nunca vi tanta gente como atualmente. A crise está séria. E se antes tinha muito camelô com banquinha, agora o povo vende é no braço mesmo", revela.

De acordo com a professora de MBA de Economia do Instituto Business School (IBS/FGV) Virene Matesco, a informalidade é uma alternativa de sobrevivência diante da recessão, mas, ao mesmo tempo, acaba acentuando a crise: "A arrecadação cai violentamente. Com isso, os serviços de utilidade pública são afetados, falta dinheiro para medicamentos, segurança e educação. É uma dinâmica muito perversa."

A economista da (-BH), Ana Paula Bastos, destaca que os reflexos são cruéis. "O aumento da informalidade é péssimo para o comércio, pois traz uma concorrência muito desleal nos preços, pois os formais pagam impostos, aluguel e funcionários", afirma.

Se nenhum bem ou serviço fosse produzido às margens da formalidade, o país teria mais R$ 957 bilhões no PIB só no ano passado. E, de 2012 a 2015, teria arrecadado R$ 79,3 bilhões a mais, segundo os estudos do Ibre/FGV e do Etco. Essa é a estimativa da sonegação. "O problema é a complexidade tributária. Além de atrair pessoas para informalidade, dificulta a vida de quem quer se manter dentro da legalidade", destaca o presidente do Etco, Edson Vismona.


Palavras Chave Encontradas: Câmara de Dirigentes Lojistas, CDL
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