Rede hoteleira oferece promoções e novas possibilidades de hospedagem para atrair clientes. Expansão para a Copa do Mundo elevou a oferta de apartamentos, mas demanda não cresceu

Gustavo Perucci

Publicação: 28/08/2016 04:00

Hotel Quando.com, criado por Max Campos e Pedro Xavier, já conta com mais de 50 mil usuários cadastrados
As coisas não andam fáceis para o setor hoteleiro de Belo Horizonte. Três anos depois dos diversos investimentos em novos empreendimentos, visando atender ao fluxo de turistas da Copa das Confederações e, depois, da Copa do Mundo de 2014, o aumento da oferta, sem alterações significativas na demanda, vem causando prejuízo aos empresários que apostaram na construção de hotéis na capital e até mesmo aos que já atuavam na área. Mesmo que o município necessitasse de renovação em sua rede de hospedagem e o período de competições tenha atraído viajantes, o saldo é negativo, com mais de 10 unidades fechadas desde então.
Diante do difícil cenário, hotéis e empreendedores buscam novas formas de atrair clientes. Foi assim que Flávio Lemos ficou conhecendo o HotelQuando.com, iniciativa de dois empreendedores de São Paulo focada no turismo de negócios. "O mercado segue leis clássicas. Quando a demanda cai muito e a oferta sobe demais, os preços despencam. Com isso, o mercado fica cada vez mais agressivo, buscando novas formas de atrair hóspedes. A ideia do HotelQuando.com veio somar, com uma maneira diferente de fazer a hospedagem, que ninguém havia pensado ainda", relata Lemos.
A ideia do HotelQuando.com é simples. Por experiência pessoal, os sócios Max Campos e Pedro Xavier perceberam o quanto era injusta a cobrança de uma diária completa de quem passou poucas horas no hotel. Assim, criaram a plataforma que possibilita reservas por pacotes de três, seis, nove e 12 horas, por um preço mais justo. Com dois anos de existência, a startup aposta em possíveis clientes, que, em situações normais, não se hospedariam em hotéis, gerando nova fonte de renda para o setor.
"Hoje, 60% de tudo que vendemos é para o público corporativo, empresas. Quase 40% de todas as viagens a negócio no Brasil demanda apenas uma noite de hospedagem, o que conseguimos atender com nosso pacote de 12 horas, reduzindo despesas das empresas. Além disso, o viajante a negócio que tem um gap muito grande entre um compromisso ou outro ou só quer descansar ou trabalhar em um ambiente tranquilo pode optar por alguns dos pacotes menores", ressalta Max Campos, CEO e cofundador do HotelQuando.com. Além do site, que já conta com mais de 50 mil usuários cadastrados, um aplicativo para iOS e Android está disponível desde janeiro.
O preço das reservas por períodos curtos é proporcional à diária. O pacote de três horas custa 40% do preço da reserva convencional. O de seis horas, 43%. Para se hospedar por nove horas, 63%; e 12 horas, 73%.

OTIMISMO A crise no setor hoteleiro de BH ajudou a empresa a entrar no mercado mineiro. "Foi uma das cidades onde mais se construíram hotéis para atender à Copa do Mundo. E a demanda não acompanhou essa oferta. Não analisaram se, pós-Copa, essa demanda permaneceria. Isso, de fato, facilitou um pouco mais nosso discurso para convencer esse hoteleiro a trabalhar conosco", completa Campos.
Lemos avalia como positiva a parceria com a HotelQuando.com, que já conta com 22 hotéis conveniados na capital mineira. Depois de um ano de experiência, o gerente da Rede Boulevard sente que um novo público passou a se hospedar em suas unidades. E o melhor: a rotina de funcionamento e a logística não precisaram ser alteradas em nada, gerando, inclusive economia. A aposta da startup é utilizar os quartos ociosos sem custos adicionais aos parceiros.
"Começamos a captar hóspedes que, normalmente, não se hospedariam. Quem está em BH e vai voltar para sua origem no mesmo dia - que chega às 6h e vai embora às 23h -, quer descansar nessa janela de tempo. Aí o HotelQuando.com oferece a possibilidade de ele se hospedar por três, seis horas. Além de darmos utilidade a um apartamento ocioso, o cliente paga somente o percentual da diária, pelo período utilizado, e não temos o maior custo da diária, que é o café da manhã. O custo com esse cliente é muito pequeno, basicamente o de lavanderia", acrescenta Lemos, que também oferece promoções e vantagens como isenção de cobrança de estacionamento, como forma de fidelizar o hóspede.

FACILIDADES Pensando em resolver um dos grandes incômodos para hóspedes de hotéis de todo o mundo, a Promenade Hotéis & Aparts lançou o Fim de Semana de 60 Horas. Oferecendo 12 horas adicionais para clientes que passaram o fim de semana em uma das unidades, a rede flexibiliza os horários de entrada e saída dos turistas, comodidade sem custos adicionais.
Geralmente, muitos viajantes têm problemas em conciliar o horário dos voos com os de check-in (14h) e check-out (14h) nos hotéis. "Já fazíamos isso. O que resolvemos foi, então, institucionalizar essa prática e fazer a campanha como mais um dos serviços da Rede Promenade. É o que chamamos de early check-in ou late check-out. O objetivo é que o hóspede possa driblar mais a malha aérea, que também foi reduzida com a crise. Com isso, ele pode optar por um voo mais cedo, sabendo que terá onde ficar. Ou sair em um horário um pouco mais tarde, mais próximo da partida do avião. O público-alvo é o de turismo de lazer, pois quem viaja a negócios já tem uma agenda predeterminada", explica Diogo Affonso, diretor da Rede Promenade.

Informação no bolso

Informar sobre atrações turísticas da cidade e oferecer rede de serviços ao viajante é o conceito por trás da Minicards, franquia holandesa trazida ao Brasil pelo Plus Grupo, presente em mais de 40 países e principais destinos do mundo.
Sem custos aos hotéis, a empresa disponibiliza cartões (do tamanho dos de crédito) com informações sobre os principais pontos turísticos da cidade, como horário de funcionamento, mapa e contato. Cada unidade fala de um lugar diferente. "O hotel oferece serviço de informação de qualidade ao hóspede, com opções de atrações e estabelecimentos de forma organizada. Ajuda até a organizar o balcão da recepção, que, antes, ficava cheio de flayers e panfletos. O Minicards organiza essa questão. Não colocamos qualquer tipo de anúncio, buscando dar credibilidade ao anunciante", explica Luiz Ricardo Silva, diretor da Plus Grupo. Atuando somente em Belo Horizonte e São Paulo, o diretor espera expandir a marca no formato de franquias. Além do formato físico, em que descontos de serviços e comércio são oferecidos, a empresa aposta também no aplicativo para celulares.

ATRAÇÕES Gerente da Rede Ímpar, Rodrigo Avelino comprova a utilidade do Minicards, que melhora, inclusive, o atendimento nas unidades. Segundo Avelino, é comum o cliente buscar informações sobre o que fazer na capital com os recepcionistas do hotel, o que atrapalha os funcionários. Com o estande no balcão, o turista faz a pesquisa por conta própria, pedindo auxílio somente por uma dúvida ou outra.
"O turista chega e pergunta o que fazer em BH. Geralmente, lembramos de uns cinco roteiros ou lugares. Os Minicards oferecem muito mais opções, como museus, restaurantes. Ajuda até na questão do atendimento. Como hoje trabalhamos com um quadro de funcionários reduzido, eles não precisam parar o atendimento para dar informações turísticas aos hóspedes", afirma Avelino.