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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 26-06-2016 - 12:34 -   Notícia original Link para notícia
Sob efeito dos Jogos

Comércio reforça estoque e contrata pessoal; restaurantes esperam até triplicar vendas


"A Olimpíada provavelmente vai gerar um efeito superior ao da Copa do Mundo, porque é um perfil de visitante de maior poder aquisitivo" Mauro Osório Economista da UFRJ


Comerciantes reforçam estoque e contratam pessoal para atender à demanda durante a Rio-2016. Nos restaurantes, a expectativa é de até triplicar as vendas. Do galeto ao samba, comerciantes e fornecedores de serviços e entretenimento reforçam estoques e treinam funcionários para lucrar com o movimento dos Jogos Olímpicos, para os quais são esperados 500 mil turistas. O evento é considerado por empresários um "oásis no meio do deserto", em referência à recessão que tem levado a demissões e queda nas vendas. Esperam que o bom movimento registrado durante a Copa do Mundo, há dois anos, se repita.


FERNANDO LEMOSExpansão. Loja da Dimona, na Saara: 40% da capacidade produtiva da empresa estão voltados para os Jogos


Para o economista da UFRJ Mauro Osório, dificilmente haverá frustração:


- A Olimpíada provavelmente vai gerar um efeito superior ao da Copa do Mundo, porque é um perfil de visitante de maior poder aquisitivo. Restaurantes, bares, hotéis e comércio de lembranças de praia devem se beneficiar mais.


Próximo à arena das partidas de vôlei de praia, dois tradicionais restaurantes, Galeto Sat's e Marius, estão afiando o inglês dos funcionários e investindo em cardápios em outros idiomas. O Marius, que serve um menu de degustação de carnes especiais, peixes e mariscos que sai por R$ 210, espera um movimento 50% maior que o atual. Os funcionários, que já falam inglês, estão passando por uma reciclagem com um professor contratado especialmente para melhorar a fluência do idioma estrangeiro. Na casa, os gringos comem


sirloin steak, como chamam a picanha, um dos cortes que mais têm saída.


- Estou atravessando essa crise sem demitir funcionários. Eles estão há muitos anos na casa, são experientes e treinados. Perfil raro de se encontrar - ressalta o dono do restaurante, Mairos Fontana.


Elaine Rabello, sócia-proprietária do Galeto Sat's, espera contratar cerca de dez funcionários, principalmente assadores, e triplicar a venda de galetos durante o período dos Jogos, para 15 mil unidades. Para atrair turistas, fez um pequeno investimento na tradução do cardápio em oito idiomas e em um mapa que destaca a localização do restaurante. O material será entregue nos aeroportos. Espera um incremento especialmente no número de frequentadores japoneses, que já são presença constante na galeteria e têm uma delegação com tradição de medalhas em Jogos Olímpicos. Segundo Elaine, enquanto os brasileiros dividem um frango por três pessoas, cada japonês come um:


- Eles se hospedam no Copacabana Palace, mas vêm comer galeto aqui. Chegam com um livro em japonês que indica o Sat's. Nunca descobri como essa indicação foi parar lá. Eles não deixam uma carne nos ossinhos e tiram foto até com os espetos.


A rede hoteleira está com ocupação total para o período dos Jogos. As possibilidades que ainda existentes para locação são hospedagens familiares, hostels e apartamentos. O efeito Olimpíada em investimentos elevou em 20 hotéis e 12 mil quartos a capacidade de hospedagem do Rio, que hoje conta com 600 hotéis, 36 mil quartos e 180 mil funcionários. Preocupa, no entanto, o mercado pós-Jogos.


- A apreensão é com relação ao que será o dia seguinte aos Jogos. Nossa ocupação média, que foi de 70% em 2015, muito por conta da preparação para a Olimpíada, deve cair muito, tornando alguns negócios inviáveis. Prevejo demissão de pelo menos 20% do contingente que empregamos - projeta Alexandre Sampaio, vice-presidente de hotéis do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro (SindRio).


Dois minutos a pé do Maracanã, o quilo Show de Bola já sente o efeito Olimpíada. Desde maio, quando começaram os preparativos para a abertura dos Jogos no estádio, a fila de clientes na hora do almoço não só aumentou como passou a falar outras línguas. São ingleses, italianos, americanos e canadenses que trabalham na montagem da estrutura e passaram a almoçar no restaurante. Um alívio para o dono do quilo, Paulo Dantas, que, pela primeira vez em 16 anos de funcionamento, ficou no vermelho no primeiro trimestre, por conta da combinação aumento de custos e queda nas refeições servidas. Agora, voltou a servir 200 almoços por dia, como antes do início da crise, em 2014. Ele diz que os gringos adoram o feijão, são simpáticos e se adaptam bem ao cardápio brasileiro do restaurante, cujo quilo custa R$ 44, de segunda a sextafeira, e R$ 47, nos fins de semana. Os pratos do bufê têm etiquetas com o nome dos alimentos em três idiomas.


- Ao fim dos Jogos, espero ter compensado o que perdi no começo do ano. Não aumento os preços há oito meses, apesar da minha compra de hortifruti ter quase dobrado de valor. Se eu aumentar, perco mais freguesia.


Uma grande churrascaria, localizada na Zona Sul, disse que, para boa parte dos dias da Olimpíada as reservas estão esgotadas. São grupos de até 200 pessoas, encaminhados por agências de turismo.


- A expectativa é que sejam 15 dias bem movimentados, como se fosse um fim de ano, que é a melhor época para nós - comentou um funcionário que preferiu não se identificar.


Quem promove festas, como o bar e restaurante Palaphita, também está com boas expectativas. A direção, que já dobrou a encomenda de bebidas para o período dos Jogos, espera mais que dobrar o faturamento nos 17 dias de competições.


A vinda de estrangeiros também movimenta o mercado de tradução. Marcelo Vitor Silva dos Santos, um dos proprietários da Wide Traduções Técnicas, no Centro do Rio, espera um incremento de 25% nos negócios este ano. Desde janeiro, a demanda por tradução simultânea já cresceu 15%.


- Não são eventos diretamente relacionados à Olimpíada, mas que têm relação indireta. Vamos fazer, por exemplo, palestras motivacionais de ex-atletas estrangeiros - explica Santos. Os Jogos Olímpicos proporcionaram à Dimona, uma empresa familiar que personaliza camisetas há mais de 40 anos, um salto digno de medalha. A empresa se qualificou para estampar camisetas e agasalhos oficiais do evento, abriu duas novas lojas, em Copacabana e na Barra da Tijuca, e espera vender 300 mil peças durante a competição. Também está prospectando clientes no mercado internacional. Fez sua primeira exportação, de dez mil peças, para patrocinadores da Olimpíada com sede ou fábricas no exterior.


A produção para os Jogos começou em novembro e hoje já corresponde a 25% do faturamento da empresa, o que, no período dos Jogos, deve dobrar, representando entre 40% e 50%, conta Leonardo Zonenschein, um dos quatro sócios da Dimona.


- Desde 2009, quando a cidade foi oficializada como sede da Olimpíada, sonhava em produzir camisas oficiais para os Jogos. Estamos nos preparando desde então e fizemos muitos investimentos, em maquinário de última geração, em desenvolvimento de produto e num parque de estamparia e logística inaugurado em Duque de Caxias, no ano passado - conta Zonenschein, sem revelar o valor do investimento.


Para se tornar fornecedor oficial, a empresa, com sede na Saara, no Centro do Rio, passou por uma auditoria. O Comitê Olímpico verificou, entre questões ambientais e trabalhistas, se a Dimona possuía capacidade técnica de reproduzir com fidelidade o logotipo dos Jogos nas cores e formas oficiais.


- O maior legado dos Jogos Olímpicos para o nosso negócio foi o aprimoramento da nossa técnica de impressão para personalizar com uma melhor qualidade - resume o empresário.


JOGOS SÃO "OÁSIS NO DESERTO"


As camisetas e agasalhos oficiais produzidas pela Dimona vão estar à venda nas seis lojas da rede, nos aeroportos, nas arenas onde vão ocorrer os jogos e em mais de 40 lojas de artigos turísticos.


Zonenschein conta que mobilizou 40% de sua capacidade produtiva para a Rio-2016. E sua expectativa é que os produtos destinados aos Jogos representem 20% do faturamento da empresa este ano.


- A Olimpíada é um oásis no deserto para nós - avalia o empresário, fazendo uma referência à recessão, que também afetou as receitas da empresa.



O carro-chefe da Dimona é a personalização de camisetas para eventos corporativos, cuja demanda está em queda.


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