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Portal EM ( Economia ) - MG - Brasil - 17-04-2016 - 13:00 -   Notícia original Link para notícia
Indústria calçadista fechou milhares de postos no 1° bimestre; cidade mineira é exceção

Tanto no Brasil quanto em Minas, resultados da indústria calçadista não são tão positivos quanto os de Nova Serrana



(foto: Euler Junior/EM/D.A.Press)

Embora Nova Serrana, no Centro-Oeste mineiro, apresente saldo positivo de contratações para este ano, a realidade não é a mesma para Minas Gerais nem para o Brasil, de forma geral. De acordo com dados da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), no primeiro bimestre deste ano frente ao mesmo período de 2015 houve queda de 7,6% nos postos de trabalho no segmento de calçados e couro. Somente em Minas, foram 4 mil postos fechados e, no Brasil, 31 mil. De acordo com a Associação Brasileira de Indústrias de Calçados (Abicalçados), houve queda de 8,6% em fevereiro na produção desses produtos no país frente ao mesmo mês do ano passado e nem mesmo as exportações brasileiras estão salvas com a alta do dólar.

Conforme destaca o presidente-executivo da Abicalçados, Heitor Klein, o ano de 2015 foi de queda em todos os indicadores de performance para a indústria calçadista. "Enquanto o varejo de calçados caiu 8%, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), registramos queda de 10% nas exportações, rompendo a barreira de US$ 1 bilhão e fechando o ano com apenas US$ 960 milhões em vendas para o exterior", reclama, apontando que o reflexo disso foi a queda no emprego, onde também houve recorde negativo histórico, fechando o ano com 284 mil postos na atividade, sendo que, em 2014, eram cerca de 330 mil postos.

Klein ressalta que este ano o setor começou como terminou em 2015. "No primeiro bimestre a queda em volume de vendas no mercado doméstico foi de 12% na relação a igual período de 2015 - que já havia sido fraco. Nas exportações, a retração foi de 6% no primeiro trimestre, embora tenha havido estabilidade em volume, resultado de um preço mais competitivo conseguido devido à alta da moeda norte-americana", avalia, sem boas expectativas. "No mercado interno, devemos amargar mais um ano de tombo. A brusca queda na demanda e a falta de confiança do consumidor nos impedem de pensar de outra forma. Já as exportações, embaladas por um preço mais competitivo formado a partir da valorização do real frente ao dólar podem equilibrar a performance geral, diminuindo, mas não suprimindo, as perdas de 2016", avalia.

"O setor vem acompanhando o cenário nacional", afirma a economista da Fiemg Annelise Fonseca. Ela diz que a indústria, de uma forma geral, vem sofrendo o forte impacto da crise econômica, sem perspectivas de melhoras a curto prazo. Segundo o último levantamento da Fiemg, a recuperação da atividade industrial está longe de ser atingida, uma vez que houve queda de 11,6% no emprego em fevereiro, frente ao mesmo mês do ano passado, e o faturamento real das indústrias registrou tombo de 14,7% nessa comparação. "O que pode estar favorecendo Nova Serrana é que, com a alta do dólar, os produtos importados estão menos competitivos no mercado interno", palpita.

Na opinião do empresário Ronaldo Andrade Lacerda, dono da Lynd Calçados, a "volta por cima" em Nova Serrana se deu porque os fabricantes projetaram um mercado péssimo para 2016. "O que ocorreu é que a realidade deste ano foi melhor do que se esperava. O cenário que desenhamos era muito ruim e, agora, está um pouco melhor", compara. Ele conta que a sua fábrica demitiu, no ano passado, cerca de 30 pessoas e este ano contratou o mesmo número. Além disso, a produção em relação ao segundo semestre de 2015 se manteve. "Mas, em relação ao primeiro semestre, está 10% menor", observa. Ele diz que já contratou o número que necessitava de pessoas e não pretende demitir nem admitir nos próximos meses.

SUBSTITUIÇÃO

Nova Serrana não tem números significativos para a exportação, conforme informações do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Calçados de Nova Serrana (Sindinova). Porém, de acordo com dados da Abicalçados, a valorização do dólar tem impactado nas importações de calçados. No trimestre, entraram no Brasil 8,17 milhões de pares por US$ 101 milhões, quedas de 27,6% em volume e 35,5% em valores na relação com igual período de 2015. No recorte de março a queda foi ainda maior. No mês passado, foram importados 2,35 milhões de pares por US$ 30,3 milhões, quedas de 47,2% em pares e 46% em dólares, na relação com o mesmo mês do ano passado.

As principais origens das importações do trimestre foram Vietnã (3 milhões de pares importados por US$ 54,16 milhões, queda de 36,3%); Indonésia (1,23 milhão de pares por US$ 22 milhões, queda de 38,5%) e China (3,33 milhões de pares por US$ 13,13 milhões, queda de 29,5%). "Hoje, com o freio no consumo, os consumidores estão buscando qualidade e os nossos calçados têm essa vantagem", ressalta o empresário Ronaldo Andrade Lacerda, dono da Lynd Calçados, em Nova Serrana. Em Belo Horizonte, de acordo com dados divulgados na semana passada pela (), os itens mais importantes para os belo-horizontinos na hora das compras são: preço (30,5%) e qualidade dos produtos (15%). Quando perguntados a eles, na pesquisa, quais os produtos pretendem consumir, os mais citados foram roupa (23,2%) e calçados (18,1%).

LONGE DO IDEAL

No Brasil, de acordo com a Abicalçados, em março, os calçadistas exportaram 10,56 milhões de pares, que geraram US$ 79,77 milhões, 12,5% menos do que no mesmo mês de 2015 (US$ 91,14 milhões). Em pares, porém, a queda foi menor, de 2,3% frente aos 10,8 milhões de pares exportados em março de 2015. Segundo a associação, a receita gerada vem registrando aumentos mês a mês. Em janeiro, foi de US$ 69,33 milhões e em fevereiro de US$ 77,65 milhões. "Existe uma recuperação gradual, mas ainda está muito aquém do esperado para o período", comenta Heitor Klein.

Para ele, a oscilação cambial e a instabilidade política e econômica brasileira geram certa apreensão no mercado internacional. "Em poucos meses, passamos de uma cotação de mais de R$ 4 para R$ 3,50 por dólar. A insegurança é muito grande. Os importadores esperam o melhor momento para fechar negócios, o que acaba atrasando ou até inviabilizando embarques", aponta. Por outro lado, o fato de haver estabilidade no volume é visto como positivo pelo executivo. "Não perdemos mercado e o dólar mais elevado, apesar de instável, vem possibilitando formação de preço mais competitivo", explica.

Nova Serrana

em números

Perfil

Centro-oeste de Minas Gerais

89.859

População estimada, em 2015

R$ 1,6 bilhão

Produto Interno Bruto (PIB),

a preços correntes

R$ 19, 6 mil

PIB per capita

Fonte: IBGE

Onde estão as vagas?

De acordo com levantamento da Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese), foram gerados, em Nova Serrana, nos dois primeiros meses do ano, 2.572 novos postos de trabalho, sendo os principais para: preparador de calçados, alimentador de linha de produção, costurador, cortador e acabador de calçados, moldador de plástico por injeção, auxiliar de escritório, apontador de produção, preparador de solas e palmilhas e trabalhador polivalente da confecção de calçados. Ainda de acordo com o governo, 364 municípios contrataram mais do que demitiram em janeiro e fevereiro deste ano. Entre eles, 25 geraram mais de 100 novos postos de trabalho, totalizando 7.086 contratações nos dois primeiros meses do ano. Além de Nova Serrana, Patos de Minas gerou 381 novos empregos; Uberaba, 350; Nova Lima, 340; e Patrocínio, 326.

Palavra de especialista

Guilherme Velloso Leão

analista econômico da Fiemg

"As principais recomendações para a empresa se recuperar diante de momentos de crise passam pela adoção de uma estratégia de gestão baseada no controle restrito do caixa, protegendo ao máximo o capital de giro da companhia. Isso envolve aprimorar a gestão do contas a receber e a gestão de risco dos clientes. Deve haver o máximo alinhamento entre o contas a receber e a pagar. Evitar endividamento de curto prazo junto a bancos, factorings e financeiras (antes, tentar negociar com fornecedores e/ou negociar adiantamentos de recebimentos junto a clientes) também é importante. Investir no aprimoramento do controle dos estoques é imprescindível, pois compromete capital de giro. Investimentos, somente aqueles que possam comprovadamente gerar reduções de custos ou aumento de produtividade. Avaliar a terceirização de serviços e vender ativos subutilizados ou que estão alocados em linhas de produção deficitárias também pode ser interessante. Neste momento, a distribuição de lucros e dividendos deve ser suspensa também, priorizando a formação de uma reserva de contingência para fazer frente a riscos de caixa. Cuidado, neste ano de eleições e incertezas políticas, com as vendas ao setor público. Municípios (e os estados e governo federal) estão quebrados. Só produza com adiantamento mínimo que cubra 100% dos custos de produção e o rateio das despesas."


Palavras Chave Encontradas: Câmara dos Dirigentes Lojistas, CDL
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