Compradores: a inflação reduz capacidade de pagamento/

No encalço da alta da inadimplência, o número de consumidores na capital mineira que regularizaram as dívidas caiu 7,87% em fevereiro, frente ao mesmo período do ano passado. A pressão inflacionária e, principalmente, as taxas de juros elevadas têm dificultado a vida do belo-horizontino que, com menor poder de compra, não tem conseguido honrar com todos os compromissos financeiros. Os dados são do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) da Câmara de Dirigentes LojistasCâmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDLCDL-BH).

Em comparação com o mês anterior (janeiro de 2016), o índice de recuperação de crédito também registrou uma queda expressiva de 12,62%. Apesar de elevado, o número é reflexo de um comportamento comum no início de ano. Nos primeiros meses, boa parte da renda dos consumidores está comprometida com despesas como matrículas escolares, reajustes de tarifas, compras parceladas de Natal, além dos já conhecidos tributos como Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).

"No início do ano, as pessoas costumam estar mais descapitalizadas pelos compromissos comuns à época, como pagamento de tributos, por exemplo. Mas essa situação de queda na regularização das dívidas também está aliada à falta de planejamento financeiro - caso daquelas pessoas que já estão mais endividadas a longo prazo - e com a alta inflação, que aumenta o custo de vida e reduz a capacidade de pagamento do consumidor", explica a economista da CDLCDL-BH, Ana Paula Bastos.

As altas taxas de juros também pesam negativamente para a redução nas regularizações. "Quanto maiores os juros, mais difícil é para o consumidor renegociar seus débitos, pois o valor da dívida fica maior", destaca. Hoje, a taxa básica de juros (Selic), que serve de referência para outras cobranças, é de 14,25%.

Inflação - Na última semana, a inflação, porém, deu indícios de que pode iniciar uma tendência de queda, após seguidas altas. Depois de desacelerar em fevereiro, a prévia para março, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA -15) também apontou para queda. De acordo com Ana Paula Bastos, a redução da inflação pode contribuir para estimular os consumidores a aumentarem o índice de recuperação de crédito, mas não é garantia de que a medida seja tomada.

"É um fator positivo. Essa retração na inflação diminui o custo de vida, você passa a ter mais renda disponível, só que há também o outro lado, o do crescimento da taxa do desemprego. As pessoas estão sem emprego, então, como vão pagar? Logo, essa tendência de aumento no índice de recuperação do crédito está muito mais atrelada à retomada do emprego e à queda na taxa de juros, porque é esta que encarece a dívida e torna mais difícil a negociação", afirma a economista da CDLCDL-BH.

Débito - Em relação aos consumidores que regularizaram os débitos junto ao SPC da CDLCDL-BH em fevereiro, a maior parte pertence ao sexo feminino (58,3%). Na análise por faixa etária, os que mais recuperaram o crédito foram os belo-horizontinos entre 30 e 39 anos (28,82%) e os que menos o fizeram foram os jovens de 18 a 24 (8,29%).

Ana Paula Bastos recomenda que os consumidores que desejam regularizar a sua situação devem se planejar antecipadamente e, em seguida, buscar a opção mais adequada. Em caso de dívida com cartão de crédito, sem o nome negativado, por exemplo, a economista recomenda ao consumidor que contrate um empréstimo a uma taxa de juros menor que a cobrada pelo cartão para quitar o débito de uma só vez. Já para aqueles com nome negativado, Ana Paula indica a negociação direta da dívida com o credor. Em fevereiro, o número de pessoas inadimplentes no SPC da CDLCDL-BH cresceu 4,73%, em relação ao mesmo mês do ano anterior.