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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 27-03-2016 - 10:22 -   Notícia original Link para notícia
Futuro ameaçado

Investimento menor e demografia reduzem à metade a capacidade de expansão do Brasil, para 0,9%


"Acaba a crise política, e o país só vai crescer entre 0 e 1%. Não tem capacidade de crescer mais, sem aumentar a produtividade"
Fabio Kanczuk
Professor da Faculdade de Economia da USP "O Brasil não soube usar esse dinheiro farto para aplicar em setores sustentáveis, com produtividade alta. Investimos em petróleo, com pressupostos que não são verdadeiros"
Rafael Baciotti
Economista da Tendências Consultoria


A crise reduziu a capacidade de expansão da economia a menos de 1%, metade da que havia em 2013. Investimento em queda, crescimento menor da população e baixa produtividade inibiram o potencial de avanço que o país terá quando a recessão for superada. A severa crise está comprometendo o futuro do país. A capacidade de o Brasil crescer nos próximos anos caiu drasticamente de 2013 a 2015. Quando for superada a recessão que aflige o país desde meados de 2014, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços) só conseguirá subir cerca de 0,9% ao ano, segundo cálculos de diferentes economistas, menos da metade do potencial de 2013, que era de 2%. População, investimento e produtividade caindo ou crescendo pouco estão minando a potência do motor da economia, que já superou 4% na segunda metade da década de 2000. Os três pilares que definem o quanto o país consegue crescer sem que a inflação aumente estão retrocedendo com a recessão e a rápida transição demográfica.


 A curto prazo, melhorando a expectativa, com a confiança reagindo, a economia pode voltar a crescer rápido. Há uma ociosidade de capacidade produtiva bastante significativa, que permitiria à economia crescer mesmo não investindo tanto. Mas, esgotada a capacidade ociosa, no momento seguinte à recuperação, será necessário fazer um esforço para voltar a crescer mais, com medidas de longo prazo afirmou José Ronaldo de Castro Souza Júnior, coordenador do Grupo de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que fez os cálculos do potencial de crescimento do país.


Atualmente, vivemos situação inversa. A recessão de 3,8% no ano passado e a expectativa de crise nas mesmas proporções este ano está deixando os parques industriais e os serviços com folga enquanto o desemprego aumenta, deixando 9,6 milhões sem ocupação no país. Portanto, quando a reação econômica vier, será fácil crescer. Estamos produzindo abaixo da nossa capacidade desde o segundo trimestre do ano passado. Ocupada a capacidade ociosa, ficaremos condenados a quase estagnação, crescer menos de 1% ao ano.


O crescimento populacional diminui década a década. Nos anos 1970, a população crescia 3% ao ano. Na última década, baixou para 1%,e o IBGE estima que chegaremos a 2030 com a população crescendo 0,4% ao ano. O investimento, outro pilar de estímulo à expansão econômica, vem recuando desde o segundo trimestre de 2014. A partir do ano passado, as quedas passaram de dois dígitos, sem trégua. A produtividade no Brasil, que representa um quarto da americana, está estagnada. De 2004 a 2008, o indicador subia 1,9%. No período seguinte, de 2009 a 2015, parou de avançar.


Acaba a crise política, e o país só vai crescer entre zero e 1%. Não tem capacidade de crescer mais sem aumentar a produtividade afirma Fabio Kanczuk, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP.


'O PAÍS PAROU AS REFORMAS'


A economista Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), diz que o caminho do Brasil poderia ter sido o oposto, de alto crescimento potencial, considerando as características do país. Um país emergente, que ainda vive o chamado bônus demográfico parcela majoritária da população em idade de trabalhar:


 Tivemos aumento de produtividade no período do governo Lula, não só pela questão externa. Houve estabilidade e maturação das reformas. O mercado de crédito se expandiu. A construção civil avançou. Mas o país parou as reformas. Fizemos algumas coisas, mas foi pouco.


Especialista em produtividade, o economista Victor Gomes, professor da Universidade de Brasília (UnB), também acredita que o país deixou de aproveitar o bom momento econômico e fez escolhas ruins, que comprometeram os anos seguintes:


O Brasil não soube usar esse dinheiro farto (que entrou no país com a ampliação do crédito no mundo) para aplicar em setores sustentáveis, com produtividade alta. Investimos em petróleo, no présal, partindo de pressupostos que não são verdadeiros: que países produtores de petróleo não teriam reação a esse movimento e que os preços ficariam estáveis. Em economia isso não é uma premissa histórica. Só salários sobem continuamente.


'EXCESSO DE INTERVENCIONISMO'


Kanczuk cita agências reguladores mais fracas, abundância de crédito direcionado dado por bancos públicos e contas públicas desequilibradas como outros motivos para jogar para baixo nossa capacidade de crescer:


 Isso derrubou o PIB potencial. O mundo crescendo menos derruba mais ainda.


Rafael Baciotti, economista da Tendências Consultoria, tem um número melhor de potencial de expansão. Acredita que o país, após a tempestade, poderá ter crescimento de até 2%. Diz que os efeitos da Operação Lava-Jato também influenciaram:


 Nos anos mais recentes, o excesso de intervencionismo na condução da política econômica resultou em perda de velocidade na incorporação de tecnologia e em menor eficiência na alocação dos recursos utilizados na produção.


Antonio Carlos de Lacerda, professor de Economia da PUC-SP, é mais otimista. Ele diz que o PIB potencial sofreu influência da crise política, da Lava-Jato, da queda de preços das commodities e da restrição da política monetária, com juros mais altos. Para Lacerda, é possível melhorar as expectativas para a criação de um ambiente de crescimento:


Acho que 1% (de PIB potencial) é subestimado. Diante de novas condições e taxas de juros compatíveis com a média, não vejo porque a economia brasileira não pode, pelo menos, repetir a média pós-Plano Real, de 3% ao ano.


Castro Júnior, do Ipea, calculou outro número que mostra o tamanho da crise. O investimento está tão baixo que mal cobre a depreciação de máquinas e equipamentos com o passar dos anos.


Para Kanczuk, o investimento em queda não explica o PIB potencial menor. Não é fator que atue diretamente no indicador.


 Investimento não afeta o PIB potencial. O investimento é mais um reflexo do baixo crescimento. Países como Japão, União Soviética e, mais recentemente, a China mostram que investir muito não garante crescimento. A China investe 50% do PIB, e a expansão do PIB está menor. No Japão, é a mesma coisa, investe muito e está estagnado.


As perspectivas para a produtividade, o principal responsável pelo aumento da nossa capacidade de crescer, não são boas, na visão de Gomes, da UnB.


 Não criamos negócios baseados em concorrência e com produtividade alta. Vamos ter uma estagnação imensa. Isso sem falar de nossos velhos gargalos, como a falta de infraestrutura e o natural envelhecimento  afirma.


Castro Júnior, do Ipea, afirma que a saída está em melhorar a qualidade da educação e das condições de saúde da população que cresce menos e envelhece (metade da força de trabalho terá 45 anos ou mais em 2050), para ficar mais produtiva.


 Tem que melhorar a regulação para estimular investimentos em infraestrutura, evitar excesso de protecionismo e facilitar absorção de tecnologia.


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