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Estado de Minas Online ( Feminino e Masculino ) - MG - Brasil - 06-03-2016 - 12:07 -   Notícia original Link para notícia
Vitória do talento

Ele superou obstáculos, virou referência em acessórios de noivas e chega aos 18 anos de carreira


Há três anos, a vida do designer de joias Pedro Muraro ficou em suspenso. Devido a um acidente de carro, ele quebrou a mão esquerda e ficou impossibilitado de fazer o que mais ama: desenvolver peças para noivas. Faltavam quatro meses para a primeira prova de uma tiara exclusiva e a mão mal mexia. Em vez de cancelar o contrato, Muraro se virou na oficina como pôde e entregou a peça à cliente antes do combinado. Nada melhor que essa história para mostrar a paixão e a dedicação de Muraro ao seu ofício. O designer diz que não escolheu a profissão, ela que o escolheu. Até então, ele não pensava em trabalhar com tiaras, muito menos com noivas. Foi um amigo que o incentivou a usar seu talento para realizar sonhos. Muraro completa 18 anos de carreira este mês e escolheu o Dia Internacional da Mulher para apresentar um desfile comemorativo, em que lançará uma linha masculina, com abotoadura e pulseira. Sempre inquieto e muito curioso, o designer de joias também trabalha como fotógrafo, é quase um arquiteto e agora está de volta à universidade para se tornar bacharel em artes plásticas.



 


Você sempre esteve ligado a atividades criativas?
Desde cedo demonstrava interesse por arte. Para você ter uma ideia, enquanto meus irmãos gastavam mesada com guloseimas, guardava o meu dinheiro para comprar pincel, tinta e tela. Como ninguém da família era artista, sofri muita resistência quando fui fazer vestibular para artes plásticas. Falavam que a profissão não ia me sustentar, queriam que eu estudasse administração de empresas ou odontologia. Comecei a fazer administração de empresas e trabalhei por três anos com o meu pai, que tinha um frigorífico, mas vi que não era o que eu queria. Então, fui fazer artes plásticas.

Qual era o seu plano?
Estava completamente perdido. Trabalhava como gerente em uma grande farmácia e já tinha saído de casa para estudar artes plásticas. Brigava muito com meus professores, porque eles queriam desenvolver meu lado artístico, mas meu pensamento era muito comercial. Como morava sozinho e queria sair do emprego, estava preocupado em descobrir como ganhar dinheiro. Já pensava em pintar quadros para fazer exposições e vender. Até que um amigo que fazia espetáculos em Belo Horizonte me perguntou se podia fazer um figurino. Gostava muito de metal, por causa do movimento que se consegue fazer com ele, e criei umas guerreiras com tiaras de arame, metal, chapinha de latão, tudo soldado com aquelas soldas de rádio, e pintei com spray. Não tinha o menor conhecimento de ourivesaria nem de banho. Só tinha conhecimento do metal, que estava aprendendo na escola, mas foi um sucesso.

Como você entrou para o mercado de noivas?
O dono de um ateliê de noivas que assistiu o espetáculo me procurou e pediu para ensiná-lo a fazer tiaras. Foi fácil. Há 20 anos, era tudo muito rudimentar. Torcia arame, soldava com solda de rádio, mandava banhar e colava strass. Depois, ele me apresentou para a dona da maior rede de vestidos de noivas do país na época, que só em Belo Horizonte tinha duas lojas, e ela me encomendou 30 peças para participar de uma feira em um mês e meio. Estava numa fase apertada financeiramente. Tinha acabado de pedir demissão do meu emprego, porque estava sem tempo para estudar, e não tinha de onde tirar dinheiro para produzir. Esse amigo me deu o dinheiro e me incentivou a começar uma nova vida.

Em que você se baseou para criar as primeiras peças?
Fiz tudo da minha cabeça, com o que achava no mercado. Fazia os galhos com arame torcido e soldava as flores, que estavam em alta na época. Quando fui entregar as peças na feira, a dona da rede de vestidos de noiva pediu para eu ficar no estande: tudo que conseguisse alugar, ela compraria. Fiquei roxo de ódio, porque não era o meu perfil vender, mas sei que batemos recorde de aluguel de vestidos por causa das tiaras. Algumas foram alugadas seis vezes. Ela comprou as 30 peças e me encomendou mais 150 para a próxima feira, que seria em São Paulo.

Por que suas peças fizeram tanto sucesso?
Falam até hoje que minha leitura é muito diferente. Levei a história da arte para o meu trabalho, ao "visitar" a Grécia antiga, Roma e o Barroco mineiro. As peças eram muito sinuosas e tinham muito brilho, então eram bem diferentes de tudo o que tinha no mercado.

O que mudou de lá para cá?
As tiaras eram muito baratas de se fazer e vender, então as lojas compravam demais. Na época, não tinha ateliê. Se fosse hoje, uma peça daquelas valeria R$ 400, mas hoje tenho tiaras que me custam R$ 9 mil. Isso porque todo o meu trabalho é na linha de ourivesaria. O mercado ficou mais exigente, então tive que buscar maior conhecimento e elaborei mais meu trabalho. Fiz curso de ourives e aprendi a trabalhar de outra forma com o metal. Dois anos depois, estudei filigrana em São Paulo, que é aquele trabalho artesanal português, e em seguida fui para a Escola Mineira de Joalheria. Mais tarde, fiz curso de modelagem em cera, tanto que faço todas as minhas modelagens a mão, não uso máquina.

Quais são os diferencias do seu trabalho?
O design arrojado e inovador, a qualidade do material - só uso prata e zircônio, que são metais nobres - e o conforto. Sempre experimento na minha cabeça, porque a mulher às vezes vai ficar oito horas com a tiara. Além disso, as minhas peças são totalmente anatômicas e ficam bem em qualquer ponto da cabeça. Penso muito também em como os cabeleireiros vão prender a peça. E mais, não copio nada e não faço reprodução. Se for para desenhar, faço com o maior prazer.

O que será apresentado de novidade no desfile comemorativo?
Vou investir nas pedras preciosas (água marinha, berilo e topázio) e vou apostar em um banho mais branco, então as peças vão ser bem mais clarinhas. Cheguei à conclusão de que as pessoas vem me acompanhando em tudo o que faço, porque virei referência, então tenho que mudar, senão fico na mesma.Fale também sobre a linha masculina.
Estou buscando um novo mercado, já que as abotoaduras estão fortes nos eventos e os noivos estão mais interessados. O que eles podem usar para brilhar como a noiva? Abotoadura e aliança. Por isso, vou lançar uma linha de abotoaduras diferentes, inspiradas em um homem mais moderno, que usa tatuagem e piercing. Tem um modelo que vira pulseira e outro que se encaixa como um piercing.

Quem são as noivas que procuram o seu ateliê?
Recebo desde a noiva extremamente clássica até a mais arrojada. Atendo também a noiva romântica, com a linha de flores de tecido misturadas com metal. O mais importante é entender cada cliente. Falo sempre com os meus funcionários: não trabalhamos com produto, e sim com sonhos, e com sonho não é permitido enganar nem errar. A partir do momento em que o sonho não foi realizado, não tem volta, por isso nossa responsabilidade é muito grande. Muitas vezes, a noiva chega aqui perdida e nem sabe dizer o que quer. Mostro para ela que, pela minha experiência, pode tudo em casamento, levando-se em consideração que a festa é íntima, por maior que seja. Ou seja, você não tem que mudar, tem que achar uma peça que seja do seu estilo. Não precisa se fantasiar de noiva, senão vira alegoria.

Você também se destaca no mercado de concursos de miss. O que muda na hora de pensar em uma coroa?
Sou o cara que mudou a história das coroas de miss. Em todos os concursos, era comum ver a miss desfilar segurando a peça, por isso desenvolvi uma modelagem para ela se encaixar na cabeça. A mulher fica em pé, anda, mexe a cabeça e a coroa não cai. A anatomia da peça faz diferença. Ela pode ser pesada, desde que seja confortável, e nisso o curso de modelagem me ajudou.

E em relação ao modelo?
Normalmente, coroa de concurso é em ouro branco, mas posso fazer de qualquer cor, tanto que a da Miss Brumadinho é de hematita, uma pedra escura. No ano passado, coloquei pedras vermelhas na coroa da última Miss Minas Gerais e este ano decidi que ela vai ser dourada. Tenho que estar um passo à frente, senão não seria a principal referência no Brasil. Faço as coroas dos Miss Brasil, São Paulo, Minas Gerais e de algumas cidades do interior, Brasília, Angola e Canadá.

De onde vem sua inspiração?
Não busco mais tendência. Hoje observo o que está ocorrendo no cotidiano. Na linha das tiaras, continuo "visitando" a realeza, mas não dá para buscar referências lá atrás para fazer uma peça masculina. Tenho que encaixar o homem nessa guerra entre fragilidade e força que ele que está vivendo. É notório que a mulher está conquistando mais espaço e o homem está brigando para não perder.

Como você se sente participando de um momento tão especial para a mulher, que é o casamento?
É uma honra ser escolhido, considerando que tem tanta gente no mercado. A pessoa dispensa tempo para conhecer meu trabalho e depois confia que vou entregar como combinado, principalmente quando é uma peça exclusiva.

Dá para perceber que você gosta realmente do que faz.
Temos que fazer o que gostamos, o dinheiro é consequência. Tenho experiência na administração e lembro-me que era um tormento trabalhar.

Nesses 18 anos de carreira, o que mais marcou você?
Tive grandes momentos. Em um deles, me associei a Tete Rezende e Marcus Martinelli. Fizemos grandes desfiles juntos e movimentamos a cidade entre 2005 e 2010. Até que resolvi quebrar esse ciclo. As lojas não compravam mais as minhas tiaras, porque o trabalho tinha ficado mais caro. Agora estou começando a perceber um novo mercado, de peças chinesas, que são vendidas pela metade do preço, mas isso não me afeta. Estou em outro nível da cadeira produtiva. Sento-me para desenvolver as tiaras e é isso que engrandece meu trabalho. Todo mês lanço de duas a três peças, tendo ou não clientes. Se tenho encomenda, dou uma brecada, porque o processo é lento. Demora quatro meses para a peça ficar pronta.

O que você tem feito para enfrentar a crise?
O momento é de cuidado. Falo que até então vivíamos a farra da noiva, elas gastavam sem pensar. Agora, as clientes estão estipulando o valor do investimento, tanto que a primeira pergunta que faço não é o elas querem, mas quanto estão dispostas a gastar. Podia me dar ao luxo de ficar dois anos sem criar uma peça nova, mas não consigo. Se pensar em crise, fecho as portas. Tenho que mostrar ao cliente que tenho produto e o preço não muda. Posso diminuir a quantidade de peças, mas qualidade, de jeito nenhum


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