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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 05-03-2016 - 12:05 -   Notícia original Link para notícia
Indústria tem alívio em janeiro, com alta de 0,4%

Para analistas, porém, recuperação
ainda demora


A indústria brasileira teve um pequeno alívio no primeiro mês do ano e surpreendeu o mercado com uma alta de 0,4% em janeiro, frente a dezembro. Foi o primeiro aumento após sete meses de retração. Na comparação anual, em relação a janeiro de 2015, no entanto, o ritmo de queda se aprofundou e foi de 13,8%  a décima taxa negativa seguida e a pior desde abril de 2009, durante a crise internacional, quando recuou 14,1%. Diante disso, a taxa positiva de janeiro não é vista como uma mudança na trajetória da indústria, que ainda vislumbra um ano difícil pela frente.



 A alta de janeiro é positiva por ocorrer após sete quedas seguidas, mas o recuo anual foi muito grande, não dá para falar em reversão. É um resultado pontual e pode ser visto apenas como algum indicativo de que podemos ver taxas menores de queda, algum sinal de que está parando de cair afirma o economista da LCA Consultores, Rodrigo Nishida, que espera retomada de queda em fevereiro, com projeção preliminar de 2%.


Entre junho e dezembro, a produção industrial acumulou perda de 8,7%, magnitude da qual a taxa de 0,4% de janeiro está longe de se aproximar. Mas o desempenho do primeiro mês do ano mostrou uma disseminação de taxas positivas, com altas em 15 dos 24 ramos pesquisados e três das quatro categorias econômicas. A única exceção foi bens duráveis, que recuou 2,4%, mas tinha subido em dezembro.


Com o resultado de janeiro, o patamar da indústria se encontra quase um quinto ( 19,2%) abaixo do nível recorde registrado em junho de 2013.


Gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Luiz Macedo lembra que as altas de janeiro não são suficientes para compensar as perdas de meses anterior. Bens de capital, com aumento de 1,3%, acumulou um recuo da produção de 12,9% nos três meses anteriores. Já o setor de bens intermediários, que subiu 0,8%, teve perda acumulada de 10,4% em dez meses.


É claro que a alta de 0,4% é uma situação melhor que mais queda, mas de forma alguma sinaliza mudança de trajetória. Quando se observa outras comparações, a amplitude de taxas negativas permanece  aponta Macedo.


DEMANDA INTERNA FRACA


Na sua avaliação, o resultado do mês pode ter sido influenciado pela base de comparação baixa, após as sete quedas seguidas, ajuste de estoques em alguns setores e também efeito de férias coletivas em dezembro, mesmo que os dados sejam dessazonalizados.


Quando se compara com janeiro de 2015, no entanto, o desempenho da indústria ainda guarda quedas de dois dígitos. Os bens de capital caíram 35,9% e os bens duráveis, 28,2%. Vinte e três dos 26 segmentos industriais tiveram queda. O principal impacto negativo veio de veículos automotores, com recuo de 31,3%, seguido pela queda de 16,8% da indústria automotiva e de 25,5% de máquinas e equipamentos.


Diante do predomínio de taxas negativas, apenas um quinto dos produtos industriais teve alta na produção. O chamado índice de difusão  que aponta a parcela dos 805 itens pesquisados com taxa positiva  ficou em 21,5% no primeiro mês do ano, o menor nível desde o início da série histórica do IBGE, iniciada em 2002.


Aproximadamente um quinto dos itens tem alta, é o menor nível já registrado. Claramente reflete esse perfil negativo para o total da indústria afirma Macedo.


Mesmo com uma avaliação positiva sobre o desempenho de janeiro frente a dezembro  diante do espalhamento das altas entre os setores e as categorias econômicas , o economista da Tendências Consultoria Rafael Bacciotti afirma que ainda não há sinais claros de reação da indústria. Além disso, as condições seguem desfavoráveis: a demanda doméstica ainda está contraída e a indústria, com elevado grau de ociosidade.


 A indústria tem algum alento em ganhos de competitividade, mas a demanda interna continua fraca. Ainda não há retomada diz Bacciotti, que projeta recuo de 6% da indústria em 2016, após a perda de 8,3% em 2015.


Com uma leitura mais otimista dos dados, o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rafael Cagnin diz que já sinais positivos, embora o cenário ainda seja nebuloso. Ele cita o avanço de bens intermediários há dois meses e de bens semi e não duráveis há três meses como sinal de que "as coisas começaram a acontecer".


Há indícios preliminares de que a trajetória de deterioração pode estar se estabilizando. Não são conclusivos, mas há alguns sinais avalia Cagnin.


EFEITO DO DÓLAR


Um dos aspectos positivos é a influência da alta do dólar. Segundo o IBGE, é possível observar esse efeito principalmente na produção de celulose, que subiu 14,2% em relação a janeiro de 2015, e no abate de carne, com alta de 4,3% na mesma base de comparação. Macedo vê ainda efeito no abate de suínos e aves, mesmo com a queda de 0,6%:


O que há de crescimento na produção industrial é o que tem viés para exportação. Alguns grupos do setor industrial têm comportamento positivo pela exportação, mas isso ainda é incapaz de reverter a situação da indústria.


Cagnin, no entanto, também vê sinais de efeito do dólar mais alto na produção de couro, artigos de viagem e calçados, com alta de 2,4%, e artigos de vestuário e acessórios, com aumento de 1,5%.



 O efeito se dá mais pela substituição de importações que pelas exportações, mas uma hora o ganho de competitividade por causa da taxa de câmbio vai aparecer.



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