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Diário do Comércio online - BH (MG) ( Economia ) - MG - Brasil - 02-03-2016 - 09:47 -   Notícia original Link para notícia
Fabricantes artesanais temem Páscoa "magra"

Assim como aconteceu com o Natal nos últimos anos, data deverá ser regida pelas pequenas lembranças


Daniela Macielin



Letícia Pimenta: apostar em qualidade e ingredientes especiais como matéria-prima pode ser a saída/Alisson J. Silva



Impactados pela crise econômica, os últimos dois natais foram rotulados como "das lembrancinhas". No mesmo ritmo, a Páscoa dá sinais que será "dos ovinhos". Pouco animados com o ritmo das encomendas e receosos com os resultados apresentados pelo comércio nos dois primeiros meses do ano, fabricantes de ovos de chocolate e outras guloseimas típicas da data vão comemorar se o resultado das vendas pelo menos empatar com o do mesmo período de 2015.

Entre as mais tradicionais fabricantes de chocolates artesanais de Belo Horizonte está a Bombons Lalka, fundada em 1912 na cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, e transferida para o bairro Floresta, na região Leste de Belo Horizonte, em 1925. Mesmo trabalhando com uma expectativa de 10% acima das vendas do ano passado, o proprietário da Lalka, Roberto Grochawski, se mostra preocupado.

"Tenho que trabalhar com uma margem de segurança por causa das encomendas de última hora, mas vou mudar a estratégia. Dessa vez vou deixar apenas as casquinhas dos ovos prontas para serem recheadas e embaladas em cima da hora. Creio que as vendas deverão se manter estáveis, porém com tíquete médio menor. Se faturarmos o mesmo do ano passado já será um bom resultado", explica Grochawski.

Acostumado a trabalhar com produtos que variam entre cinco gramas e 30 quilos, o empresário aposta agora nos tamanhos menores, mesmo para as versões mais sofisticadas. Outros produtos, como caixas de bombons, também são opções para quem não quer deixar de presentear mas precisa controlar os gastos.

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O aumento no preço dos insumos é a maior dor de cabeça do empresário, que se viu obrigado a diminuir a margem de lucro para não perder clientes. "Tudo subiu de preço e o cacau, que tem cotação em dólar, ainda mais. Estamos segurando os repasses para não perder vendas. Mantemos nosso foco na qualidade. Sabemos que a crise vai passar e quem abrir mão da qualidade agora não poderá competir no futuro", analisa o proprietário da Lalka.

Em Ouro Preto, na região Central do Estado, a Chocolates Ouro Preto também se prepara para celebrar a data com vendas que devem empatar com as da Páscoa do ano passado. Segundo Luciana Rocha, proprietária da empresa que surgiu em 2004 e hoje tem fábrica e duas lojas na cidade, o planejamento para a Páscoa começou em novembro e a previsão inicial era reduzir a produção.

"Pensamos em produzir menos ou não fazer tantas variedades, mas em janeiro, diante da presença dos turistas em Ouro Preto, voltamos atrás e decidimos manter a produção nos mesmos patamares de 2015. Percebemos as pessoas preocupadas, segurando os gastos, mas não acreditamos que elas vão deixar de comprar. Haverá, certamente, uma diminuição do tíquete médio. O reaquecimento do turismo interno foi muito bom para nós e acreditamos em um resultado que, pelo menos, empate com o do ano passado", afirma Luciana Rocha.

A estratégia da Chocolates Ouro Preto, que também fornece para a rede hoteleira da região, é manter a qualidade e investir em inovações, criando novos sabores e apresentações. Com ovos que vão de 50 gramas (R$ 7) a 850 gramas (R$ 82), sabores como 70% cacau e o trufado com doce de leite são as principais novidades. "As cestas e barrinhas são soluções para quem quer sair do comum ou controlar os gastos. Como toda nossa produção é artesanal e tem picos nessa época será preciso contratar entre 10 e 12 colaboradores para fábrica", destaca a empresária.

No mesmo sentido trabalha a chef Letícia Pimenta, que comanda a J'adore, no bairro Estrela Dalva, na região Oeste de Belo Horizonte. Também na direção do Buffet Pimenta Gastronomia, a chef oferece aos clientes não apenas o ovo de chocolate, mas todo o cardápio para o almoço de Páscoa. Para ela, apostar em qualidade, inovação e ingredientes especiais, como o chocolate com avelãs como matéria-prima, é a saída.

"Sempre tento inovar, crio uma nova torta, uma apresentação diferente para um prato tradicional. No caso dos ovos de Páscoa, trabalho com recheio de sorvete, que já é um diferencial. Percebo clientes contumazes fazendo encomendas menores, mas eles não deixam de comprar. Empatar com o ano passado já será um bom resultado diante do aumento de custos que sofremos", avalia Letícia Pimenta.


Crise derrubou o "apetite" do consumidor


Daniela Macielin



         Afetados diretamente pelo desânimo dos produtores de chocolates e guloseimas para essa Páscoa, os comerciantes de matérias-primas, como barras de chocolate, embalagens e frutas, também não apostam em um grande resultado para o período em 2016.

Nem mesmo os produtores caseiros, que costumam buscar uma fonte de renda alternativa, especialmente em época de desemprego. A microempreendedora individual Érica Martins fundou a Art et Chocolat, no bairro Sagrada Família, na região Leste, em 2014, depois de idas e vindas na profissão de administradora. O que começou como um complemento de renda se transformou na sua principal atividade, mas a Páscoa de 2016 não sinaliza, até agora, um período de bonança.

"Essa será uma Páscoa mais fraca por causa da crise. Todos os meus colegas que atuam na área estão sentindo uma queda no número de pedidos e a redução nos tamanhos dos ovos encomendados. No meu caso, diminui o volume de compras de matéria-prima e achei na internet uma alternativa com preços mais baratos. A saída é entender o que o cliente precisa usando a criatividade sem abrir mão da qualidade e sem aumentar os preços", ensina Érica Martins.

Diante desse cenário, a proprietária da Minas Chocolate, Ana Cristina Rodrigues da Silva, lamenta a queda nas vendas. Só de uma das marcas de chocolate que chegou, em anos anteriores, encomendar mil caixas, este ano reduziu para 50. "Estou, depois de 25 anos, alterando o mix da loja, deixando a confeitaria um pouco de lado e investindo em produtos de saúde e qualidade de vida. Além da inflação, o chocolate ainda sofreu um aumento de imposto que penalizou os comerciantes que não podem repassar os custos na totalidade sob pena de não vender mais nada", reclama Ana Cristina Silva.

Na gerência da Rei do Chocolate, Paulo Américo Santos se esforça para manter o ânimo mesmo diante do fraco movimento. Só agora as barras de chocolate e outros insumos como formas papéis e fitas para embalagem começaram a sair nas três lojas do centro e uma da Savassi. A tendência, de acordo com a experiência de quem está a 45 anos no mercado, é de que os resultados das vendas de Páscoa permaneçam estáveis na comparação com o mesmo período de 2015.

"A alta dos preços foi muito grande ao longo do ano passado e estamos segurando os repasses ao máximo. Os produtores caseiros ainda não apareceram. Acredito que estejam segurando o investimento com medo da crise. A Páscoa já não é mais uma data tão especial para nós. As vendas no Carnaval foram surpreendentes e o consumo tem sido mais homogêneo ao longo do ano", explica Santos.



Até o tamanho dos ovos diminuiu neste ano               


             São Paulo - Para ficar mais acessível ao bolso do consumidor, até o ovo de Páscoa neste ano encolheu. Pressão de custos entre 7% e 15%, atrelados ao dólar, como o preço do cacau e do açúcar, entre outras matérias-primas, fizeram as empresas reduzir o tamanho do ovo.

A Chocolates Munik, por exemplo, diminuiu o tamanho dos ovos de chocolate da linha saúde.

O ovo diet da marca e o de cacau 50%, que na Páscoa do ano passado pesavam 200 gramas, foram reduzidos para 130 gramas, conta a gerente comercial e de marketing da empresa, Leila Detício. Com isso, o desembolso do consumidor diminuiu.

No ano passado, o consumidor gastava R$ 39,80 pelo ovo diet e R$ 34,90 pelo de cacau 50%. Neste ano, os preços são de R$ 26 e R$ 23, respectivamente. Ocorre que, o preço por grama foi mantido de um ano para outro, em R$ 0,19 no caso do ovo diet e em R$ 0,17 no ovo de cacau 50%. "Não estamos repassando 15% de aumento de custo de produção por causa da alta do dólar", explica a gerente comercial.

Além de reduzir os tamanhos das versões do ano passado, Leila Detício diz que os três lançamentos da linha saúde deste ano também são menores, variam entre 100 gramas e 130 gramas. "Reduzimos o tamanho dos ovos da linha saúde porque o consumidor desse tipo de produto não é de comer muito chocolate", justifica. Mas também o fato de essa ser uma linha mais cara, feita com chocolate ao leite, também pesou.

No caso do ovo crocante da marca, que é top de linha, o tamanho também encolheu. Ele pesava 470 gramas na Páscoa do ano passado e hoje está sendo fabricado na versão de 410 gramas.

A TopCau é outra fabricante de ovos de Páscoa que trabalha com ovos de menor tamanho, até 250 gramas, porque 60% dos volumes fabricados são de produtos licenciados de personagens infantis, diz a gerente de marketing, Alais Valentini Fonseca. Neste ano, a empresa está produzindo miniovos, de 96 gramas, que representam um desembolso menor para o consumidor. A marca reajustou os ovos em 10%. (AE)


 


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