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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 24-02-2016 - 09:18 -   Notícia original Link para notícia
Gastos de brasileiros no exterior têm queda de 62% em janeiro

Com recessão e alta do dólar, déficit nas contas externas cai a US$ 4,8 bi


- BRASÍLIA- Com a renda corroída pela inflação e pela alta do dólar, além do medo do desemprego, os brasileiros cortaram do orçamento familiar as viagens ao exterior. Segundo dados divulgados nesta terça- feira pelo Banco Central, os gastos com turismo para fora do país caíram 62% em janeiro, para US$ 840 milhões - muito abaixo dos US$ 2,2 bilhões registrados no mesmo mês de 2015. Desde 2009, auge da crise financeira global, os brasileiros não gastavam tão pouco.



- O impacto na conta de viagens internacionais chama a atenção. Tem a questão do câmbio, bem como a atividade econômica, que tem efeitos sobre a renda - comentou o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel.


Ele adiantou que esse quadro deve se repetir este mês. Nos 19 primeiros dias de fevereiro, os turistas brasileiros gastaram US$ 612 milhões no exterior. Já o Brasil ficou barato para os estrangeiros. As receitas com o turismo aumentaram 14% no mês passado. Os viajantes de fora deixaram US$ 650 milhões aqui em janeiro, o melhor desempenho dos últimos três anos. PROJEÇÃO PARA O ANO DEVE CAIR A alta da moeda americana não influencia apenas as viagens, mas todas as contas externas do país. O dólar mais caro faz com que as empresas importem menos e exportem mais. Todo esse processo tem diminuído o rombo nas transações correntes, que chegou a US$ 104 bilhões em 2014, US$ 58,9 bilhões no ano passado e deve encerrar 2016 abaixo de US$ 41 bilhões. Essa era a estimativa do BC no fim do ano passado, que já admite revisar para baixo sua aposta.


Os dados de janeiro reforçam que a expectativa para as contas externas foi superestimada. Segundo o BC, o déficit de todas as trocas de serviços e do comércio do país com o resto do mundo foi de US$ 4,8 bilhões, uma queda de 60% em janeiro na comparação com o mesmo mês do ano passado. É o menor déficit para o mês desde 2009. No fim de janeiro, projetava- se um rombo de US$ 6,7 bilhões.


"Dada a continuidade do intenso ajuste em curso nas contas externas, mantemos nossa perspectiva de continuidade da redução do déficit em conta corrente neste ano", previu o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros.


A redução do déficit das contas externas é o efeito bom da crise. Com dólar em um patamar bem mais elevado, a balança comercial, por exemplo, teve saldo positivo em janeiro de US$ 643 milhões, em comparação a um déficit de US$ 2,9 bilhões no mesmo mês do ano passado. A expectativa de analistas e da equipe econômica é que esses números melhorem ainda mais daqui para frente, à medida que as empresas reconquistem mercados e turbinem suas vendas ao exterior.


Moeda americana cara também inibe gastos com serviços como aluguel de equipamentos no exterior e fretes. Ou seja, a queda da atividade econômica eliminou as despesas que faziam um rombo recorde nas contas externas. INVESTIMENTO DIRETO FORTE E a aceleração desse ajuste deve mostrar que a recessão pode ser mais profunda que o previsto agora. Alberto Ramos, economista- chefe para a América Latina do Goldman Sachs, traça um quadro de piora na situação econômica ( que será agravada pela queda do investimento interno) e, consequentemente, de melhora das contas externas por causa do dólar mais caro. Ressalta, entretanto, que, para o país tirar proveito disso, o governo teria de fazer um ajuste nas contas públicas.


"Acreditamos que um ajuste fiscal profundo, que elevaria a poupança do setor público, é necessário para facilitar um ajuste estrutural permanente da conta corrente", afirmou Ramos em comunicado a clientes.


Fluxos tipicamente mais voláteis das contas externas refletem a crise e a desconfiança em relação ao Brasil. As empresas têm dificuldade para rolar suas dívidas no exterior. A taxa de rolagem no mês passado foi de apenas 17%. Investimentos estrangeiros em renda fixa e em ações de companhias nacionais caíram.


No entanto, mesmo com a recessão econômica, o Brasil continua a receber investimentos do exterior considerados de melhor qualidade. Isso porque o dinheiro se destina ao aumento da capacidade de produção das fábricas. Apesar de estar em crise, o país está barato para os estrangeiros. Por isso, no mês passado, ingressaram no Brasil US$ 5,5 bilhões. É praticamente o mesmo valor registrado em janeiro de 2015.


- Somos um país com mercado robusto. Nesse contexto, é uma oportunidade a médio e longo prazos - disse Maciel.


A economista do Itaú Julia Gottlieb concorda:


- O investimento direto no país tem se mostrado resiliente e segue cobrindo mais do que integralmente o déficit em conta corrente.


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