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Isto é Dinheiro online ( Negócios ) - SP - Brasil - 20-02-2016 - 13:48 -   Notícia original Link para notícia
A desconstrução da Cnova

Com um novo comando, a empresa se prepara para enfrentar um período de queda nas vendas e uma série de processos nos EUA




Novo desafio: Flávio Dias assumiu a Cnova prometendo maior integração com o Pão de Açúcar ( foto: Werther)


O comércio eletrônico brasileiro cresceu 15% no ano passado, movimentando R$ 41,3 bilhões. Diante da queda de 4,3% no varejo em geral, além da estimativa de recuo de mais de 4% da economia brasileira, no mesmo período, pode parecer um número a ser comemorado. A questão é que se trata do menor crescimento registrado para o setor desde 2007, segundo a consultoria E-Bit, especializada em vendas online. O cenário já configura uma crise para as grandes varejistas digitais, em especial para a Cnova, braço e-commerce do grupo francês Casino, que controla o Grupo Pão de Açúcar, maior varejista brasileiro.


Dona dos sites da Casas Bahia e do PontoFrio, a Cnova registrou, em 2015, uma queda de 20% nas vendas no último trimestre do ano, tradicionalmente o período de maior força. Ainda que o seu faturamento tenha crescido 5,1% no ano, para R$ 6,1 bilhões, o recuo no período que deveria registrar o maior avanço representa um sinal de alerta para a companhia. Este, no entanto, está longe de ser o seu maior problema. A descoberta de um esquema fraudulento de desvio de produtos, com o envolvimento de funcionários, que poderia estar acontecendo há três anos, jogou a Cnova em um turbilhão de ações judiciais contra sua gestão nos Estados Unidos, onde a varejista, com sede na Holanda, abriu seu capital, em 2014.


Há, pelo menos, quatro ações coletivas já registradas em uma corte de Nova York, por diferentes escritórios de advocacia. Os processos alegam que a Cnova "falhou em divulgar o fato de que suas operações estavam em acentuado declínio e que sua divisão no Brasil sofria de falta de controle", conforme escreve o advogado Reed Kathrein, sócio do escritório Hagens Berman Sobol Shapiro, de São Francisco, responsável por um dos litígios contra a varejista. As alegações são as mesmas feitas pelos escritórios Block & Leviton, de Boston; Faruqi & Faruqi, de Nova York; e Glancy Prongay & Murray, de Los Angeles.


Para os advogados, especializados em ações coletivas em nome de investidores - Petrobras e Vale, inclusive, são alvos das mesmas firmas -, o que a fraude revelou é um quadro sistemático de divulgações de informações falsas ou superestimadas, que remonta ao IPO da companhia, em 2014. "Informação é a base do mercado de capitais e falhas em divulgá-las corretamente podem acarretar em processos", afirma o advogado brasileiro Hélio Nicoletti, do escritório Chiarottino e Nicoletti. "Em caso de má gestão, os executivos devem responder."


A Cnova, por meio de nota, afirmou que considera as alegações sem nenhum mérito e que vai se defender "vigorosamente" das acusações. A própria companhia reconheceu as fraudes com desvio de produtos, em dezembro do ano passado. Ela comunicou ao mercado perdas de R$ 110 milhões, relacionadas ao fato, e que revisará diversos dados contábeis. Uma investigação está sendo conduzida a mando da empresa. A descoberta do esquema de desvio parece ter iniciado, ainda, uma onda de reestruturações na companhia.


German Quiroga deixou o cargo de CEO, por motivos pessoais, de acordo com a Cnova, dando lugar a Flávio Dias, ex-comandante das operações eletrônicas do Walmart no Brasil. Dias assumiu o posto na segunda-feira 15, prometendo aumentar as sinergias com as lojas físicas do Grupo Pão de Açúcar. Desde que foi criada, a partir da fusão entre a brasileira Nova Pontocom e a francesa Cdiscount, em 2014, a varejista eletrônica vem integrando seus centros de distribuições com os que atendem as lojas físicas da Casas Bahia e do Ponto Frio. Atualmente, três dos sete "CDs" são compartilhados.


Isso permite o incremento de opções de entrega aos clientes, como a possibilidade de comprar na internet e buscar o produto em uma loja, algo que já acontece em 1,3 mil pontos de venda do grupo. "Sabia dos desafios", afirmou Dias, ao jornal O Estado de São Paulo. "Mas sempre gostei da possibilidade de fazer algo grande." Para Jean-Charles Naouri, CEO do Grupo Casino, as dificuldades da Cnova representam um duro golpe. O grupo passa por uma crise financeira e de credibilidade. Em janeiro, sua nota de crédito foi rebaixada pela Standard & Poor's.


"A lucratividade do grupo se manterá fraca por uma período extenso e seus níveis de endividamento, muito altos", afirmou a S&P, em relatório. Um mês antes, a consultoria americana Muddy Watters, classificou a varejista como "a mais superavaliada companhia já analisada". Segundo o fundador da consultoria, Carson Block, o grupo francês utiliza "engenharia financeira" para mascarar "negócios nitidamente em deterioração". Block é um veterano nesse tipo de análise. Em 2011, ele causou prejuízos de mais de meio bilhão de dólares a companhias chinesas, após descobrir números maquiados em seus balanços. No mercado de capitais e na internet, quem tem informação, tem tudo.


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