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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 17-02-2016 - 09:45 -   Notícia original Link para notícia
Varejo tem pior resultado em 14 anos

Vendas caíram 4,3% no ano passado, influenciadas por inflação, desemprego e juros


Uma combinação de inflação e juros altos aliada ao desemprego freou o consumo em 2015 e levou o comércio a fechar o ano com queda 4,3% na vendas, o pior resultado de toda a série histórica da Pesquisa Mensal de Comércio ( PMC), divulgada ontem pelo IBGE, iniciada em 2001. Foi também o primeiro resultado negativo após 11 anos seguidos de crescimento. Em 2014, o setor havia registrado expansão de 2,2%. Mesmo ruim, o número não surpreendeu os varejistas, que observaram perda nas vendas em todas as datas comemorativas ao longo de 2015. E as previsões são de mais perdas este ano, já que a inflação tende a continuar corroendo os salários e a economia do país deve encolher mais um pouco.


MARCOS ALVESNo vermelho. Vendas do comércio fecham em queda, após 11 anos de crescimento. Lojistas apelam aos descontos para tentar atrair consumidor


- O ano de 2015 foi marcado por queda na confiança, pela destruição de 1,5 milhão de vagas de trabalho e quase nenhum brasileiro tem reserva para enfrentar a crise. Isso tudo derrubou as vendas. E 2016 já começou ruim, com mais inflação, puxada por alimentos e bebidas, que afeta diretamente os hipermercados, que seria o único segmento do comércio que poderia ter uma retomada nas vendas. Será um ano difícil novamente - analisa Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio ( CNC). REMÉDIOS SÃO EXCEÇÃO Nem Papai Noel conseguiu ajudar os comerciantes, e as vendas de dezembro caíram 2,7% na comparação com novembro e 7,5% em relação a igual mês do ano anterior.


Bentes estima, no entanto, que, como as projeções mostram que a inflação vai desacelerar e a atividade econômica vai retrair um pouco menos do que em 2015, a queda nas vendas será um pouco menor, de 3,9%:


- Isso, é claro, se o dólar não disparar, o que faria os preços aumentarem e as vendas caírem ainda mais - ressalva.


O assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo ( FecomércioSP) Vitor França também espera queda este ano, entre 3%e 4%, principalmente por causa do aumento do desemprego. Pelas estimativas da entidade, a taxa de desemprego baterá nos 10% no fim de 2016:


- Quando analisamos as condicionantes do comércio, as perspectivas são muito ruins: aumento do desemprego e inflação alta, o que diminui a renda. Enquanto a confiança do consumidor não for reconquistada, esse cenário ruim para o comércio vai perdurar.


O economista da CNC destaca, ainda, que a pesquisa do IBGE mostram uma crise é generalizada. As vendas caíram em 26 das 27 unidades da federação, com destaque para o Amapá (- 12,4%), Paraíba (- 10,3%) e Goiás (- 10,2%). A exceção ficou por conta de Roraima, com avanço de 6,5%. Dos dez ramos de comércio pesquisados, nove registraram perdas e sete tiveram o pior resultado da série histórica. A única exceção foram os produtos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos, que venderam 3% mais no ano passado. O IBGE destacou que, embora o desempenho possa ser atribuído ao caráter essencial dos produtos, o crescimento foi o menor da série histórica.


Já o grupo veículos, motos e peças teve a maior queda, de 17,8%, seguida de móveis e eletrodomésticos (- 14%).


- Os produtos que mais sofrem são os que dependem de renda e crédito - explica Bentes.


E o cenário se mantém. A revendedora Itália Rio Veículos já observa queda de 50% nas vendas nos dois primeiros meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2015, segundo o gerente Sandro Moreira:


- O que está vendendo um pouco mais hoje são os seminovos. Cliente até tem, mas muitos com restrição e nome sujo.


Veículos com três ou quatro anos de uso na faixa de até R$ 25 mil reais e modelos de luxo, com preços acima de R$ 80 mil, lideram as vendas na loja.


- Carros na faixa de R$ 50 mil a gente não consegue vender, mas os modelos mais caros não tiveram queda, porque o consumidor com esse poder aquisitivo não foi afetado pela crise - diz Moreira.


Aldo Gonçalves, presidente do Clube de Diretores Lojistas do Rio ( CDLRio) também não tem expectativas de melhora no cenário. Mas, como a primeira data importante para o comércio, a Páscoa, só ocorre em março, ele prefere adiar qualquer projeção para o ano:


- Temos uma taxa de desemprego alta, o que é mortal para o comércio, uma inflação resistente, que diminui o poder de compra, assim como os juros altos e o clima de incerteza. Há um receio de comprar por parte do consumidor e de investir por parte do empresário. É o pior dos cenários. As perspectivas não são boas para os quatro indicadores que afetam o comércio: desemprego, inflação, juros e confiança. SÓ PREÇOS NÃO RECUAM A queda na demanda, no entanto, não deve refletir em preços mais baixos. De acordo com o presidente do , a alta do dólar continua pressionando os custos dos produtos importados e de componentes importados, principalmente peças de vestuário e eletrônicos:


- Os comerciantes até tentam reduzir os preços, mas há um limite imposto pelo dólar.


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